Lacerda refutou as acusações feitas por Daniel Dantas de que a Satiagraha teria sido feita em retaliação ao banqueiro
Em depoimento, diretor nega que a agência tenha feito escutas telefônicas no gabinete do presidente do STF, Gilmar Mendes
O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), afirmou ontem, em depoimento à CPI dos Grampos, que a atuação da agência na Operação Satiagraha se limitou à realização de consultas em bases de dados abertas, pesquisas, análises de material e confirmação de endereços -inclusive com trabalhos externos.
Segundo ele, não há nenhum documento que tenha formalizado o pedido de apoio da Polícia Federal à Abin, mas que esse tipo de cooperação entre órgãos da administração pública é normal. Conforme Lacerda, a agência cumpriu todos os trâmites burocráticos para a realização do trabalho.
Lacerda refutou as acusações feitas por Daniel Dantas de que a Satiagraha teria sido desencadeada em retaliação ao banqueiro. Disse que isso é uma estratégia de defesa formulada pelos advogados dele.
O diretor confirmou que há dois indícios de que Dantas realizou escutas telefônicas ilegais. Uma teria sido feita com a ajuda da empresa americana Kroll para investigar os passos da Telecom Italia. O outro indício teria sido detectado em um inquérito, aberto a pedido de Lacerda, para checar se ele tinha contas no exterior, conforme consta de um dossiê que teria sido produzido a mando de Dantas e divulgado pela “Veja”.
Na CPI, na semana passada, Dantas disse que a PF articulou a Satiagraha porque o diretor da Abin sentiu-se incomodado com a reportagem da revista. No depoimento, Lacerda negou que a Abin tenha realizado grampos no Supremo Tribunal Federal ou em qualquer “local público ou privado”, conforme sugerido em reportagem publicada pela “Veja”. Ele desqualificou a notícia divulgada, que responsabilizou a agência por fazer escutas direcionadas ao presidente do STF, Gilmar Mendes. “Penso ser inaceitável que repórteres se aventurem em reportagem sem nenhuma base em fatos ou que se lancem meras ilações, e mesmo suposições fundadas em meias verdades. A matéria da revista “Veja” foge ao padrão de isenção jornalística que há muitos anos mantém a credibilidade daquele veículo”, disse.
Sem dar detalhes de quantos agentes participaram da Satiagraha, ele disse que a atuação é juridicamente sustentável e foi pedida pelo delegado Protógenes Queiroz, que comandava a operação, para conhecidos seus na agência. Esses agentes, segundo Lacerda, levaram a reivindicação a seus superiores, que, por sua vez, comunicaram a ele. Todos autorizaram a atuação, com a anuência final do próprio Lacerda, que disse não ter recebido informações sobre a operação.
Em nota divulgada em 14 de julho, a Abin afirmou que a “Direção Geral não tem e não teve nenhuma participação ou iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram na referida operação policial”. Advogado de Dantas, Nélio Machado negou que seu cliente tenha realizado escutas clandestinas. A “Veja” não se manifestou sobre as críticas.
Sobre o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, Lacerda disse que, o Gabinete de Segurança Institucional, pediu informações sobre investigações contra Humberto Braz, aliado de Dantas. Ontem, a Câmara prorrogou a CPI por mais 90 dias, ou seja, até dezembro.
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