A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) bancou, segundo dados oficiais divulgados ontem, 45% dos custos da Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal em julho. A ação policial, que contou com a maciça cooperação de servidores da Abin, custou ao todo R$ 840 mil. A PF já havia informado oficialmente que gastou R$ 460 mil. Por sua vez, a agência revelou ontem que custeou cerca de R$ 380 mil. Principal alvo da investigação, o banqueiro Daniel Dantas tenta anular na Justiça a Satiagraha por causa da cooperação, que, segundo sua defesa, não tem respaldo legal. Se considerado o valor de R$ 800 mil apresentado pelo presidente da Associação dos Servidores da agência (Asbin), Nery Kluwe, ontem à CPI dos Grampos, a ajuda saltaria para 63,5% dos custos e ultrapassaria a cifra de R$ 1,26 milhão. A agência contesta os dados. Os gastos incluiriam despesas com aluguel de carros, passagens aéreas e diárias de agentes. Ao menos 80 agentes já confirmaram nas investigações oficiais sobre o caso que atuaram na Satiagraha.
“Se houve ilegalidade, ela custou R$ 1 milhão aos cofres públicos”, afirmou o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), sobre o valor citado por Kluwe. Em meio à guerra de números, a confirmação do repasse de recursos reforça a tese de que a ajuda da Abin não foi “informal”, como alega o diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda. Num contundente depoimento, o presidente da Asbin negou ter interceptado e vazado o grampo da conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. “Repilo e rechaço a maledicente acusação de minha participação no episódio. A Abin não atua contra o governo. Tanto a Abin quanto a Polícia Federal sairão fortalecidas desse episódio”, declarou.
Para Kluwe, os agentes não deveriam ter participado da Satiagraha. Ele disse que “nunca viu uma participação tão ampla” como essa. “Os nossos agentes estão sob a pecha de terem feito desvio de conduta”, afirmou. “O desvio de conduta é de quem comandou, ordenou e não deu o conforto (para os agentes)”, criticou ele, ao lamentar a “omissão” dos diretores em defender os servidores. “Os agentes estão com medo de ir para a rua”, disse ele, para quem houve “quebra de confiança”. Ele negou que a agência tenha equipamentos de grampos ou que agentes tenham feito escutas na Satiagraha.
Acusações O presidente da Asbin confirmou reportagem publicada ontem pelo Correio segundo a qual o agente Márcio Seltz, durante a operação, chegou a repassar informações “diretamente” para o chefe da Abin, Paulo Lacerda. Segundo ele, Seltz, que deve depor hoje, levava também informações para o delegado Protógenes Queiroz, para o diretor-adjunto afastado, José Milton Campana. “É um dos analistas que entregava o produto do trabalho ao delegado Queiroz, ao Campana e ao doutor Lacerda”, declarou. Segundo ele, outros analistas também fizeram o mesmo.
Nery Kluwe acusou uma comissão de Abin de ter, com a ajuda da PF, tido acesso, sem autorização judicial, de dados de servidores da agência que supostamente estavam difamando a direção da agência. Ele revelou que a Abin repassou ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) informes sobre corrupção nos Correios em 2005, antes de estourar o escândalo do mensalão. À CPI anteriormente, o ministro do GSI, Jorge Félix, afirmou que não houve investigações. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que vai apresentar requerimentos para revolver esses relatórios. A CPI aprovou ontem a quebra de sigilo do laudo do Exército sobre equipamentos da Abin que supostamente podem fazer escutas telefônicas. A comissão também retirou o sigilo da fita gravada que determinou o afastamento de Protógenes da Satiagraha. |
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