Fonte: O Globo
Principal parceira do governo do estado no processo de pacificação das favelas e no combate ao crime organizado, a Polícia Federal apertou o cinto e passou a cortar despesas este ano, prejudicando ações contra o tráfico de drogas, o contrabando de armas e a corrupção. E o motivo parece estar nos cortes no orçamento do governo federal: eles atingiram a instituição este mês, como revelam documentos repassados, com carimbo de “urgente”, há quatro dias pelo comando da Superintendência da PF no Rio às delegacias, aos setores e aos postos no estado.
Com orçamento apertado, a ordem é economizar. Está sendo racionado até mesmo o uso de aparelhos de ar-condicionado, que agora têm hora para ser ligados e desligados. Os memorandos internos passaram a ser distribuídos no último dia 20 aos delegados federais: os textos informam que eles deverão cumprir cotas de combustível, economizar luz e explicar qualquer deslocamento intermunicipal. Telefonemas e até o uso de material de escritório passaram a ser controlados.
A manutenção dos veículos também passou a ter cota. Para todo o estado (sede no Rio e seis delegacias no interior), o valor máximo mensal para o serviço passou a ser de cerca de R$ 37 mil. Procurada no Rio e em Brasília, a PF não retornou o contato para explicar o racionamento.
Um corte de cerca de R$ 275 milhões no orçamento do Ministério da Justiça foi a justificativa apresentada, em memorando pela Polícia Federal do Rio, para determinar o racionamento nos gastos no estado. A medida foi determinada pelo governo federal no decreto 8.062 de 29 de julho deste ano, que alterou o de número 9.995 de 2 de maio e que estabeleceu o cronograma mensal de desembolsos da União para 2013.
Segundo informou nesta sexta-feira a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), há grande preocupação com a política de segurança pública do governo federal. Em nota, a entidade lembrou que os “indicadores analisados pelos sindicatos apontam que, após as grandes operações anticorrupção da última década, ocorreu uma mudança na forma com que o governo tratava a Polícia Federal e se iniciou um processo gradativo de congelamento operacional do órgão”. A Fenapef tem criticado sistematicamente a atuação da direção geral da PF no país.
O diretor de Comunicação da Fenapef, Renato Deslandes, afirmou que nos últimos dias o governo reforçou o corte de investimentos na estrutura do Poder Executivo. Ele acredita “que tais medidas serão sentidas na logística da Polícia Federal”.
— O essencial para as investigações é o servidor, no caso o investigador, cuja carreira tem sido sucateada nos últimos anos pelo governo Dilma — disse Deslandes.
Segundo ele, “é mais preocupante ainda perceber que, nos anos anteriores, o orçamento destinado para a segurança pública através dos programas do governo não tem sido aplicado pelo Ministério da Justiça, justamente numa época em que a criminalidade assusta a população”.
Êxodo de 250 agentes/ano
De acordo com dados oficiais do Ministério do Planejamento, segundo pesquisa realizada pela Fenapef, mais de 250 agentes federais deixam a PF anualmente, em busca de carreiras mais valorizadas pelo governo. E, segundo outra pesquisa realizada na base de servidores, mais de 85% dos policiais federais se sentem infelizes no trabalho, e 30% já se submetem a algum tipo de tratamento psiquiátrico ou psicológico por conta de um ambiente de trabalho com impactos negativos na saúde dos servidores.
Para o delegado Márcio Derenne, diretor da Associação dos Delegados Federais da PF no Rio, os efeitos dos cortes no orçamento do governo federal estão sendo observados nas viagens intermunicipais.
— Agora, para você ir até Petrópolis numa missão, precisa demonstrar a necessidade. Conversei com outros delegados chefes de delegacias e foi a única modificação no dia a dia operacional que ouvi até agora. Pelo que fui informado pela direção da Superintendência no Rio, o contingenciamento é para garantir o cumprimento do orçamento deste ano — afirmou.
Derenne observou que a falta de valorização dos servidores, sejam delegados ou agentes federais, vem deixando a categoria insatisfeita, pois o salário é corroído ano a ano pela inflação e pelo aumento do custo de vida.
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