Por: Adriano Gabriel Gomes
Hoje eu fui até o congresso nacional. Lugar, onde deve habitar a democracia e no qual existe a necessidade de discussões sobre temas diversos, magnânimos, a fim de que todo o comportamento de uma nação possa ser disciplinado em forma de leis. Naquele lugar, as duas casas legislativas que integram aquele congresso coabitam bilateralmente, na simetria constante dessa divisória que intercepta cegamente a continuidade a uma cadeia ininterrupta e indivisível de fatos que rodeiam a nação desde a década de 60.
Nesse dia, mesmo em situação de saúde debilitada, compareci ao Senado Federal, uma das duas casas legislativas que integram aquele Congresso. Sim, mesmo em situação desconfortável, eu tive que me fazer representar devido a uma “votação” que ocorreria naquela instituição. A apreciação de uma medida provisória que daria super poderes a uma categoria de servidores da Polícia Judiciária da União em detrimento das demais. Um acontecimento antagônico e inconciliável, que a harmonia das causas e efeitos obrigarão as possíveis classificações inscrever-se no pretérito ou até mesmo no porvir.
Houve comoções profundas de ambas as partes, que ao invés de se unirem, postavam-se a duelar. De um lado: por mais “supostos poderes”, de outro: por uma reforma profunda para a melhoria de toda a segurança pública pátria. Quesito este, que se mostra fracassado pela forma antiquada que é coordenada, refém de um instrumento obsoleto chamado inquérito, já extinto em praticamente todas as nações, notadamente as de primeiro mundo.
Causou estranheza, no mínimo, por assim dizer, a celeridade com que essa malfadada e inescrupulosa MP tramitou pelas duas casas do congresso nacional, de tal forma que não cabem nos quadros prefixos de nossa mnemotecnia, desafiando pensamentos obscuros, essa supersônica conversão em regramento .
Ainda assim, eu e vários cidadãos convictos de tamanha aberratio leges, lutamos bravamente, para tentar esclarecer a todos os votantes ou interessados na matéria, no exíguo lapso temporal que nos restava, sobre a necessidade, encharcada de esperança, de que essa medida não lograsse êxito ou retornasse, na pior das hipóteses, para um debate isento e profundo com a audiência de todas as categorias interessadas, realmente, na solucionástica de tão importante matéria.
Com esse mister, adicionei pelas mídias disponíveis , praticamente todos os senadores federais, como muitos outros também o fizeram. Enviei inúmeros textos, mesmo que sem muito tempo para uma redação bem elaborada e escorreita. Até mesmo, um soneto ( com o rigor decassilábico nos seus quartetos e tercetos exigido) fiz para tentar chamar a atenção e talvez conseguir uma mutação moral por parte dos que democraticamente possuem a capacidade de decidir.
Consegui entrar no salão onde seria realizada a votação, percebendo, desde o seu nascedouro a clara intenção dos votantes na rápida elucidação do tema, mesmo que causando inúmeros prejuízos a toda a população. Não havia a preocupação com o grupo de trabalho, que havia sido instituído em tempos idos e que nunca fora concluído para a elucidação daquela demanda, nem tampouco com o compromisso feito de que não fossem utilizados de artifícios ardilosos, como o naquele momento posto em votação… talvez motivados por segredos funestos, que a minha reles condição de categoria inferior não pode sequer supor sua deplorável existência.
Com a exceção de um senador que conseguiu expor, com exatidão, no púlpito daquela instituição, a verdadeira barbárie que estava sendo praticada naquela tarde/noite, todos os demais, sem nem prestar atenção no discurso brilhante do orador, faziam de tudo para encerrar o quanto antes a votação daquele absurdo.
E assim foi feito, para a continuidade de um sistema fracassado com menos de 7% de eficiência, instaurado no antepenúltimo lustro da centúria retrasada, com a estapafúrdia necessidade de que uma categoria possa gozar de privilégios injustos e de que outros tantos enlameados por práticas altamente condenáveis penalmente, não se sintam ameaçados. A malfadada medida provisória foi aprovada.
Saí macambúzio, sorumbático, taciturno, definitivamente cabisbaixo daquele lugar. Cada vez com menos esperança no que minhas retinas já bastante fatigadas tem tido a infelicidade de assistir ao longo de minha breve passagem terrena, mas principalmente, bastante preocupado com o curso do nosso destino e o que nos reserva no tempo obscuro que está por vir.
P.s. exordial significa peça inicial e, dessa forma, deu-se a exordial do crepúsculo para a segurança pública brasileira. Nesse dia, que mancha, mais uma vez, a história da cada vez mais limitada democracia nesse país.
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