Fonte: A Gazeta
A falta de agentes e de estrutura da Polícia Federal refletem diretamente no combate a vários crimes em Mato Grosso. Exemplo disso é a redução na realização das operações nos últimos anos. A situação é tão grave que o prédio onde funciona a Superintendência da PF, localizado na avenida Historiador Rubens de Mendonca (avenida do CPA), em Cuiabá, não tem sequer alvará contra incêndio e pânico. Segundo o Sindicato dos Policiais Federais do Estado (Sinpef-MT), já existe um estudo em andamento sobre a possibilidade de se dividir os servidores em dois turnos para diminuir a carga elétrica na edificação e evitar um incêndio. Um dos elevadores do local chegou a ser interditado para evitar futuros problemas.
Balanço divulgado pelo Departamento da Polícia Federal de Brasília destaca que o número de ações deflagradas pela PF em Mato Grosso apresentou redução de 83%. Os dados são referentes aos meses de janeiro a junho de 2012 e 2013 e revelam que enquanto no ano passado os agentes federais realizaram seis operações durante o período especificado, este ano foi apenas uma ação em abril, a chamada operação “Comboio”, que atuou na desarticulação de uma organização criminosa especializada no tráfico de entorpecentes adquiridos na Bolívia.
Segundo o presidente do Sindpef-MT, Erlon José Brandão de Souza, além do número reduzido de profissionais, o repasse financeiro para Mato Grosso também apresentou redução. “O que se percebe é que sempre que há a necessidade de serem feitos cortes de gastos, os gestores federais acabam retirando os valores da segurança pública. Isso acaba refletindo no trabalho dos agentes de segurança”.
No que diz respeito a atual situação do prédio da PF na capital, Souza informa ainda que o local não conta com saídas de emergência do lado externo. A edificação possui 8 andares e é atualmente o local de trabalho de delegados, agentes, papilocopistas, escrivães e demais funcionários que atuam no setor administrativo. “Qualquer pessoa que hoje adentrar a unidade pode perceber fios expostos, queda de energia e demais problemas que interferem no trabalho e, principalmente, na segurança dos funcionários”.
A quantidade de profissionais federais atuando em Mato Grosso também é outro problema. Atualmente, o Estado conta com 330 servidores da PF para atuar na sede da superintendência e outras 4 delegacias, localizadas em Rondonópolis, Sinop, Barra do Garças e Cáceres. De acordo com o presidente do Sinpef, o efetivo total da Polícia Federal no Estado deveria estar empregado somente na região que compreende a divisa com a Bolívia, que contém cerca de 980 quilômetros de fronteira seca. “A delegacia de Cáceres conta, atualmente, com 50 policiais federais que desenvolvem atividades em cinco setores diferentes. O fato é que para fiscalizar a fronteira com apenas este efetivo, os profissionais precisariam trabalhar 24 horas por dia”.
Souza destacou que em estudo realizado em 1985 já se mostrava a necessidade de um efetivo maior para a Polícia Federal no país. “Na época constatou-se que seriam necessários pelo menos 15 mil homens para atuar em âmbito nacional. Hoje, em 2013, o efetivo total da PF no país é de 12 mil pessoas. Acredito que a falta de investimento na área é uma forma dos gestores públicos inibirem a ação da Polícia Federal no país”.
O déficit estrutural também é outro problema verificado em Mato Grosso. Armamento letal e não letal, e coletes à prova de bala são apenas algumas das demandas classificadas como urgentes pela classe, assim como a realização de treinamentos. “Não adianta o policial ter um equipamento de boa qualidade se não existir treinamento para tal”.
A ausência de aeronaves também é outro fator apontado pelo sindicato. “Hoje não temos problemas com viaturas, mas um equipamento como este (aeronave) deveria estar sendo operado em Mato Grosso, principalmente, na região de fronteira. Com toda certeza, auxiliaria no trabalho desenvolvido pelos agentes federais que atualmente atuam no local”.
Na tarde de ontem (16), servidores realizaram a “Marcha pela Reforma da Polícia Federal”, em Brasília. A principal reivindicação foi a reestruturação da carreira de profissionais que atuam como agentes, papilocopistas e escrivães. O ato aconteceu em Brasília e contou com a participação de profissionais de todo o país. Segundo o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Jones Borges Leal, a categoria ganhou caráter de nível superior em 1996, mas até o momento não existe um plano de carreira.
Outro lado
Até o fechamento, a reportagem não conseguiu contato com a Superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso.
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