Fonte: Sinpofac – Sindicato dos Policiais Federais do Acre
“O Policial é por natureza um promotor da cidadania. Pois, todo cidadão precisa saber a quem recorrer em seus momentos de aflição; que existe um agente que irá trabalhar por seus interesses legítimos e que intercederá por ele nos momentos de injusta agressão. Esse agente é o Policial.”
(Franklin Albuquerque – Presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Estado do Acre).
O Policial pela natural posição social que a profissão lhe impõe, precisa cercar-se de uma série de precauções, em relação a sua segurança particular e de seus familiares, ainda maior do que o cidadão comum. O agente de segurança, por exemplo, não pode permitir ser surpreendido em um assalto em uma loja de conveniência, em um sinal de trânsito ou em uma casa lotérica e ter sua identidade profissional revelada. O preço para isso, na maioria dos casos registrados, é a execução sumária. Em quanto um cidadão comum corre o risco de ser assassinado porque reagiu ao assalto ou pela inexperiência ou crueldade de seu algoz, aquele que for surpreendido com um agente de segurança, seja ele um Policial Federal ou Civil, Policial Militar, Agente Penitenciário ou até mesmo Vigilante, possivelmente perderá sua vida unicamente por exercer uma das mencionadas profissões.
Deste cenário, reforça-se a necessidade básica de se oferecer aos agentes que trabalham para promover a segurança dos cidadãos, um salário digno e capaz de subsidiar um padrão de vida, que não precisa ser luxuoso, mas permita, aos policias, residirem em bairros com menores índices de violência, matricularem seus filhos em escolas que não tenham influência do tráfico e consumo de drogas, frequentar lugares que apresente sistemas de segurança mais eficazes.
Destarte a necessidade da proteção redobrada aos policias em seu dia-a-dia, a preocupação quanto à integridade física no exercício da profissão, por motivos óbvios, deve ser redobradas. Existe uma máxima popular entre os agentes policias que resume, em português comum, algumas posturas que os órgãos de segurança precisam massificar de forma incorrigível em suas investidas policiais, sobretudo nos casos que envolvam mais riscos. Nas abordagens e operações, a polícia deve apresentar-se com expressiva superioridade de inteligência, quantitativa, poder de fogo, de equipamento e de qualificação. E de tal máxima, podemos inferir, que:
a. Inteligência – conhecimento sobre o perfil dos facínoras e o grau de periculosidade que apresentam, a ação criminosa que pretendem executar e as armas e demais equipamentos que os mesmo possuem;
b. Quantitativa – o número de policiais devem ser sempre maior para proporcionar uma estratégia de cerco e abordagem mais segura e eficaz;
c. Poder de fogo – a vantagem bélica é imperiosa não só para provocar uma intimidação inicial, mas também para, em um eventual conflito, garantir ao policias o poder combativo necessário;
d. Equipamento – viaturas modernas e em plena capacidade, coletes balísticos dentro do prazo de validade, armas de efeito moral, miras e binóculos noturnos, são exemplo de materiais que podem significar resultados substancialmente diferenciados;
e. Qualificação – Snipers (atiradores de elite), grupos antibombas, policias especializados em negociação com sequestradores ou em conflitos envolvendo multidões, entre outras qualificações específicas são essenciais para o sucesso de determinas operações.
Mas afinal, será que nossos principais órgãos de segurança estão atentos para tal “princípio básico” de segurança?
A Polícia Federal, órgão que figura como uma das instituições públicas que detêm grande respeito e confiança pela sociedade brasileira, vem sofrendo perdas em combates que, a primeira vista, fazem saltar aos olhos a falta de estrutura e planejamento que acabam por proporcionar tragédias que, em tese, poderiam ser evitadas.
No final da manhã do dia 11 de outubro de 2013 (sexta-feira), o agente de polícia federal Adécimo, de 56 anos, que ingressou na Polícia Federal em 1984, morreu e outro se feriu sem gravidade após um acidente por volta do meio-dia desta, na BR-386, na altura do município de Triunfo, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os dois agentes perseguiam um veículo que transportava drogas em direção ao interior do estado, quando o motorista perdeu o controle da caminhonete que conduzia e capotou após receber uma colisão pelo carro do suspeito.
Na noite do dia 25 de setembro de 2013 (quarta-feira), num tiroteio com suspeitos em Bocaina/SP, a 311 km da capital, durante uma operação contra o narcotráfico na região, o agente de Polícia Federal Fábio Ricardo Paiva Luciano, de 40 anos, foi alvejado no peito com um tiro de fuzil, chegou a ser socorrido, mas morreu na Santa Casa de Jaú (município vizinho).
Na madrugada do dia 17 de novembro de 2010 (quarta-feira), durante operação policial no Rio Solimões, no município de Anori, a 200 km de Manaus/AM, os agentes da Polícia Federal Leonardo Matzunaga Yamaguti, de 26 anos, e Mauro Lobo, de 43 anos, morreram durante troca de tiros com traficantes.
Nas quatro mortes trágicas dos casos acima mencionados, que já nos apresentam um índice de pelo menos uma morte em combate por ano – fontes asseguram que esse índice é muito maior – é ululantes o fato de que os policias envolvidos nas operações não estavam em superioridade, pelo menos nos termos quantitativo, poder de fogo, equipamento e qualificação.
