Para o comandante militar da Amazônia, general Luís Carlos Gomes Mattos, o Estado brasileiro precisa investir mais na vigilância das fronteiras na Amazônia. Encarregado de comandar os 26 mil homens do Exército que têm a incumbência de proteger a soberania do Brasil na maior floresta tropical do planeta, o militar admite que guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) entram com frequência no território nacional, mas afirma não ver sinais de que a guerrilha colombiana tenha planos de se estabelecer no País.
“As Farc aproveitam a fragilidade que existe na nossa fronteira para se abastecer, para fazer tráfico de drogas”, afirma o general.
Hoje, nos cinco batalhões situados mais próximos da zona fronteiriça, o Exército possui 4.500 militares em atividade. Desses, apenas 1.680 atuam na linha de frente, distribuídos em 28 pelotões de fronteira.
Há planos para dobrar esse efetivo, mas o comandante avisa que não é para já. A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao Estado no sábado, ao chegar de uma visita de cinco dias aos postos do Exército na fronteira.
O fato de a guerrilha ter montado instalações do lado de cá da fronteira, até com central de comunicação, e estar traficando e comprando terras não é sinal de que a vigilância está frágil?
Quem levantou isso e tem poderes para combater deve fazê-lo.
O sr. está se referindo à Polícia Federal?
Lógico, exatamente. Não quero com isso responsabilizar a PF. A estrutura do Exército na Amazônia eu conheço toda. A da Polícia Federal, não.
Também á papel do Exército guardar as fronteiras.
Nós, Exército Brasileiro, estamos presentes, trabalhamos todo dia, não ganhamos hora-extra. Dentro do que a Constituição nos atribui como missão, procuramos fazer o melhor.
Mas é suficiente?
Se você me perguntar se está estruturado, eu direi que não, que ainda falta muita coisa. De todo modo, eu considero que esse caso (da descoberta pela PF de bases de tráfico das Farc no País) é circunstancial, é pontual, como se vê a prisão de um traficante importante numa favela do Rio ou de São Paulo ou de alguma outra cidade brasileira.
Mas nesse caso é um movimento de guerrilha de outro País fazendo negócios aqui, general.
Para mim são traficantes, não são guerrilheiros. Isso aí é narcotráfico. Eles não fazem ação de guerrilha no nosso país. Quanto à presença do lado de cá, isso cabe à gente levantar, apurar e combater. Hoje não existe na Amazônia brasileira o que existe na Colômbia, por exemplo, onde há áreas em que o Estado precisa pedir permissão para entrar. Essa prisão não significa que as Farc estão se estruturando para organizar um movimento no nosso País. O que há é que eles aproveitam a fragilidade que existe na nossa fronteira para se abastecer, para fazer o tráfico de drogas e para montar a estrutura que a Polícia Federal descobriu agora.
Quando surgirão os primeiros resultados da Estratégia Nacional de Defesa?
Teremos um aumento significativo no número de pelotões de fronteira, praticamente dobrando o efetivo. Mas isso não se faz no apagar das luzes. É até 2025.
Os primeiros pelotões ficam prontos quando?
Estamos começando a construir o primeiro, em Marechal Thaumaturgo (Acre).
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