Fonte: Sinpef/MG
Nosso país vive um processo de redemocratização a partir das últimas décadas. Depois de um passado sob o jugo de várias ditaduras militares ainda estamos aprendendo a ser democráticos, ao mesmo tempo em que tentamos colocar o Estado realmente a serviço da sociedade.
A sociedade vem corretamente exigindo acesso à informação, otimização de recursos públicos e aumento da efetividade da segurança pública, sem que se perca o horizonte de respeito ao cidadão.
No caso da Polícia Federal foram realizadas diversas operações de combate ao crime organizado, nos idos da década passada, em que vários setores nunca dantes ameaçados, como políticos, grandes traficantes, banqueiros e funcionários públicos, repentinamente se viram atingidos pelo braço da lei.
Tais operações foram o fruto de uma evolução funcional da PF, que a partir de 1993 começou a recrutar profissionais para todos os seus cargos obrigatoriamente com curso superior. Compondo equipes investigativas com conhecimentos em áreas diversas, como computação, contabilidade, economia, ciência da informação, direito e administração, foi possível desmontar organizações criminosas extremamente sofisticadas. Analisando documentos, organizando a informação obtida, colhendo digitais, efetuando análises financeiras e fazendo vigilâncias foram sendo criados relatórios de inteligência que conseguiram identificar os crimes cometidos pelos corruptos de plantão, bem como onde estes ocultaram o dinheiro desviado. O resultado disso tudo todos conhecem!
A questão é que apesar destas investigações serem compostas essencialmente por escrivães, agentes, papiloscopistas e também por delegados, somente estes últimos obtem o reconhecimento da sociedade e do governo por todas as ações. Talvez isto se explique porque nossa polícia foi criada em uma ditadura militar com vistas a reprimir aqueles que queriam a volta da democracia, bem como as minorias socialmente marginalizadas. Sob esta lógica a sua estrutura é feita para poucos mandarem e se beneficiarem e para muitos obedecerem em completo silêncio. Nos idos dos regimes autoritários esse modelo era útil, afinal quem desejava policiais que refletissem sobre o que faziam? Imagine um agente de polícia pensando na contradição entre torturar um preso político no pau de arara e/ou construir uma polícia cidadã? Então, naqueles idos era melhor ter uns poucos feitores chefiando a turba de maneira que esta não ficasse descontrolada.
Conforme já abordamos, os tempos passaram, o recrutamento na Polícia Federal passou a exigir formação superior, todavia o modelo de gestão do órgão ainda é o mesmo da ditadura. O Brasil mudou, o DPF não! Quem compõe a minoria que governa (delegados) tem acesso a cursos no exterior, reconhecimento público, remuneração exponencialmente superior e acesso às chefias. Aliás, diga-se de passagem sobre esta última, da atividade investigativa priopriamente dita, chegando à tecnologia da informação, logística, inteligência ou o canil, o chefe será quase que necessariamente um delegado.
Nesse contexto, os outros SETENTA POR CENTO da Polícia Federal que possuem tarefas sofisticadas e desafiadoras, e que expoem suas vidas cotidianamente, sentem-se completamente excluídos das vitórias obtidas pelo orgão, afinal, como se percebe, tem que ser da pequena elite dirigente para que se obtenha qualquer tipo de reconhecimento. Além disso, com este modelo de centralização absurda, o funcionamento das investigações que não estão na mídia demoram anos e anos para serem concluídas, sendo que muitas vezes os inquéritos sejam relatados sem identificar sequer os perpetradores do crime ocorrido. São investigações de papel, em que o resultado é somente um dado estatístico e não prisões feitas e quadrilhas desbaratadas.
É preciso mudar esse quadro!
Mais do que valorizar o conjunto dos servidores da Polícia Federal, precisamos de uma instituição que aproveite plenamente o material humano que possui para combater o crime organizado que campeia por nosso país.
Se o governo federal vem esquecendo a história recente e utilizando cada vez mais as forças armadas brasileiras na esfera da segurança pública, temos que contrapor essa lógica deturpada construindo uma polícia democrática, cidadã e competente e não uma imitação totalitária das organizações militares.
Por uma polícia eficiente, democrática e cidadã!
Reestruturação já!
Comando de greve/MG
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