Em Salvador, o juiz federal que deu início à Operação Navalha contou ao repórter José Raimundo como as investigações começaram. E como a ação de policiais federais atrapalhou e quase acabou com elas.
Foi em uma casa no bairro de Itapuã, em Salvador, que a Polícia Federal instalou sofisticados equipamentos de escutas telefônicas. A operação comandada pela 2ª vara da Justiça Federal na Bahia começou há dois anos. A ordem do juiz Durval Carneiro Neto era investigar denúncias contra um grupo conhecido como ‘G8’, formado por empresários baianos acusados de fraudar licitações.
Policias federais foram flagrados em conversas suspeitas com os empresários. Delegados e superintendentes regionais passaram a ser monitorados.
“Eu botei microfones nos gabinetes e as escutas comprovaram o envolvimento dos superintendentes com o pessoal de direito, que conhece, vai no gabinete, janta junto”, afirma o juiz.
Uma trapalhada policial também comprometeu a operação, diz o juiz. Dois agentes de Brasília, que seguiam um dos superintendentes suspeitos, foram presos no aeroporto de Salvador.
Na época foram três superintendentes monitorados pelas escutas: o do Ceará, João Batista Santana, o de Sergipe, Rubens Patury e o da Bahia, Paulo Bezerra, o único que foi mantido no cargo. Hoje, é o secretário da Segurança Pública do estado.
“A partir daí a Operação Navalha perdeu o fio, ficou cega, não cortou mais nada.”
Quando tudo parecia perdido, surgiu um nome que até então não tinha nada a ver com o alvo das investigações: Zuleido Veras, dono da Gautama. As escutas comprovaram que ele pagou a festa de posse do superintendente da Polícia Federal de Sergipe, um dos investigados. Uma despesa de R$ 7 mil.
“Aí o pessoal disse é por aí que a gente vai, encontramos o nosso álibi, para fracasso da Operação Navalha na sua proposta inicial.”
O juiz só concordou em dar essas declarações porque foi acusado por policiais federais de ter sido o responsável pelo vazamento das investigações.
Foi o juiz Durval Carneiro Neto quem encaminhou para o Superior Tribunal de Justiça as investigações contra os policiais flagrados nas escutas. Encaminhou também as denúncias contra os empresários do chamado ‘G8’.
Para a Justiça Federal, ‘G8’ é uma organização criminosa e especializada em fraudes para adquirir vantagens em licitações. Além dos oito empresários baianos, funcionários públicos também estariam envolvidos, de acordo com as investigações. São acusados de facilitar contratos e de fornecer certidões negativas falsas de débitos com a Previdência. As empresas comandadas pelo ‘G8’ atuam principalmente nas áreas de limpeza e segurança privada. Prestam serviços para órgãos municipais, estaduais e federais.
O ex-superintendente da Polícia Federal em Sergipe, Rubens Patury, negou que Zuleido tenha pago a festa de posse. O ex-superintendente da PF na Bahia, Paulo Bezerra, disse que mandou prender os agentes federais no aeroporto de Salvador porque a Infraero informou que dois homens requisitavam imagens do circuito interno de TV e se identificavam como policiais federais. Bezerra afirma que não sabia da missão deles. O ex-superindentente da PF no Ceará, João Batista Santana, não foi encontrado.
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