A greve iniciada pelos policiais federais chamados de EPA (escrivães, papiloscopistas e agentes) não é um movimento paredista comum. Ele ultrapassou as expectativas dos sindicatos e os comandos de greves foram liderados pelas bases de servidores, tornando o movimento algo genuíno, diferente, e ao mesmo tempo espetacular.
O movimento EPA surgiu de forma inédita, quando uma mesa conjunta de negociação com o governo foi interrompida pelas associações de delegados e peritos, que preferiram se unir a auditores e advogados da União, e deram as costas aos demais policiais. E uma reação coletiva inédita na história da PF surgiu.
De norte ao sul do país, sejam em grandes superintendências ou pequenas delegacias, a iniciativa e participação foram impressionantes. Mas qual o motivo para este fenômeno, se o EPA sempre foi desprestigiado oficialmente, e já sabíamos que a tendência era a costumeira truculência do Governo Federal, sem oportunidade de um diálogo franco para melhorar a PF?
A resposta é simples. Nas últimas semanas, servidores participaram de um desabafo coletivo, num protesto contra um ambiente de assédio moral oficial que destrói gradativamente a autoestima das pessoas. Independente do esforço, dedicação ou grau de especialização, é sintomática para os EPA´s a impotência diante de um sistema burocrático, desleal e que suga energias.
Esse mecanismo maquiavélico funciona movido pelo inconsciente coletivo, alimentado pela ruptura estrutural de abismos salariais, em que um lado levita através de simbólicos fenômenos garantidores de status e o outro sucumbe ao não resistir contra um material genético podre herdado de um modelo policial que serviu para reprimir e matar na ditadura.
Não adianta contestar dados oficiais, que apontam os suicídios, a evasão, a disparidade de vencimentos de cargos de nível superior e a absurda ineficiência do modelo gerencial e investigativo que, SIM, desperdiçam recursos públicos enquanto a sociedade testemunha o crescimento da criminalidade.
Diante de tanta revolta e indignação, como enfraquecer um movimento instintivo?
A análise técnica dos pleitos mostrou o incontestável, são profissionais que exercem atividades complexas, e por isto fecharam a mesa de negociações no MPOG. E O MOVIMENTO CRESCEU…
Fizeram uma proposta única que ignorou três anos de negociação e sequer recompõe as perdas inflacionárias dos próximos três anos e novamente ameaçaram romper o diálogo. NEGAMOS E O MOVIMENTO CRESCEU…
Então, ignorando uma Constituição Federal que preserva a lesão sem possibilidade de defesa, ameaçaram abruptamente o corte de ponto. TAMBÉM NÃO ADIANTOU, E O MOVIMENTO CRESCEU.
O corte de ponto então começou, e vários sindicatos perderam suas ações judiciais, mas contrariando as expectativas, o movimento nacional EPA cresceu. O CORTE TAMBÉM NÃO ADIANTOU.
Com a proximidade das eleições municipais, a sociedade e a imprensa começaram a perceber que o objetivo dos policiais EPA não era somente salário, mas uma PF melhor. Mesmo sentenciando a proibição de operações-padrão, o STJ reconheceu que a greve era justa. E O GOVERNO FEDERAL NA DÚVIDA: O QUE FAZER?
A resposta é simples: PROVOCAR UMA MEDIDA JUDICIAL QUE TENTE INVIABILIZAR O EXERCÍCIO DE UM DIREITO CONSTITUCIONAL.
Dito e feito.
Há poucas semanas a associação nacional dos delegados ameaçou covardemente a presidenta do TSE em relação às eleições municipais, e os sindicatos corrigiram essa aberração e juraram seu compromisso pela cidadania.
A direção da PF nada fez em relação à ADPF, mas mesmo diante do compromisso dos sindicatos perante o TSE, através da AGU, requereu ao STJ a proibição da greve dos policiais federais a partir desta última segunda-feira, 24, até 28 de novembro.
O ministro Herman Benjamin do STJ, na última sexta-feira, 21, considerou a greve um movimento legítimo, mas estabeleceu severos percentuais que reduzem drasticamente a quantidade de policiais federais em greve.
E resta agora uma dúvida: essa última cartada do Governo Federal vai suspender a greve? VAI CESSAR O MOVIMENTO?
NÃO. A SOCIEDADE JÁ SABE QUE O MOVIMENTO EPA NÃO TRATA SOMENTE DE SALÁRIO. É UMA LUTA POR DIGNIDADE.
Nas grandes capitais, nas unidades da Polícia Federal com maior efetivo de policiais, essa medida judicial não surtirá tanto efeito, pois restarão dezenas de policiais-ativistas que continuarão uma campanha de conscientização da sociedade em relação à triste realidade da PF.
As manifestações, as passeatas, os atos públicos serão realizados preferencialmente ao final do dia, para contar com os policiais federais que estarão cumprindo os percentuais exigidos pelo STJ.
Certamente o número de policiais federais participantes dos atos públicos NÃO SERÁ ALTERADO, pois a greve continua, e o fato de um servidor não estar em greve NÃO O IMPEDE de participar das agendas sindicais e continuar contribuindo.
Para cumprir os percentuais, as escalas de rodízio vão promover uma distribuição semanal de competências dentro da greve, que considerada legítima, continuará levando para a sociedade um pedido de socorro.
A revolta, a indignação e a mudança de comportamento certamente vão acompanhar cada policial EPA que voltar ao trabalho, pois ele exigirá respeito e reconhecimento, e lutará cada vez mais pelos seus direitos.
A união, a confraternização e a vontade de exigir a valorização dos policiais EPA crescerá cada vez mais, pela dedicação daqueles que ficarão em greve, e a solidariedade aumentará.
Afinal, quando o Governo Federal vai perceber que não estamos somente numa greve?
COMANDO DE GREVE / MINAS GERAIS
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