Ugo Braga
Enviado Especial
Valdenir Rezende/Correio do Estado/AE |
Milton Talzi ataca: “Espero que o bom senso prevaleça sobre a política” |
Curiosamente, o argumento de Talzi é idêntico ao usado por líderes da oposição às primeiras notícias da Operação Xeque-Mate — na qual, além de Morelli, foi preso o ex-deputado estadual paranaense Nilton Cezar Servo e indiciado Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente da República. A idéia é a de que a investigação sobre pessoas tão próximas a Lula serve tão somente para lustrar uma virtude — a imparcialidade — do governo e da própria PF, ambos sob suspeita desde a eclosão da Operação Navalha, dois meses atrás.
Os advogados dos principais acusados insistem que não há indícios consistentes contra seus clientes. A própria investida de “motivação política” feita pelo defensor de Dario Morelli é uma reação à notícia de que o delegado responsável pelo inquérito, Alexandre Custódio, pedirá amanhã, ou depois, à Justiça para manter presos 20 dos 67 suspeitos que ainda estão atrás das grades durante a investigação. O compadre de Lula é um deles. “Eu não vejo nos autos nenhuma motivação para a prisão preventiva do Dario”, declarou Talzi, que promete apresentar amanhã à Justiça um memorial como qual espera que o juiz negue a prisão preventiva planejada pelos federais.
Provas
É pouco provável, no entanto, que Morelli seja solto, se a Polícia Federal quiser mantê-lo sob custódia. Um dos motivos pelos quais os juízes atendem a apelos semelhantes é a capacidade de o investigado atrapalhar a produção de provas. E os tiras têm como provar que Dario Morelli não se incomoda em brecar investigações. Numa das gravações autorizadas pela Justiça, há um diálogo entre o “compadre” e Servo, apontado como chefe de uma quadrilha do ramo de jogos de azar. Diz Morelli, diante da hesitação do interlocutor em tratar ao telefone: “Se (a PF, num grampo) rastrear o meu nome, quando cair nas coisas lá e ver o meu nome, o cara já pensa duas vezes em fazer qualquer coisa”.
Morelli, dessa forma, se transforma num personagem de alto teor explosivo, maior até que o de Vavá. Porque, no caso do primogênito da família Inácio da Silva, há farto material apontando na direção de que ele é uma espécie de bufão. Vendia coisas que não podia entregar, no caso, prestígio no governo. Já o “compadre” surge das várias horas de conversas telefônicas gravadas pela PF como alguém muito parecido com um sócio de Nilton Cezar Servo. E isso é problema. Por vários motivos.
Servo é o líder de um dos quatro grupos que disputam a jogatina em Campo Grande. Na capital do Mato Grosso do Sul, cidade de 770 mil habitantes, os detalhes da briga de quadrilhas são contados amiúde por taxistas, garçons e outros tipos populares. A última frase de toda e qualquer conversa sobre o assunto é: “Todo mundo sabe, mas ninguém é doido de falar, não é?” É.
Nilton Cezar Servo é oriundo do interior do Paraná. Estabeleceu-se no Mato Grosso do Sul explorando máquinas de caça-níqueis. Assim como Cuiabá, Campo Grande é um local estratégico desse ramo. Fica a pouco mais de 350km de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, onde funciona uma antiga rota de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e de drogas. É um mundo em que altas somas de dinheiro em espécie, como as geradas pelo jogo, são o lubrificante que faz as engrenagens funcionarem.
Vavá seria humilde e limitado Gilberto Nascimento Da equipe do Correio
São Paulo – O advogado Nelson Alfonso, que defende Genival Inácio da Silva, o Vavá, acusado pela Polícia Federal (PF) de pedir dinheiro a empresários de caça-níqueis para defendê-los junto ao governo, disse ontem que seu cliente não reconheceu em gravação a voz de um interlocutor identificado como Roberto, que lhe relatou o descontentamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu irmão, por ele ter apresentado uma pessoa a determinado ministério. Indagado se a “bronca” não seria um fato marcante, o advogado alegou não ter tido tempo ainda para conversar detalhadamente com o irmão do presidente. Edson Inácio da Silva, filho de Vavá, disse não ter ouvido a gravação, apesar de ela ter sido mostrada diversas vezes em reportagens. Familiares de Vavá teriam dito a petistas próximos que a pessoa identificada como Roberto seria, na verdade, Frei Chico, outro irmão de Lula e militante do antigo Partido Comunista do Brasil. Edson Inácio frisou que ninguém da família teria reconhecido o interlocutor. Em entrevista, o advogado de Vavá descreveu o seu cliente indiciado pela PF na Operação Xeque-Mate como uma pessoa humilde e limitada intelectualmente que nem ao menos sabe o que quer dizer lobby. O significado dessa palavra teria sido explicado a ele por familiares. “Além de negar, ele não é uma pessoa que teria condição de fazer qualquer tipo de lobby. O meu cliente não sabe se portar perante um ministro, que seja do STJ, como está aí na mídia. Ele não tem preparo para esse tipo de procedimento”, argumentou. “É uma pessoa que tem pouca cultura. A compreensão dele é muito pequena. Então, lobby, pedido, intervenção, apresentações, credenciais, nunca foram feitas por ele”, afirmou Alfonso. O filho Edson também ressaltou que Vavá fez apenas o antigo Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), projeto educacional implantado no país no período militar. O advogado, porém, discordou de que sua descrição seria desrespeitosa ao próprio cliente. Segundo Alfonso, ao falar em máquinas nas conversas gravadas pela PF com o ex-deputado estadual Nilton Servo, Vavá teria se referido a máquinas de terraplanagem “para gerar emprego” e não a caça-níqueis. Nem ele nem Edson Inácio esclareceram, no entanto, para quem seriam essas máquinas. Alfonso também disse que seu cliente nunca compareceu a qualquer ministério e jamais teria recebido “pacotinhos de dinheiro”, conforme investigações. Em dois outros momentos, porém, reconheceu que Vavá “por amizade e necessidade” teria pedido quantias a Nilton Servo, a quem conhecia há oito anos, e a Rinaldo, um parente distante que é gerente de uma agência do Banco do Brasil em Diadema, no ABC paulista. |
Um tal “roberto” São Paulo — Cogitado como possível interlocutor de Genival Inácio Silva, em conversa gravada pela Polícia Federal, outro irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, disse ontem que telefona sempre para Vavá alertando-o para tomar cuidado “com quem ele conversa” e para “não se meter, porque tem gente sacana”. Segundo Frei Chico, Vavá teria o hábito de prometer ajuda para as pessoas. “Ele fala sempre: deixa comigo que eu vejo. Isso lá no Nordeste a gente chama de ‘gambação’. Mas não tem nada de receber dinheiro”, garantiu. Frei Chico afirmou que, na escuta telefônica, “pode realmente ser eu, ou qualquer outra pessoa”. Ele declarou que não ouviu a gravação e, ultimamente, não lê jornais nem acompanha o noticiário no rádio e na TV. “Procuro ficar distante de tudo. Mas vou procurar ouvir para saber”. Para ele, existiria alguma coisa por trás de tudo isso. “Eu não sei o que estão querendo. Se é uma coisa política, ou se é maldade”. (GN) |
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