Fonte: Correio Braziliense
Em visita à Suécia, diante de uma pergunta embaraçosa — como um Nobel da Paz, ao arrepio da ONU, justificaria uma ação militar contra a Síria? —, o presidente Barack Obama afirmou que insistiu na democracia. “Mas o regime de Assad violou regras da humanidade.” Os EUA dizem ter provas de que o exército sírio usou armas químicas em ataque no qual matou 1.429 pessoas, incluindo 426 crianças, em subúrbio dominado pela oposição em Damasco. A comunidade internacional, afirmou Obama, não pode ficar calada diante dessa barbárie. Ontem, ele conseguiu o sinal verde da Comissão de Relações Exteriores do Senado para ir à guerra. Porém em votação apertada: 10 votos a 7. E com limitações: a ofensiva não deve durar mais de 90 dias nem pode haver operações por terra. Agora, a resolução precisa ser aprovada por senadores e também por deputados, em plenário.
Em uma votação apertada, a Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano aprovou, por 10 votos a sete, uma resolução que autoriza uma intervenção militar na Síria, em resposta ao uso de armas químicas por parte do regime de Bashar al-Assad. O documento limita a duração da ofensiva em 60 dias, prorrogáveis por mais 30, sem a mobilização de tropas. A resolução — redigida na noite de terça-feira pelos senadores Bob Menendez (democrata) e Bob Corker (republicano) —precisa passar pela avaliação de todos os membros do Senado. A votação no plenário deve ocorrer na segunda-feira. De acordo com o jornal The New York Times, a Câmara dos Deputados trabalha em um texto similar. O presidente Barack Obama e sua equipe pressionaram os congressistas a avaliarem o caso com agilidade, sob a alegação de que a segurança nacional e a credibilidade internacional dos EUA estariam em jogo. Em visita oficial à Suécia, Obama reiterou que a comunidade internacional “não pode ficar calada” diante de “tal barbárie”. “Não responder a esse ataque só aumentaria o risco de mais ataques e a possibilidade de que outros países usem essas armas”, declarou.
O presidente afirmou que o risco de o Congresso não aprovar a intervenção ameaçaria a credibilidade dos EUA e de seu Legislativo, pois daria a entender que “normas internacionais não são importantes”. Segundo Obama, o mundo — e não os Estados Unidos — estabeleceu a linha vermelha que teria sido cruzada por Al-Assad após o bombardeio químico de 21 de agosto contra o subúrbio de Damasco. Apesar de a resolução ter sito aprovada pela Comissão do Senado, legisladores apresentaram dúvidas sobre os termos da ofensiva. O republicano John McCain, que defende uma operação mais ampla na Síria, manifestou insatisfação com limitações do texto. “Enquanto Al-Assad não se der conta de que vai perder, será impossível negociar com ele um acordo pacífico, ou sua saída do poder”, declarou.
Objeções
De acordo com a agência Reuters, algumas das objeções feitas por McCain foram adotadas pela comissão, como a definição do objetivo de degradar a capacidade do regime sírio de lançar gases tóxicos contra a população, o aumento do apoio às forças rebeldes e a criação de condições para que Al-Assad seja retirado do poder. “Minha emenda pedindo por um momento de mudança no campo de batalha na Síria foi aprovado por voto verbal”, comemorou McCain, em sua página no microblog Twitter.
Na avaliação de James Goldgeier, professor de relações internacionais da American University, o resultado do debate na Comissão do Senado é apenas um primeiro passo em favor de Obama. “O importante é que a resolução foi aprovada e é disso que o presidente precisa. Ele conseguiu votos tanto de democratas quanto de republicanos, mas o Congresso é muito dividido nessa questão”, disse ao Correio. “Esse tipo de ação manda um sinal ao regime sírio de que os EUA não toleram o uso de armas químicas. É uma operação limitada e com objetivos restritos. Mas a pergunta mais importante é o que acontece depois. Os bombardeios não mudam a situação no país.”
O secretário de Estado, John Kerry, e o secretário da Defesa, Chuck Hagel, participaram de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, onde os republicanos são maioria e parecem não estar dispostos a apoiar Obama. Hagel informou aos deputados que uma ação limitada custaria “dezenas de milhões” de dólares, e Kerry tentou convencer os representantes de que o ataque é necessário. “Enquanto discutimos, o mundo nos observa, e o mundo não se pergunta se Al-Assad fez isso (usar armas químicas em civis), isso é um fato comprovado. O mundo se pergunta se os EUA consentirão, com seu silêncio, e deixarão que esse tipo de brutalidade ocorra sem consequências.”
Em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, aliado de al-Assad, considerou apoiar uma intervenção, caso o uso de armas químicas pelo regime sírio fique comprovado pelos inspetores da ONU. “Se existem provas de que armas químicas foram usadas pelo Exército, essas provas devem ser apresentadas ao Conselho de Segurança da ONU. E têm que ser convincentes”, declarou.
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