Presidente da Câmara dos Deputados interrompe sessão para comunicar atentado. Bancadas do DF e de Goiás mobilizam-se por mais recursos para combater a criminalidade no Entorno Guilherme Queiroz e Denise Rothenburg Da equipe do Correio
O diretor presidente do Correio, Álvaro Teixeira da Costa, condenou com veemência o ato de violência cometido contra o repórter do Estado de Minas. “Não vamos nos intimidar com o crime, mas é preciso uma ação institucional integrada para interromper a escalada de violência na região”, defendeu. Diretor de redação do Correio Braziliense e do Estado de Minas, Josemar Gimenez demonstrou indignação com o atentado. Foi uma tentativa covarde de calar não só o repórter Amaury Ribeiro Jr., mas a imprensa que investiga e denuncia os graves problemas do país. Mas nós continuaremos com o nosso trabalho, afirmou o jornalista. O deputado Rodrigo Rollenberg (PSB-DF) se encarregou de comunicar o fato ao plenário da Câmara. “Esse episódio é mais um exemplo de que a violência saiu de controle nas cidades que cercam o Distrito Federal. É preciso uma atuação rápida para conter o quadro”, protestou. Da tribuna, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Luiz Couto (PT-PB), atribuiu a autoria do tiro que atingiu o jornalista a membros de quadrilhas que atuam na região. “Tem mandante nesse crime. Ele, com certeza, foi vítima da ação de bandidos do crime organizado do Entorno”, afirmou. Couto prometeu cobrar do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do secretário Nacional de Segurança Pública, Antônio Carlos Biscaia, a apuração rigorosa do episódio. O senador Cristovam Buarque (PT-DF) disse que proporá hoje a formação de uma comitiva de senadores do DF em conjunto com os seis que representam Goiás e Minas Gerais – estados que abrigam os municípios do Entorno – para reivindicarem junto ao Ministério da Justiça a imediata atuação da Força Nacional de Segurança nas cidades para combater a violência e o tráfico de drogas. “É uma situação muito grave. Mostra a crueldade da violência, de criminosos que se sentem impunes a ponto de atentarem contra a vida de um jornalista”, disse. O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) enviou um telegrama de solidariedade ao diretor presidente do Correio Braziliense e também defendeu que as tropas da Força Nacional de Segurança saiam logo às ruas para conter a bandidagem no Entorno. “A corajosa cobertura jornalística que o Correio vem fazendo e revelando a violência no Entorno atiçou as quadrilhas. Foram essas reportagens que levaram o governo a sair da letargia e o governo federal a assumir, junto com os governos do Distrito Federal e de Goiás, a responsabilidade de conter a violência. O Entorno sempre foi considerado terra de ninguém”, defendeu. Emendas A partir das 9h, deputados e senadores do Distrito Federal reúnem-se com parlamentares de Goiás para debater a destinação de emendas à Lei Orçamentária de 2008 para reforçar os recursos previstos para o combate à criminalidade nos municípios que compõem a região do Entorno. Considerado tema prioritário das duas bancadas, as medidas de combate à criminalidade ganharam reforço nos discursos dos representantes com o atentado contra o jornalista. O encontro estava marcado desde o início da semana para discutir com o líder da bancada do Centro-Oeste, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), o direcionamento de verbas parlamentares para aprimorar as estruturas de segurança pública no Entorno. Diante do episódio, os parlamentares entendem que se tornou mais urgente articular a convergência do objeto das emendas individuais dos 25 deputados e seis senadores que representam o DF e Goiás. |
Força-tarefa O Procurador-Geral do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Leonardo Bandarra, agendou reunião para a próxima semana com os colegas do Ministério Público de Goiás (MPGO). O objetivo é discutir a situação de violência e buscar soluções conjuntas para a região do Entorno. Bandarra pretende formar uma força-tarefa entre os dois estados em que se definam em que pontos de colaboração entre os órgãos de Justiça. “O Entorno não pode ser tratado de forma separada do DF, é preciso aliar forças para ter um combate efetivo e eficaz”, afirmou Bandarra. Segundo o procurador-geral do MPDFT, problemas burocráticos como a demora na citação de réus podem ser agilizados com a realização de convênios entre os Tribunais de Justiça do DF e Goiás. |
Perplexidade na CLDF Lourenço Flores Da equipe do Correio Os deputados distritais reagiram com indignação e perplexidade à notícia de que o jornalista Amaury Ribeiro Jr., do Correio Braziliense, havia sido baleado no final da tarde de ontem enquanto prosseguia na apuração da série de reportagens sobre a violência no Entorno do Distrito Federal. Ao saber do ataque, o presidente da Câmara, Alírio Neto, que fez carreira como delegado da Polícia Civil de Brasília, pediu um encontro com o governador José Roberto Arruda, para solicitar informações sobre as investigações e decidir o mais rapidamente possível o que se pode fazer para enfrentar mais duramente a questão da violência no Entorno. O líder do governo Arruda na Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), ficou chocado com a informação do ataque ao repórter. “Essa tentativa de intimidação violenta à imprensa é, claramente, também uma afronta ao governo. Isso é uma provocação que os bandidos fazem ao Estado”, declarou Prudente, ontem à noite. Ele fez questão de dizer que o “recado” pode ter sido uma ação contraproducente para os criminosos. “É uma questão gravíssima, que apenas reforça a decisão do governador de investir ainda mais na região. Mas precisamos do apoio decisivo e agressivo dos governos federal e de Goiás”, arrematou. José Antônio Reguffe (PDT) considerou o episódio “um lamentável absurdo”. Para Reguffe, o que ocorreu mostra que, “pela ausência do poder público durante anos”, o Entorno se transformou em “uma verdadeira Baixada Fluminense, em seu pior sentido”. O deputado defendeu uma apuração riogorosa e profunda, mas “sem cometer injustiças”. O deputado Cabo Patrício (PT) fez uma análise semelhante, atribuindo à “ausência prolongada do estado” a situação de extrema violência que toma conta das cidades do Entorno do DF. “O que o Correio tem feito é apenas refletir a realidade da região. A comunidade inteira está à mercê da violência”, afirmou Cabo Patrício. O petista avalia que os governos do DF, de Goiás e federal precisam fazer mais do que apenas enviar agentes da Força Nacional. “Se for apenas isso, não irá funcionar. São necessárias ações sociais e valorização das institutições policiais”, argumenta. |
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