Durante depoimento à CPI dos Grampos, diretor de inteligência da Polícia Federal afirma que participação de agentes da Abin na Operação Satiagraha foi “deslealdade”
O delegado Daniel Lorenz, diretor de Inteligência da Polícia Federal (DIP), condenou ontem, em depoimento à CPI dos Grampos, a participação de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na operação Satiagraha, deflagrada
Num depoimento contundente, o chefe da inteligência da PF revelou que pediu a transferência de Protógenes Queiroz da sua diretoria depois que soube por um delegado da PF que o responsável pela Satiagraha havia levantado a suspeita de que foi ele quem repassou, em abril, informações à Folha de S.Paulo que antecipava dados da operação que culminou na prisão do banqueiro Daniel Dantas. Queiroz foi transferido para a Diretoria de Combate ao Crime Organizado (Decor).
“Eu não admito que um policial venha levantar suspeita contra mim”, declarou, classificando o episódio como “maledicência”. Procurado em casa ontem à noite, o delegado Protógenes Queiroz não retornou às ligações da reportagem. Daniel Lorenz disse que, quando assumiu a DIP em setembro do ano passado, decidiu retirar da sua diretoria as grandes operações da PF e colocá-las para serem tocadas pelas superintendências estaduais.
Lorenz afirmou que só deixou Protógenes tocando a investigação da Satiagraha na DIP a pedido de Renato da Porciúncula, ex-chefe da diretoria que se tornou assessor especial da Abin. Segundo ele, o mesmo pedido foi feito por Paulo Lacerda, chefe da PF que assumiu a agência de inteligência, ao então empossado diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Lorenz e Corrêa, disse, aceitaram os pedidos.
O chefe do setor de inteligência da PF disse que só soube da atuação de servidores da Abin quando reconheceu o agente Márcio Seltz no andar do edifício-sede onde policiais federais analisavam dados da operação. O titular da DIP afirmou que determinara a Protógenes o afastamento do servidor da Abin, no fim de março, no que foi prontamente atendido.
Lorenz declarou que apenas soube da participação de 56 servidores da Abin posteriormente à deflagração da Satiagraha. “Isso não é uma deslealdade só comigo, mas também para com o departamento”, criticou o chefe da DIP, que classificou essa cooperação de ilegal. “Essa se revelou um fracasso em termos de fiel cumprimento do nosso manual de gestão”, completou. Ele lembrou que o juiz responsável pela operação, Fausto de Sanctis, não autorizou “o compartilhamento de informações” da Satiagraha com servidores da Abin.
Recursos
O diretor de inteligência refutou as afirmações de Protógenes Queiroz de que houve falta de pessoal e recursos financeiros na operação. Ao mostrar números que apontariam a falta de necessidade do apoio da Abin, Lorenz disse que a operação – uma das três maiores dos últimos anos da PF – custou cerca de R$ 400 mil e envolveu 25 policiais durante as investigações e 200, no dia da operação.
Segundo Lorenz, houve um “descompasso entre a quantidade de recursos ofertados e o resultado”. “É muito dinheiro”, declarou, ressalvando que “isso não quer dizer que a operação está invalidada”. Para Lorenz, é um “engodo” afirmar que as 10 maletas de varreduras da PF são capazes de fazer grampos telefônicos. “De maneira bastante restrita, ela pode funcionar como um equipamento para realizar a interceptação”, admitiu, embora ressalte que os equipamentos possuem “profundas limitações técnicas” para fazê-la. Ele negou em maio um pedido de Protógenes para usá-la.
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