Daniel Ferreira/CB/12.4.06 |
Em seu depoimento, Márcio Thomaz Bastos espera reduzir a pressão do PSDB e do PFL sobre o Palácio do Planalto e evitar uma provável demissão |
O governo está confiante no desempenho de Bastos. A expectativa no Palácio do Planalto, após a reunião de coordenação política, na manhã de ontem, é de que o ministro conseguirá encerrar o caso com seu depoimento, evitando o alargamento da crise. Participaram da reunião o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, José Alencar, e os ministros das Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci. Segundo Genro, não há “nenhuma preocupação” com o depoimento de Bastos no Congresso. “Nós trabalhamos para ele (Bastos) ir uma vez, para que ele faça todas as exposições e esclarecimentos necessários”, indicou. Para o governo, o melhor é que o depoimento se restrinja à Câmara, casa considerada menos hostil.
A ida do ministro ao Congresso vem sendo articulada desde a semana passada. Inicialmente, ele deveria ser ouvido no plenário do Senado. Mas a Câmara acenou com a possibilidade de votar requerimentos convocando Bastos. Passou-se, então, a discutir a possibilidade de uma sessão conjunta. A idéia, entretanto, parecia ontem não agradar mais a ninguém.
Mattoso na CPI
Renan deixou claro que não acha viável uma sessão conjunta. Encabeçada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a ala que trabalha para blindar o ministro da Justiça tentava ontem evitar que o ministro fosse ouvido no plenário de qualquer uma das casas. Surgiu a possibilidade de fazer uma sessão conjunta das comissões de Constituição e Justiça da Câmara e do Senado. Mas Renan também não considera a hipótese viável.
No Senado, até os líderes da oposição que almejam atacar Bastos pareciam ontem aceitar a possibilidade de o depoimento ficar, ao menos nesta semana, restrito à Câmara. O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), defendia a necessidade de primeiro ouvir o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso. “Não há regimento que discipline sessão conjunta. Além disso, queremos primeiro ouvir o que Mattoso tem a dizer sobre o episódio”, defendeu. A CPI dos Bingos ainda precisará votar o requerimento de convocação do ex-presidente da Caixa.
AS DÚVIDAS QUE PAIRAM SOBRE O MINISTRO
O ministro Márcio Thomaz Bastos deverá prestar esclarecimentos ao Congresso sobre seu envolvimento no episódio da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Veja abaixo as três principais questões que o ministro terá de esclarecer:
1 — Assessores na casa de Palocci
O ministro será questionado sobre o motivo de dois de seus principais assessores — o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete, Cláudio Alencar — estarem na casa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no dia em que ele recebeu
o extrato com o saldo bancário do caseiro.
2 — Visita a Palocci
Exatamente uma semana depois de Palocci ter recebido o extrato do caseiro, Bastos esteve na casa do então ministro da Fazenda, acompanhado do criminalista Arnaldo Malheiros, que hoje defende Palocci. A dúvida que paira sobre Bastos é se, ao indicar um advogado de sua confiança a Palocci, ele já sabia do envolvimento do então ministro da Fazenda no crime da violação do sigilo.
3 — Envolvimento de Lula
A oposição quer saber do ministro da Justiça quando, exatamente, o presidente Lula soube da quebra do sigilo do caseiro. Também quer esclarecimentos sobre como e quando o presidente soube que o ministro Palocci estava envolvido no escândalo.
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