Com coordenação do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (SINDIPOL/DF) e da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), foi realizado nos dias 21 e 22 de novembro, o 1º Congresso de Jornalismo e Segurança Pública, no Museu Nacional, em Brasília.
Durante a abertura oficial do evento, o presidente do SINDIPOL/DF, Flávio Werneck, explicou que as palestras e debates da programação tinham como objetivo apresentar os dados reais da crise de Segurança Pública que o País atravessa, além da visão dos policiais federais com soluções e projeções para o futuro. “Quero que tentem responder, por que temos que continuar com uma cultura de segurança pública ineficiente, se já existem modelos melhores?”, afirmou Werneck aos jornalistas presentes.
Ainda quanto a ineficiência do modelo investigativo brasileiro, o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Robalinho Cavalcanti, citou como exemplo os inquéritos policiais. Para ele, os inquéritos “estão em funcionamento a 150 anos, travam o andamento criminal e tornam o processo de elucidação de crimes burocrático e moroso”.
Também participaram da solenidade de abertura o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens, e o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Carlos Fernando Matias.
Facebook e o fim do inquérito policial
No primeiro dia da programação, terça-feira, 21 de novembro, foram abordados temas como o relacionamento com a imprensa, a corrupção sistêmica e modelos de investigação. Mas antes, representantes do Facebook Brasil fizeram uma exposição de como aperfeiçoar a comunicação dos profissionais de Segurança Pública e suas entidades representativas.
Gerente do Facebook na América do Sul e agente aposentado do FBI, Rick Cavalieros, falou sobre como utilizar as ferramentas disponíveis na maior rede social do mundo em investigações ou situações sensíveis, onde há risco de morte. Já a gerente de Políticas Públicas do Facebook Brasil, Deborah Delbart, apresentou boas práticas para auxiliar os profissionais e suas organizações a obterem melhores resultados e conseguirem atingir seus públicos-alvo na rede social.
Em outro momento, o jornalista Luís Humberto Carrijo explicou sobre a importância do relacionamento com a imprensa para a promoção de temas importantes para as carreiras de Segurança Pública.
O evento também recebeu o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, professor da FGV e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), Renato Sérgio de Lima, que também criticou o modelo adotado no País. “Nesse clima de ‘salve-se quem puder’, o diálogo com a população brasileira é necessário e o papel da imprensa, das polícias, dos órgãos do judiciário e do Ministério Público se torna fundamental para mostrar o tamanho do desafio que temos que enfrentar”, explicou.
Para o advogado criminalista, mestre em Direito Processual Penal e policial federal aposentado, Roberto Antônio Darós, que finalizou o primeiro dia de palestras, está na hora de implantar um novo procedimento de investigação criminal, “que seja moderno, célere e que efetivamente diminua as taxas de letalidade”.
Negligência do Setor Público
Já no segundo dia do Congresso, o tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo, mestre em Ciências Policiais de Segurança e comentarista da Rede Globo, Diógenes Lucca, palestrou sobre “A relação entre as fontes de Segurança Pública e a imprensa”.
Lucca defende o Ciclo Completo de Polícia e a redução da burocracia associada ao inquérito policial. “Ao adotar o Ciclo Completo de Polícia, diante de uma circunstância de menor potencial, por exemplo, o policial que faz a atividade preventiva e já conhece a região, poderia finalizar a investigação com mais precisão, dando uma resposta mais rápida aos cidadãos”, justificou.
O policial federal e palestrante, Rodimilson Uchoa, deu continuidade à programação pela manhã e fez um alerta sobre o abandono das fronteiras brasileiras e a falta de investimento do Governo em uma área que deveria ser prioritária no combate ao crime organizado.
De acordo com Uchoa, o Governo precisa pensar em políticas que considerem as dificuldades econômicas e sociais vividas pelos países vizinhos. Também precisa melhorar as condições para os profissionais de Segurança Pública que atuam nesses locais, sem qualquer aporte de suas instituições.
