Com investimento de quase R$ 2 milhões, sensores captarão disparos em uma área de 3,3 quilômetros
Juliano Tatsch
Um tiro é disparado. Ninguém liga para a polícia para informar do ocorrido e, mesmo assim, policiais rapidamente estão no local para verificar o que aconteceu. A cena descrita acima nem de longe era realidade no Brasil. Em Canoas, no bairro Guajuviras, já é.
Foi inaugurado na manhã de ontem, no Centro Integrado de Segurança Pública do município da Região Metropolitana de Porto Alegre, o Sistema de Detecção de Disparos de Arma de Fogo (SDD). O início oficial dos trabalhos do audiomonitoramento contou com a presença do ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto.
O sistema consiste em uma rede de 36 sensores de áudio instalados no bairro, sob um custo de quase R$ 2 milhões, que detectam e determinam a localização de ruídos explosivos e disparos de arma de fogo em uma área aproximada de 3,3 quilômetros quadrados. O SDD é desenvolvido pela empresa norte-americana Shot Spotter.
Canoas é a primeira cidade fora dos Estados Unidos a contar com a tecnologia. Lá, o equipamento já está em funcionamento em mais de 50 cidades, como a capital Washington, Los Angeles, Chicago e Boston. “Não é mais possível combater o crime organizado sem a inteligência. Já deu certo nos Estados Unidos e tenho certeza de que dará certo aqui. Iremos adaptá-lo à nossa realidade e, cada vez que um disparo for feito, nós estaremos identificando. Iremos enfrentar o crime de forma cirúrgica”, afirma o prefeito da cidade, Jairo Jorge.
O objetivo do sistema é, além de atuar na busca de autores de tiros, coibir a ocorrência dos disparos. “Eu digo que, com o SDD, cada vez que um bandido disparar uma arma de fogo estará chamando a polícia”, destaca o secretário de Segurança Pública e Cidadania de Canoas, Alberto Kopittke.
Quatro agentes da Guarda Civil ficarão na Sala de Monitoramento Integrado (SMI), onde receberão o alerta do disparo, que chegará na tela do computador de nove a 15 segundos após o incidente. A Brigada Militar, no 15º Batalhão, também estará ligada ao sistema.
“Infelizmente, o nosso Estado foi onde a opção pela proibição do porte de armas foi mais rechaçada, quando do plebiscito sobre o tema. As medidas implantadas através do Pronasci mudaram a visão sobre segurança. Por muitos anos tivemos um discurso que pedia menos Estado e mais Direito Penal. Hoje já não se pode dissociar segurança de cidadania”, destaca Kopittke.
O Guajuviras tem uma população aproximada de 70 mil habitantes. Em 2009, o bairro foi a nona região do País a receber o Território de Paz, ação ligada ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
A instalação do Território da Paz no bairro mais violento de Canoas, em outubro do ano passado, já dá bons resultados. Nos oito primeiros meses de 2009, ocorreram 21 homicídios. No mesmo período deste ano, o número caiu para 13 vítimas, uma redução de 38%. Quando se constata que, do total de homicídios acontecidos em 2010, 76,9% se deu pelo uso de armas de fogo, a implantação do novo sistema de detecção de disparos se mostra ainda mais importante.
“O enfrentamento se faz com a valorização dos policiais, com o comprometimento destes com a comunidade a que servem. Essa polícia tem de estar bem equipada, seja com armamentos e proteção, seja com novas tecnologias. O SDD é uma proteção quase em tempo real, que permite uma intervenção rápida da polícia”, diz o ministro. Conforme Barreto, a tendência é de que, no futuro, o sistema seja implantado em outras cidades do País. “O ministério acompanhará Canoas e observará o resultado. Certamente podemos fazer com que o sistema chegue a outros grandes centros urbanos e localidades de conflito”, ressaltou.
Dos 36 sensores que serão instalados, 17 estão funcionando há dez dias, abrangendo uma área de 1,85km2. Neste período, ainda de ajustes, foram captados 98 incidentes, sendo 64 com disparos de armas de fogo. Para a Brigada Militar, todo tipo de tecnologia que surge para auxiliar os trabalhos de combate ao crime é bem-vindo. “Até agora, os primeiros resultados são muito bons. A primeira avaliação é excelente. A polícia não precisa mais ficar procurando onde é a ocorrência, vamos direto ao local correto”, observa o chefe do Comando de Policiamento Metropolitano, coronel Carlos Roberto Bondan.
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