Por: Luis Carlos da Silva Barbosa
Hierarquia é a base de qualquer instituição. Sabemos nós que não existe ordem e progresso sem hierarquia.
A estrutura burocrática estatal não existiria na ausência de hierarquia e esta é formada por chefes e subordinados. E o que é ser chefe? Vejamos: chefe é todo aquele que é imbuído de autoridade, comanda (em sentido vulgar) um grupo de pessoas, portanto, podendo exigir obediência.
Ao revés, subordinado é todo aquele que recebe ordens de seu superior (o chefe) e deste depende para cumprir suas obrigações.
O Brasil e o mundo sofreram ao longo dos anos crises profundas, porque ficavam atrelados a velhos conceitos autoritários, retrógrados, obsoletos. Contudo, nossa Pátria, com a sua Constituição cidadã de 1988, inovou e a partir daí começou a discussão sobre o papel do Estado e, atualmente, temos uma visão pós-burocrática: buscando uma revolução conceitual e novos princípios para combater os antigos, idealizando uma administração por objetivos, qualificando seus quadros e, principalmente, fazendo do serviço público uma administração voltada para o público, visando à cidadania.
A partir de 1988, o Estado brasileiro, para ser um sistema dinâmico, competente e versátil, não mais comporta chefe sem visão de liderança e nem subordinados sem motivação, espírito de equipe e ambos voltados para um interesse comum: a satisfação cidadã.
O chefe-exemplo sabe que chefia é indicação e liderança é a essência nata do ser humano, porque ser líder é conduzir um grupo de pessoas, transformando-os numa equipe que gera resultados. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcanç arem os objetivos comuns da instituição. O líder deve esquecer conceitos antigos e trocar os verbos MANDAR por COMANDAR (mandar com, em conjunto) e SUBORDINADO por COMANDADO ou LIDERADO, pois este participará das ordens e reuniões, sendo ouvido, participativo e abrangido pelo sentimento de equipe. JAMAIS em uma equipe tomará decisões unilaterais.
Liderança é uma capacidade que se conquista mais pelo exemplo, respeito e pela admiração dos outros, do que por cargos nomeados ou ameaças. O verdadeiro líder é aquele em quem o grupo se espelha, e que serve como referência na hora em que cada uma dessas pessoas têm que tomar suas próprias decisões.
Para ser líder, ao contrário do que muitos pensam, é preciso um alto índice de humildade e de generosidade. São essas características que tornam fácil o trânsito do líder, fazendo-o aproximar-se de todos sempre dentro de um ambiente de confiança. Na presença do líder , as pessoas se sentem à vontade, seguras.
Para os gestores atuais, são necessárias não só as competências do chefe, mas essencialmente as do líder.
Meus caros colegas sindicalizados, depois desses chatos parágrafos, pois o tema hierarquia é enfadonho, explicarei o porquê dos comentários.
Na sexta-feira, dia 28 de janeiro, alguns policiais da Delegacia de Crimes Fazendários da Superintendência Regional do Rio Grande do Sul procuraram este Sindicato e nos trouxeram uma situação que consideramos lamentável, pois ainda dentro da nossa Instituição Policial Federal há chefes no conceito mais árduo da palavra: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”!
Em síntese, o chefe daquela Delegacia determinou uma nova estrutura dentro do DPF, extinguiu o NO e formou equipes da seguinte maneira: um delegado, um escrivão e um agente. Justificou, dura nte uma reunião com os policiais da DELEFAZ, que essa nova sistemática era para dinamizar os trabalhos, pois achava que os mesmos estavam pouco produtivos. Durante sua fala, o delegado deixou implícito que tinham alguns colegas fazendo ‘corpo mole’ e que queria um maior controle de pessoal e, para isso, atrelou um delegado para chefiar as equipes formadas. Enfim, “muito cacique para pouco índio”.
Quando interpelado por alguns corajosos participantes da reunião (se é que posso chamá-los de participantes, porque, segundo eles, foi quase um monólogo), que dessa forma iria emperrar a Delegacia, pois não teriam condições de trabalhar em equipes com apenas um agente, em sua postura ‘chefial’ respondeu: “Eu sei, não teremos equipes com dois agentes, mas vamos tentar, temos que começar”.
Os colegas nos procuraram, muito magoados, amargurados, não somente pela mudança, pois, segundo eles, isso é normal, muda nça faz parte do sistema, da vida, mas, sim, pela postura do chefe, pois o consideravam como colega, amigo, “gente boa”, um líder. LEDO ENGANO.
