Fonte: Valor Econômico
Em balanço dos protestos de junho contra a tarifa e diante do ato de ontem à noite que terminou em conflito entre manifestantes e policiais, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que a polícia parecia despreparada para lidar com as manifestações em junho e que é preciso construir novos protocolos para lidar com os atos. “Como os protocolos foram colocados em xeque, precisamos rever as regras, como, por exemplo, a não obstrução da avenida Paulista e de grandes artérias da cidade. Havia um respeito a esses protocolos que tinham sido informalmente pactuados”, disse.
Para Haddad, as forças de segurança de todo país precisam pensar novas estratégias para lidar com esses movimentos. “Isso vai exigir esforço de reflexão porque os métodos tradicionais estão se mostrando inadequados, ineficientes e algumas vezes até impróprios”, afirmou o prefeito, depois de participar de sabatina do jornal “Folha de S. Paulo”.
Durante a entrevista, o petista criticou a atuação da polícia nos protestos de junho, principalmente quando a prefeitura foi cercada por manifestantes, que depredaram e tentaram invadir o prédio antes de começarem a saquear as lojas ao redor. “A situação chegou a ponto de o prédio da prefeitura estar ameaçado. Como você sabe, a Polícia Militar demorou mais de duas horas para chegar ao local, e portanto a cidade vivia clima de insegurança.”
Momentos depois, o prefeito voltou a criticar a PM ao explicar porque aceitou revogar o aumento da tarifa de ônibus de R$ 3,20 para R$ 3. “Na véspera tivemos a perda completa de controle. A cidade estava sem controle nenhum, sem comando do ponto de vista da segurança. Por muito pouco não perdemos dois prédios históricos da cidade, o da prefeitura e o teatro municipal, sem expectativa de que aqueles equipamentos seriam defendidos pela polícia”, disse.
Em entrevista à imprensa depois da sabatina, Haddad não quis, porém, responsabilizar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela falta de ação da PM, que é controlada pelo tucano. “Pelo contrário. Foi na comunicação que tive naquela noite diretamente com o governador que conseguimos superar aquela situação. O governador teve pronto atendimento ao meu pedido”, disse. E emendou: “Veja bem, vocês querem colocar coisas na minha boca. Foram os jornais que disseram que a polícia demorou duas horas para agir.”
Para Haddad, os protestos mostraram que é preciso rever o pacto federativo, porque Estados e municípios ficaram sem capacidade de responder aos anseios da população e cobrou que o PT dê mais atenção à qualidade dos serviços públicos: “O PT sempre se preocupou, corretamente, em organizar os trabalhadores, mas nem sempre demos atenção devida aos direitos dos usuários dos serviços públicos, e agora devemos avançar nessa questão.”
O petista apontou, entretanto, uma dificuldade para modificar a lógica do sistema de transporte público: a falta de concorrência. Segundo Haddad, a concentração no setor começa desde a produção dos ônibus municipais. “Têm duas ou três empresas que produzem carroceria. Têm menos ainda que produzem chassi. É um modelo muito oligopolizado já na produção.” Isso dificultaria a entrada de novas empresas no mercado. “Quem é que tem mil, 2 mil ou 5 mil ônibus ociosos para entrar no jogo agora e disputar uma licitação como a de São Paulo.”
O prefeito não quis antecipar o cenário eleitoral e disse não se preocupar com pesquisas, mas indicou que, na sua opinião, o ex-governador José Serra (PSDB), que ele derrotou na eleição em 2012, será candidato em 2014, embora o petista não arrisque a qual cargo nem por qual partido. “Qual razão ele teria para não ser candidato?”
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