Fonte: FolhaPress
Uma pesquisa divulgada hoje pela Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), que ouviu 1.732 policiais federais no país, apontou que 89,37% dos entrevistados disseram existir “controle político das investigações da Polícia Federal”. Apenas 10,6% disseram não haver esse controle.
Segundo a federação, a pesquisa é um “alerta sobre as interferências políticas nas investigações da PF”.
Os resultados indicam que é alta a percepção de que há fatores políticos externos atingindo a investigação policial. Ao ouvirem a pergunta sobre se “no ambiente de trabalho, já presenciou ou ouviu algum relato sobre interferências no trabalho investigativo feito pelos policiais federais”, 75,2% dos entrevistados disseram que sim, enquanto 24,7% responderam que não.
O trabalho do atual diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, nomeado pela presidente Dilma Rousseff em 2011, foi duramente avaliado pelos entrevistados. Nada menos que 69% disseram que sua gestão é “péssima” e outros 21,8% afirmaram que ela é ruim. Apenas 0,9% disseram que ela é “boa” e 0,06% a consideraram “ótima”. No universo de 1.732 entrevistados, a última resposta partiu de um único policial federal.
Os policiais federais ouvidos na pesquisa sugerem que esse quadro de desalento tem relação com investigações feitas pela PF nos últimos anos na área de combate à corrupção. Em resposta à pergunta que abordou “falta de investimento nos últimos anos na PF”, a imensa maioria, ou 94,3%, disse que é “um castigo pelas investigações sobre corrupção”.
Outros 97% disseram que “o congelamento” dos salários dos policiais federais dos últimos quatro anos “é proposital”.
Uma das perguntas elaboradas pela federação diz que há “queda de produtividade, falhas dos gestores despreparados e desperdício de recursos públicos na Polícia Federal”. Sobre esse quadro apresentado pelo entrevistador, um total de 96% disse que ele “não preocupa o governo”.
A Fenapef disse que a margem de erro é de pontos percentuais e explicou a metodologia da pesquisa: “A federação utilizou um sistema extremamente confiável, baseado no envio de mensagens eletrônicas individualizadas e criptografadas e foram consultadas três categorias de policiais federais: agentes, escrivães e papiloscopistas (peritos em impressões digitais), cargos essenciais em análises, ações de inteligência e estruturação das grandes operações do órgão”.
Ou seja, a pesquisa não incluiu delegados da PF. Uma antiga reivindicação dos agentes da PF é a criação de instrumentos legais que possam “blindar” a instituição de pressões políticas externas. Uma das formas sugeridas é a mudança na escolha do diretor-geral da PF, hoje nomeado pelo ministro da Justiça, o que o torna em tese mais suscetível a pressões do Executivo. Sindicalistas sugerem criação de uma lista tríplice antes da escolha, a exemplo do que ocorre na PGR (Procuradoria Geral da República), e um mandato de dois anos para o diretor-geral da PF.
Os sindicalistas também defendem listas tríplices para a escolha dos superintendentes regionais da PF, cargos de enorme poder no dia a dia das investigações.
De acordo com texto distribuído à imprensa pela Fenapef, “os dados incontestáveis como fonte estatística causam extrema preocupação quanto aos limites de subordinação administrativa e possibilidade de intervenção em órgãos que podem investigar o próprio Estado”.
A direção-geral da PF foi procurada pela reportagem para eventuais comentários. O órgão poderá se manifestar nas próximas horas.
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