No primeiro, uma única viatura realizava a perseguição e capotou inclusive após uma colisão com a camionete perseguida. Nos demais casos, a suposição de má gestão na condução da operação se agrava com a suspeita de que os chefes responsáveis tinham conhecimento do poder de fogo dos traficantes e nada fizeram para reforçar as equipes.
O Sindicato dos Policiais Federais de São Paulo (SINDPOLF/SP) denunciou que o delegado, chefe daquele Estado, teria conhecimento de que os traficantes envolvidos no caso que ceifou a vida do agente Federal Fábio Paiva, em Bocaina, já tinham prometido assassinar policiais federais em represália aos prejuízos que as apreensões da PF estavam dando à quadrilha. Inclusive, o mesmo delegado teria sido orientado a postergar a operação em virtude da falta de equipamento adequando para operações de risco a noite, mais não o fez. O sindicato denuncia, ainda, que solicitações de curso de operador de fuzil, bem como equipamentos de visão noturna e armamentos teriam sido solicitados para uso de policiais daquele Estado e negados pelos órgãos centrais que administra a Polícia Federal em Brasília. Na oportunidade, foram apreendidas armas de diversos calibres, incluindo fuzis ponto 50, de uso exclusivo das Forças Armadas. O delegado responsável da PF classificou como “insatisfatório” o resultado da ação.
Na tragédia ocorrida no rio amazônico, que interrompeu uma longa e brilhante carreira policial, bem como impediu um policial com menos de um ano de formado de construir a sua história na PF, houve, mais uma vez, uma séria de negligências quanto à estrutura e ao poder de fogo necessário para evitar a perda de mais vidas. Homens fortemente armados estavam em outra embarcação dando cobertura aos traficantes e abriram fogo contra os policiais; a Federação Nacional dos Policias Federais (FENAPEF) informou que os barcos à disposição dos policiais federais para combate ao tráfico nos rios são “inapropriados” por não serem blindados e os motores não terem potência suficiente para concorrer com as modernas embarcações dos criminosos. O delegado, que à época figurava como Superintendente da Polícia Federal no Estado do Amazonas, disse acreditar que os agentes foram mortos com tiros de fuzil russo AK 47 e Galil de fabricação israelense e concluiu dizendo que ficou “surpreso” com reação dos traficantes.
Surpresa ou indignação, qual o sentimento mais adequado?
Em todos os casos citados, a “surpresa” é um elemento comum e determinante para a morte de polícias no exercício do combate a criminalidade, bem como, esta mesma “surpresa” pauta o discurso dos gestores responsáveis que parecem achar que estão brincando de “polícia e ladrão” e mostram-se pasmos diante de mortes que, poderíamos até concluir que foram anunciadas.
Em que pese o risco inerente à atividade, morrer em combate não é um consequência inerente ao laboro policial. Aliais, não consta no rol de atribuição dos editais de seleção para carreira policial algo do tipo: “morrer em combate”.
Entretanto, dadas as características periclitantes inseparáveis do ofício policial, a má gestão decorrida da falta de experiência e da capacitação para chefiar equipes policiais, sobretudo as que trabalham no combate a ramos da criminalidade dos mais perigosos, como é o caso do tráfico de drogas, podem sim se tornar inevitável que tragédias como essas continuem a acontecer. Casos as suspeitas de inércia por partes das chefias (in)responsáveis realmente se confirmem, fica evidente a culpa de quem, na posição de gestor, deveria ou ter providos os policias das informações e equipamentos necessários para sua segurança e sucesso das operações ou deveria ter retardado as ações para uma ocasião mais oportuna, mas, jamais encaminhar os policiais para uma missão com predicados suicidas.
Uma análise objetiva, mesmo que superficial, aponta para o fato de não haver surpresa alguma no desenrolar dessas operações, haja vista a imensa superioridade de armamento que os bandidos dispunham em relação aos policias. Inclusive, um policial que trabalha na área de combate ao narcotráfico, e que não quis se identificar, informou que no meio da criminalidade, os policias federais são conhecidos como “pistolinha”, por só disporem, em regra, de uma pistola simples para entrarem em combate.
Dito isso, o sentimento esperado não deveria ser o de “surpresa” e sim o indignação ou revolta, ou até mesmo, o de repulsa, pelo descaso que está havendo para com aqueles que se colocam em risco para defender a vida de todos os brasileiros e brasileiras, inclusive em seus momentos de folga e intimidade particular. Ora, se o Estado Brasileiro não se ocupa da segurança de seus agentes durante as operações mais criticas, o que podemos esperar dele nos momentos de descanso.
Relatos como esses dão conta que as políticas de gestão das polícias brasileira precisam ser reformuladas, mesmo que para isso sejam quebrados paradigmas. É inadmissível que em um País que pretende ser justo e que vive sob as reges de uma Constituição que garante um Estado Social, vidas sejam perdidas e os que puderam evitar e não o fizeram (para não dizer que deram causa com suas negligências) não sejam responsabilizados de alguma forma.
Enquanto os gestores se dizem “surpresos” os policias de verdade “engolem” um sentimento de indignação e se perguntam: quem garantirá a segurança dos policiais?
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