CORRUPÇÃO
União fica com poucos bens apreendidos
Edson Luiz
Da equipe do Correio
Daniel Ferreira/CB – 25/10/06 |
O diretor da PF, Paulo Lacerda: dificuldades para obter ressarcimento |
A Receita Federal ainda consegue tapar a sangria leiloando bens ou aplicando pesadas multas. No caso da Polícia Federal, a situação é diferente e o ressarcimento aos cofres públicos acontece somente em alguns casos. “Quando há apreensões de bens do narcotráfico, muitas vezes conseguimos com que a Justiça reverta-os em favor da Polícia Federal. Mas em outros casos é difícil”, afirma o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.
Somente em 2004, a PF apreendeu cerca de R$ 255 milhões em bens, quase todo de pessoas envolvidas em fraudes contra a Previdência ou contra o poder público. No entanto, naquele ano, em apenas três de 41 operações, a PF constatou um rombo que chegava a R$ 295 milhões.
Em outros casos é o volume da apreensão que trava o uso ou mesmo o leilão dos bens em favor da União. Este é o caso de 400 caminhões que foram recolhidos em uma operação desencadeada pela PF e Receita Federal em vários estados, mas com o objetivo de prender uma única quadrilha, em 2005. Parte dos caminhões foi doada para o Exército, enquanto outros permanecem com a Receita.
Por vezes, o que impede a União de ter seus cofres ressarcidos é o valor dos bens apreendidos. Uma coleção de quadros de artistas renomados, como Di Cavalcanti e Portinari, teve que ficar no local onde a PF os achou. Sem ter local disponível em São Paulo, onde ocorreu a apreensão, e sem pessoas especializadas para cuidar das obras de arte, um banqueiro acusado de praticar crime contra o sistema financeiro, e dono dos quadros, ficou como seu fiel depositário.
Impostos
Em Pernambuco, a Receita Federal e Estadual e a Polícia Federal descobriram uma quadrilha que vendia leite falsificado para escolas públicas. Além de usar substâncias proibidas na industrialização do produto, o grupo era suspeito de fraudar licitações públicas. Foram apreendidos 110 toneladas de leite em pó, mas condenado pelas autoridades sanitárias. O leite foi jogado fora e a União e o estado ficaram no prejuízo por causa dos impostos sonegados e das irregularidades nas concorrências. Quando se trata de irregularidades administrativas, a situação ainda piora para que o poder público seja ressarcido.
O primeiro caminho normalmente traçado pela Controladoria-Geral da União (CGU) é enviar os processos para o Tribunal de Contas da União (TCU), onde a tramitação é lenta por causa do excesso de ações. “É um indíce muito baixo de ressarcimento”, reconhece o ministro da CGU, Jorge Hage. No TCU, em geral há condenação e o processo vai para a fase de cobrança judicial, onde a lentidão continua, também por causa do acúmulo de casos e dos recursos protelatórios.
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