Fonte: O Povo do Rio
A Polícia Federal atravessa uma crise interna que está refletindo em seu desempenho. De um lado, agentes, escrivães e papiloscopistas que reclamam da falta de reconhecimento por parte do governo federal com a categoria; do outro, os delegados, que, sem a mão de obra intelectual e de ação dos três primeiros, veem seus trabalhos de investigação prejudicados. Resultado: a instituição está praticamente estagnada em todo o Brasil. O diretor de Seguridade Social da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), o agente Marcus Firme dos Reis, explica como é feito o trabalho de investigação.
“O governo esquece que, a partir da Constituição Federal de 1988, a Polícia Federal passou a ter diversas outras atribuições, como o controle de armas e de agentes químicos. A lei de 1996 passou a exigir que todos os candidatos a cargos na Polícia Federal tenham nível superior completo, o que é um ganho para a instituição e à sociedade. Aqui mesmo no Espírito Santo temos um agente com mestrado em Física e logo ele terá doutorado. O conhecimento que tem na área ele dá ao povo brasileiro, por meio de seu trabalho na Polícia Federal. Mas o trabalho dele e de todos os colegas não é reconhecido pelo governo federal”, disse MarcusFirme.
A Fenapef analisou dados oficiais do Ministério do Planejamento e Gestão (MPOG), através da análise detalhada dos boletins estatísticos de pessoal, emitidos mensalmente pelo governo federal. Diante das centenas de relatos de chefes incompetentes, falta de reconhecimento, desmotivação, estresse, depressão, assédio moral, perseguições e o excessivo número de licenças para tratamentos de doenças psíquicas, a pesquisa buscou avaliar números oficiais que demonstrem a repercussão desse caos organizacional na evasão de servidores.
Através dos dados oficiais do MPOG, é lamentável constatar que nos últimos anos, a cada mês, praticamente dez policiais dos cargos de agente, escrivão e papiloscopista abandonam a carreira à procura de melhores condições de trabalho. De acordo com a análise, “é impressionante constatar que anualmente mais de 100 agentes de Polícia Federal desistem de continuar num órgão onde lhes é negada a possibilidade de crescimento profissional. Afinal, para que angariar a experiência de 15 ou 20 anos de combate ao crime se suas ações serão planejadas e chefiadas por um servidor geralmente inexperiente, de um outro cargo, com perfil profissional burocrático, que boicotará suas expectativas, pois acha que concorre com seus subordinados por poder político e status salarial?”
Na última quarta-feira presidentes de sindicatos dos policiais federais de todo o país se reuniram em Brasília, e foi aprovado o indicativo nacional de greve para a categoria dos agentes federais, que compreende mais de nove mil servidores, somados os agentes e escrivães de polícia, e também os papiloscopistas policiais.
O calendário de paralisações será gradativo e já está sendo planejado o direcionamento político de todos os atos públicos. Já estão sendo elaboradas campanhas de denúncias que apontarão o descaso e falhas gerenciais nas políticas federais relacionadas à segurança pública, e seus efeitos para o aumento da violência e criminalidade em todo o país.
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