Durante depoimentos no Congresso, diretor da PF e chefe afastado da Agência Brasileira de Inteligência divergem sobre operação
O ex-agente Ambrósio negou ter feito escutas na operação policial
Os depoimentos dos principais representantes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso expôs, publicamente, a briga de bastidores entre as instituições desde que se descobriu a participação de servidores da Abin na Operação Satiagraha, deflagrada pela PF. O diretor-geral da polícia, Luiz Fernando Corrêa, disse ontem que não foi informado pelo delegado Protógenes Queiroz, responsável pelas investigações da Satiagraha, que arapongas da Abin participaram da ação.
“Não houve nenhuma comunicação nas instâncias superiores da polícia para esse procedimento”, afirmou Corrêa. Por sua vez, o diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda, defendeu que a atuação foi “legítima”. “Dentro da Abin, orientações de baixo para cima e as autorizações ocorreram. Se em relação à Polícia Federal não houve isso, eu lamento e imaginava que isso estivesse ocorrendo. Mesmo assim, até agora não vi nenhum ato que pudesse ser imputado ilegalidade na ação dela, muito menos crime”, rebateu Lacerda.
Num jogo de alfinetadas durante toda a sessão, Luiz Fernando lembrou que a PF investiga a participação informal de agentes na operação e, também, quem são os responsáveis pelo grampo clandestino de uma conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. “O que para Abin é um procedimento administrativo, para nós é objeto de um inquérito”, retrucou.
Na tentativa de colocar panos quentes na briga de bastidores, Lacerda declarou que não há divergências entre as duas instituições. “Tentam, a todo momento, nos colocar em lados opostos. Mas somos sucessivamente conseqüências um do outro. Instituições que não angariam esse prestígio (como a PF)”, disse o diretor-geral afastado da Abin, ex-chefe da Polícia Federal.
Um dos presentes, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge Félix, admitiu que Paulo Lacerda não lhe informou da participação de agentes da Abin, órgão subordinado funcionalmente à sua pasta, na Satiagraha. Mas justificou-se: “Eu acompanho as operações da Abin. Quanto às cooperações, os órgãos têm total autonomia”, disse.
Caixas dos EUA
Em depoimento no final da tarde, o ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento, contratado pelo delegado Protógenes Queiroz, negou que tenha feito escutas na operação. Francisco Ambrósio admitiu que viu, na sede da PF, onde trabalhou, 25 volumes de documentos da Justiça de Nova York sobre a contratação da Kroll pelo banqueiro Daniel Dantas para supostamente fazer espionagem.
O diretor-geral da PF e o diretor de Inteligência Policial (DIP), Daniel Lorenz, afirmaram que não sabiam da remessa desse material e tampouco do paradeiro. O presidente da comissão, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), afirmou que é preciso esclarecer como esse material entrou no país.
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