Novos personagens aparecem envolvidos no suposto esquema de corrupção
Sabrina Pizzinato
Nas mais de duas horas de esclarecimentos que Durval Barbosa, ex-secretário de relações institucionais do GDF, prestou à relatora da Comissão, Erika Kokay (PT), na última quinta-feira (29), no Instituto de Investigação da Polícia Federal (PF), ele afirmou em depoimento – que deveria ser sigiloso – que o suposto esquema teria começado em novembro de 2002, ainda no governo de Joaquim Roriz (PMDB à época, atualmente PSC), quando o ex-governador confiou a Companhia de Planejamento (Codeplan) a José Roberto Arruda. As informações caíram na internet.
No esquema que teria desviado ao menos R$ 160 milhões, novos personagens aparecem no escândalo, citados por Barbosa. O distrital Batista das Cooperativas (PRP), relator do processo de cassação do ex-governador, seria “beneficiário de muitas coisas”, enquanto os deputados distritais Doutor Charles (PTB) e Roney Nemer (PMDB) recebiam aproximadamente R$ 80 mil de propina mensais cada.
Ontem, em nota esclarecedora, Batista das Cooperativas classificou a versão do ex-secretário de “fantasiosa”. Ele afirma, ainda, não sofrer acusação alguma. “Trata-se de revanchismo por parte dele, pois no dia 30 de março, na oitiva da CPI, da qual faço parte, realizada na Superintendência da Polícia Federal, desafiei esse senhor que não o considerava um herói e, sim, que o papel dele dentro do governo foi nefasto”.
Também por meio de nota, Roney Nemer se manifestou, dizendo nunca ter participado de qualquer esquema de corrupção. Ele afirma acreditar no trabalho da PF. “Fui o primeiro a abrir meus sigilos fiscal, bancário e telefônico com o intuito de colaborar com as investigações da Polícia Federal”, defende-se.
Por telefone, Dr. Charles disse que Durval não tem prova alguma sobre as acusações que chamou de “hilárias” e avisou que pretende processar o ex-secretário pelas acusações. “Será que ele fez isso porque foi contrariado em algum interesse?”, alfineta.
Hoje, às 14h30, o vice-presidente da Câmara Legislativa, deputado Cabo Patrício (PT) deverá reunir-se com a Mesa Diretora para analisar a possibilidade de iniciar um processo de falta de decoro parlamentar contra Batista das Cooperativas e Dr. Charles.
Sobre o vazamento do depoimento de Barbosa, Batista das Cooperativas foi enfático. “Nosso gabinete recebeu as notas taquigráficas do depoimento somente hoje (ontem), com data retroativa ao dia 30. Na noite de ontem (domingo), porém, a imprensa já noticiava tudo antes mesmo de eu e a Eurides (Brito) termos acesso ao documento. Essa oitiva foi feita escondida”. O distrital quer o afastamento de Kokay da relatoria da Comissão.
Os outros membros da Comissão, deputados Paulo Roriz (DEM) e Raimundo Ribeiro (PSDB), afirmaram ter recebido a íntegra das notas taquigráficas na última sexta-feira (30), porém negam qualquer envolvimento no vazamento – ambos assinaram um documento impedindo a divulgação das notas – das informações e concordam que o fato teve ser apurado rigorosamente.
Kokay diz já ter aberto uma investigação para saber o que houve. Por meio da assessoria de imprensa, ela afirma que já conversou com a chefe da taquigrafia e pretende chamar os demais funcionários – entre técnicos e assessores – que estiveram presentes no depoimento de Barbosa para elucidar o caso. A assessoria da parlamentar, afirma ainda que a cópia com o testemunho do ex-secretário já foi encaminhada às autoridades pertinentes e ao Ministério Público. Mesmo com a exposição das informações, a Comissão deliberou e aprovou, por unanimidade, a legitimidade da declaração.
Mais acusações
Ainda de acordo com as declarações de Barbosa, Arruda, juntamente com o ex-vice governador Paulo Octávio (sem partido, ex-DEM) e o empresário José Celso Gontijo seriam sócios na construção de um empreendimento imobiliário em Taguatinga e que aliados do ex-governador receberiam propinas de empresários para realizar alterações no Plano Diretor de Orçamento e Territórios (PDOT).
Em resposta, a assessoria de imprensa das Organizações Paulo Octavio divulgou ontem uma nota na qual afirma que “o empreendimento citado, localizado na área do Pistão Sul, é propriedade exclusiva da Fundação Habitacional do Exército, FHE, e da Dom Bosco Empreendimentos Imobiliários S.A. (empresa pertencente à Paulo Octavio Investimentos e Via Empreendimentos), sem qualquer vínculo com a JC Gontijo e o ex-governador José Roberto Arruda”. Ainda de acordo com a nota, a FHE se tornou proprietária do terreno em 1997 e (o terreno) nunca foi objeto de qualquer mudança no PDOT.
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