Modelos de investigação nos EUA e Canadá
Na tarde de quarta-feira, 22 de novembro, o presidente do SINDIPOL/DF, Flávio Werneck, e o presidente da Comissão de Legislação Anticorrupção da OAB, Antônio Rodrigo Machado, mediaram o debate entre os policiais Eliel Teixeira, xerife em Los Angeles (EUA), e Rob Salomão, da Polícia Real Montada do Canadá.
Os dois apresentaram métodos simples, mas que trazem grandes resultados no combate ao crime. “Os Estados Unidos já estruturaram a polícia de diversas formas, visando sempre a elucidação de 100% dos casos. Hoje trabalhamos com o Ciclo Completo de Polícia, um modelo extremamente eficiente e econômico para o Estado”, explicou Teixeira.
Outro modelo apontado por Rob Salomao como medida de eficiência no Canadá foi a adoção da Carreira Única nas polícias. “A Polícia Real Montada do Canadá desempenha o papel de polícia federal, estadual e municipal. Para ingressar é necessário ter o ensino médio completo. O título de bacharel em determinada área, sem o domínio das prerrogativas da função, não representa nada na polícia canadense”, enfatizou o policial. A afirmativa faz referência à reserva de postos de comando para profissionais formados em Direito.
O papel da imprensa e da ciência
Ainda pela tarde, o tema “O papel da imprensa na superação da crise de segurança pública e na cobertura da Lava-Jato” foi debatido pelos jornalistas Daniel Haidar, do El País, Neila Medeiros, do SBT, e Walter Nunes, da Folha de S. Paulo. “Jornalistas e policiais precisam ser mais parceiros para que possamos divulgar também os casos de sucesso”, argumentou a apresentadora do SBT Brasília, Neila Medeiros.
Daniel Haidar afirmou que teve poucas oportunidades de entrevistar agentes de Polícia Federal em sua carreira. Para ele, isso fomenta a falta de transparência das instituições policiais. “Os policiais não deveriam ser proibidos de falarem sobre o seu trabalho com a imprensa”, destacou.
Walter Nunes finalizou o debate evidenciando a fase importante que o País vive devido ao sucesso da Operação Lava-Jato. “O trabalho da PF nesta operação nos trouxe esperança. A cada novo desdobramento, ficamos felizes em divulgar que a justiça tarda, mas não falha”.
O policial federal e mestre em Física Bruno Requião finalizou a programação com um apelo. Ele espera que a ciência seja incorporada nas investigações criminais. “Nós não podemos mais ficar dependendo só de ideias abstratas ou de hipóteses. Precisamos levar a sério a ciência e a sua aplicação; não só na investigação criminal, mas no gerenciamento do enfrentamento ao crime no Brasil”, disse.
Diretor-Geral encerra programação
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, compareceu ao encerramento do Congresso. Ele deu mais um sinal de que pretende avançar no diálogo com os policiais federais. Segundo o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens, a presença foi “um gesto de respeito aos policiais federais”.
A exemplo de outras aparições públicas, Segóvia apostou em um discurso de união entre os cargos que compõem a Carreira. “A Polícia Federal vai continuar trabalhando com afinco em prol da sociedade brasileira. Não somos um, nem dois, nem quem aparece na frente das câmeras, somos 11 mil policiais federais [média de servidores na ativa]”, destacou.
“Você se sente seguro?”
Foram feitas projeções com os dados que revelam a dimensão da crise de Segurança Pública na cúpula do Museu. Entre os dados abordados estavam a quantidade de homicídios, estupros e roubos registrados no Brasil por ano; o impacto da violência para a economia do País e outros dados que reforçam a ineficiência do modelo policial brasileiro.
A ação teve por objetivo impor aos transeuntes a pergunta: “Você se sente seguro?”. As informações projetadas são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP); Confederação Nacional da Indústria (CNI); e Tribunal de Contas da União e foram levantados no período de 2013 a 2017.
O evento contou com o apoio do Governo Federal, Governo do Distrito Federal, Caixa Econômica Federal, Museu Nacional e da Secretaria de Estado de Cultura do DF.
Com informações da Agência Fenapef
Comments are closed.