Fonte: Correio Braziliense
O corpo mole feito por policiais militares no atendimento das ocorrências tem levado a violência à porta da casa dos brasilienses. O clima de insegurança aumenta a cada nova ocorrência registrada na cidade. Em cinco horas, pelo menos cinco pessoas foram assassinadas na capital federal (leia Crimes em série). O número de mortes violentas chega a 73, sendo 68 homicídios e cinco latrocínios (roubos com morte) — a média é de 2,4 casos por dia. Os ataques contra a vida superam em 37,7% a quantidade registrada no mesmo período de 2013.
Em Águas Claras, próximo à Rua 34, onde o jovem Leonardo Almeida morreu na noite de terça-feira, uma dona de casa de 50 anos acabou rendida e teve o Corsa prata, a bolsa e o celular roubados cerca de 20 minutos após o homicídio. Os bandidos apontaram uma arma para a cabeça da vítima. “Vi os homens levando o carro. Uma amiga dela ligou a fim de passar a placa do carro para a polícia ir atrás, mas a moça que atendeu fez pouco caso, nem sequer anotou. Quando ligamos depois, ela não sabia o número, e tivemos de passar novamente. Vimos a falta de vontade da polícia”, disse a filha da vítima.
A violência seguiu no Distrito Federal durante o dia. No comércio da 412 Sul, por volta das 11h, o flanelinha Jurandi dos Santos Silva, 32 anos, levou um tiro na perna. O autor do disparo, um policial militar à paisana, tentou impedir a abordagem do vigia a uma estrangeira que saía de um supermercado. Os investigadores do caso não informaram se o homem queria praticar um assalto ou pedir dinheiro à mulher. O PM agiu ao ouvir o grito da mulher. E atirou contra o flanelinha depois de brigar e ser ameaçado com uma faca, segundo testemunhas. O flanelinha recebeu atendimento no Hospital de Base do Distrito Federal e não corre risco de morte.
A quadra comercial da Asa Sul é visada por criminosos. Na madrugada da última segunda-feira, bandidos arrombaram uma lavanderia, causando um prejuízo de mais de R$ 10 mil. No dia seguinte, mesmo com o registro de uma ocorrência e a denúncia à PM, ladrões tentaram novamente invadir o local, mas desistiram antes de quebrar a porta de ferro. “É covardia o que a PM faz com a população”, reclamou uma funcionária, que preferiu não se identificar.
Sem esperanças com a segurança pública, alguns empresários investem para inibir a ação da criminalidade. Recentemente, o dono do BSB Grill, Lúcio Bittar, instalou 18 câmeras, sistema de alarme e contratou dois seguranças. Estima gastar, mensalmente, quase R$ 4 mil para manter a segurança do estabelecimento. “Percebemos que a violência explodiu de seis meses para cá. Se não tomarmos a iniciativa, ficaremos à mercê dos bandidos. É triste pagar por um serviço que deveria ser prestado pelo Estado, mas não há outra forma”, lamentou o empresário.
Ainda na 412 Sul, uma franquia da rede de fast-food Subway foi assaltada cinco vezes nos últimos quatro anos. “Como só nós ficamos abertos de madrugada, eles (os assaltantes) se sentem à vontade. A polícia até passa uma ou duas vezes por aqui, mas é tão rápido que eles nem se sentem inibidos”, disse. Um grupo internacional de lanchonetes estuda suspender temporariamente o atendimento na madrugada por causa da violência na capital federal.
Medo
A população revela o medo nas redes sociais. “Daqui a pouco, teremos toque de recolher em Brasília. Estamos à mercê da bandidagem e sem proteção alguma. Desrespeito com o cidadão! Quantas mortes serão necessárias para que alguma atitude seja tomada? Cuidem-se!”, opinou uma internauta. Outra se sente amendrontada. “Está cada vez mais difícil viver em Brasília. Até quando vamos continuar assistindo aos sonhos dos jovens e de tantos outros serem interrompidos pela violência? Cadê a segurança?”, escreveu outro (leia Opinião do internauta).
Comércio preocupado
Preocupados com a falta de segurança, empresários se reunirão hoje, às 10h, na sede da Federação do Comércio do Distrito Federal, no Setor Comercial Sul. A intenção dos representantes do setor produtivo local é entregar ao governador Agnelo Queiroz um documento com sugestões para enfrentar a situação de violência instaurada pela Operação Tartaruga. Os empresários estão assustados com os constantes assaltos, a insegurança e os consequentes prejuízos. Por exemplo, um posto de gasolina, localizado na QR 433 de Samambaia Norte, foi assaltado seis vezes em 11 dias. Foram convidados para a reunião presidentes de sindicatos da Fecomércio e representantes da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), da Câmara de Dirigentes Lojista (CDL) e da Associação Comercial do DF (ACDF).
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