Acreditavam que faziam parte de uma equipe com participação de todos, e foram surpreendidos com uma postura unilateral. Ficaram com um sentimento de cumpridores de ordens, soldados, que não tinham participação nas decisões. Alguns até disseram que não foi levado em consideração nem o tempo em que estavam lotados na Delegacia e muito menos os inúmeros trabalhos realizados com sucesso.
Explicamos a eles que essa decisão, salvo melhor entendimento, parecia orquestrada, pois vai contra as nossas bandeiras, pois estamos numa luta de valorização de funções, onde o agente, escrivão e papiloscopista teriam participação de decisão, liderança, enfim, da não aceitação da herança do ex-diretor geral, DPF Luiz Fernando: a de meros executores.
O impasse chegou ao Superintendente do Rio Grande do Sul, que fez uma reunião com alguns delegados daquela Delegacia, da qual também participou um dos diretores do Sindicato. Após argumentação de ambas as partes, e com insatisfação do representante sindical, os delegados chegaram à conclusão de que haveria a mudança, uma experiência por 30 dias, pois precisavam realmente de uma nova dinâmica. Para apaziguar os ânimos, não haveria a formação de uma nova equipe. O NO foi preservado, porém os componentes seriam separados por especificação de matérias. Se a nova estrutura não desse certo, voltaria à anterior.
Somente para esclarecimento, acreditamos que a nova sistemática mudou seis por meia dúzia, porque, no modelo antigo, o componentes do NO recebiam as missões e, independente da matéria, as executavam.
O atual trouxe a especificidade de matéria. Contudo, sabemos que a policia não pode se d ar ao luxo de um policial para atender somente uma matéria. Haverão casos em que o mesmo policial irá cumprir ordens de missão de assuntos diversos, porque sendo a DELEFAZ muito complexa, não há efetivo suficiente para disponibilizar dois policiais por matéria. Então, na práticam, nada mudaria: todos fazendo tudo. A não ser que o policial federal se submeta a cumprir diligências sozinho, o que não é ideal e nem aconselhável.
Colegas sindicalizados, o SINPEF/RS, apesar de não ter ingerência na Administração, porque se tivéssemos o quadro seria outro, procura sempre fazer com que todos sejam tratados com respeito, dando-lhes meios para trabalhar e em um ambiente tranqüilo, seguro e promovendo um espírito de equipe.
Mas em nossos quadros ainda há aqueles que não aceitam os novos tempos, que houve várias mudanças, que os novos policiais não delegados têm formações superiores diversas, vários inclusive com pó s-graduação, mestrado e doutorado. Somos mentes abertas, temos iniciativas, queremos ser participativos, podemos ser chefes/líderes e não nos importamos de ser comandados, mas não subordinados (no conceito vulgar da palavra). Mas alguns deletérios não aceitam isso e a todo o momento querem nos limitar e esse desgaste é inevitável.
A base deste sindicato somos nós. Nada poderemos fazer sem o apoio e atitude dos sindicalizados. Nada adiantará nossas vozes, se essas não entranharem em nossos espíritos, fazendo-nos mudar de atitude.
Lembremo-nos: A Polícia Federal somos nós! Nada, mas nada mesmo, será feito sem o nosso trabalho. Nenhum IPL investiga por si só. Sabemos disso. Quem vai dar respaldo a essa tão criticada peça investigativa somos nós, com as provas que coletarmos, nossas diligências, nossos relatórios.
Então, valorizemo-nos. Imponham-nos. Façamos um traba lho digno, competente, mostrando a todos que nossos relatórios são claros, concisos e, acima de tudo completos, exauridos. Que o façamos também pela forma de falarmos, vestirmos, nos portarmos e nos dirigir a todos de forma educada. Ajamos com urbanidade, mostrando nossa autoridade pela competência. Mas nunca, nunca mesmo sejamos submissos. Questionemos sempre, não aceitemos nada que não tenha participação da equipe.
Aos colegas da DELEFAZ, nosso respeito e consideração. É de conhecimento de todos que muitos de vocês realizam trabalhos sozinhos, arriscando a própria vida. A partir de agora, como não foram ouvidos para a implantação dessa nova estrutura ou aventura, pedimos a todos que não saiam sozinhos, passem a exigir da Administração meios para executar as investigações. Por exemplo: coletes dentro do prazo de validade; munições novas; viaturas em condições; diárias antecipadas para operações fora da Sede, entre out ros. Enfim, trabalhemos, mas com condições dignas.
Lembremo-nos: vestir a camisa não é sair por aí ‘a Deus dará’, ‘na hora tudo sai’, ‘vai dar tudo certo’ e, sim, trabalhar de forma certa, segura e sem improviso.
LUÍS CARLOS DA SILVA BARBOSA é Agente de Polícia Federal, bacharel em Direito, Diretor Financeiro SINPEF/RS.
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