Fonte: Correio Braziliense
Alimentos, gastos com empregados domésticos e até serviços de manicure. Nada escapou da onda de aumentos registrados nos últimos dois meses. A prévia do IPCA-15 de janeiro chegou a 0,88%, superando estimativas do mercado.
No acumulado de 12 meses, o custo de vida passa de 6%, afastando-se ainda mais da meta do governo. Previsões pessimistas indicam que a inflação pode chegar a 11% este ano, a maior desde 2004
Prévia do índice oficial, o IPCA-15 atinge 0,88%. Quase 74% dos produtos e serviços apontam reajustes
Apesar das reiteradas, promessas do Banco Central de que a inflação está sob controle, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que os preços estão em disparada, e o orçamento das famílias, correndo perigo. A prévia do indicador oficial do custo de vida no país, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15 (IPCA-15), atingiu 0,88% em janeiro, superando a projeção média do mercado, de 0,82%, e o 0,69% de dezembro de 2012. Pior: no acumulado de 12 meses, a taxa cravou alta de 6,02%. Foi a primeira vez, em um ano, que o índice passou de 6%, mostrando que, em vez de convergir para o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, a inflação está caminhando rapidamente para o teto, de 6,5%.
Os especialistas classificados pela presidente Dilma Rousseff de pessimistas alertaram que, quando anualizado, o IPCA-15 de janeiro, de 0,88%, mostra uma inflação de 11%. Desde 2004, não se via um índice projetado para o espaço de um ano acima de dois dígitos. Mas não é só. Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, 73,7% dos preços estão em alta. Foi a primeira vez, desde junho de 2008, que o indicador de difusão, como classificam os analistas, rompeu os 70%. Como não vê um movimento de recuo nesse processo de disseminação de reajustes, ele aposta que o IPCA fechado deste mês poderá cravar 1%.
“Qualquer que seja o ângulo para que se olhe, o resultado do IPCA-15 foi muito ruim”, destacou Leal. “Portanto, não podemos ser otimistas com o resultado final da inflação de janeiro, que deverá ficar entre 0,95% e 1%, o que levará a taxa acumulada em 12 meses para algo entre 6,25% e 6,30%”, emendou. Ele reconheceu, porém, que o BC já havia advertido que a alta do custo de vida seria mais forte a curto prazo. O problema é que ninguém acredita que o IPCA cederá na velocidade esperada pela autoridade monetária, que aposta em inflação de 4,8% em 2013. O descrédito no BC só faz aumentar.
Em Davos, na Suíça, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que não há porque o mercado desconfiar do compromisso da instituição de levar a inflação para a meta até o fim deste ano. Ele garantiu que o governo não abandonou os instrumentos tradicionais para manter os preços nos eixos. “O Banco Central está vigilante e vai fazer o que tiver de fazer para controlar a inflação no Brasil, como foi o caso nos últimos nove anos”, prometeu. “Podemos fazer melhor, queremos fazer e vamos fazer”, garantiu. Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgará a ata de sua reunião na semana passada, na qual manteve a taxa básica de juros (Selic) em 7,25% ao ano. Há o temor de que o BC reforce, no documento, a temida leniência à inflação.
A inflação de serviços também superou as expectativas dos analistas e registrou 1,06% em janeiro, o pior desempenho para um mês desde 1997 (excluindo fevereiro por conta das mensalidades escolares e, por isso, considerado um ponto fora da curva). Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, classificou de assombroso o aumento do IPCA-15 do mês. “O 0,88% só reforça a percepção de que a inflação está cada vez pior”, declarou. “Além dessas surpresas negativas, alguns itens chamaram a atenção, sendo que nenhum deles representa uma boa notícia para o BC. Os automóveis novos já começaram a mostrar o impacto do fim da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)”, ponderou Leal. O grupo transportes, com o término do benefício, apresentou elevação de 0,68% em janeiro.
Intervenção
Não fosse a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, terem feito uma intervenção e conseguido com os governos de São Paulo e Rio de Janeiro o adiamento dos reajustes das tarifas de ônibus e metrô, o IPCA-15 teria apresentado elevação ainda mais pesada. “A dinâmica dos preços atuais tem sido impulsionada por problemas estruturais. Por isso esperamos que a inflação siga elevada por um bom período”, avaliou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank.
Comments are closed.