Marcada para concluir os trabalhos no dia 13 de dezembro, a CPI dos
José Varella/CB/28.10.05 |
Serraglio concorda com o adiamento, mas quer priorizar os alvos da investigação como nos fundos de pensão |
Correios deve estender suas investigações até o mês de abril do próximo ano. Um requerimento com cerca de 200 assinaturas de deputados e senadores de todos os partidos — 28 a mais do mínimo necessário — pede a prorrogação do prazo da comissão. O pedido alega que as operações bancárias realizadas pelos fundos de pensão de estatais e pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) não foram inteiramente analisadas. Além desses setores, os parlamentares ainda não investigaram a movimentação financeira em paraísos fiscais feita pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o patrocinador do mensalão e do caixa 2 do PT.
Toda a cúpula da CPI defende a prorrogação do prazo. O relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), concorda com o adiamento, mas defende a limitação de temas das futuras investigações aos fundos de pensão, IRB e movimentações financeiras de Valério no exterior. Os governistas são contra.
O primeiro relatório setorial sobre as movimentações financeiras será apresentado quinta-feira pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Ele vai propor o indiciamento por vários crimes — lavagem de dinheiro, corrupção, prevaricação, tráfico de influência, entre outros — de Marcos Valério, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, do antigo diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, e da própria mulher do publicitário, Renilda, sua sócia nas empresas. O relatório de Fruet também será encaminhado à Procuradoria Geral da República para que os envolvidos sejam processados civil e criminalmente por vários crimes e irregularidades administrativas.
Fantasia
No relatório, Fruet também vai contestar a versão de que os empréstimos bancários tomados nos bancos Rural e BMG foram a fonte do dinheiro transferido por Valério ao PT. O empresário mineiro também distribuiu recursos a mando de Delúbio a parlamentares do PP, PFL, PMDB, PL e PTB. “Os empréstimos são uma fantasia, vamos comprovar”, disse. Ele acrescentou que apontará as quatro fontes potenciais de financiamento do esquema montado por Valério. Uma delas é o Banco do Brasil que no ano passado antecipou R$ 35 milhões ao publicitário para que a DNA Propaganda fizesse a publicidade do cartão Visa-Ourocard, administrado pela Visanet.
Outra fonte de recursos a ser apontada por Fruet são os contratos de publicidade da agência de Valério com os Correios. A CPI suspeita de superfaturamento nos preços dos serviços prestados. O deputado disse que na ECT há fortes indícios de preços acima dos valores de mercado cobrados por Valério pelas campanhas de propaganda. “Houve sobra de dinheiro nas contas do publicitário e o excesso pode ter sido transferido ao PT”, explica. A terceira fonte de recursos, segundo Fruet, pode ter sido o setor privado. Interessados em tráfico de influências, empresários podem ter abastecido o valerioduto.
A quarta possível fonte de recursos, de acordo com Fruet, é a bonificação recebida por Valério nos contratos de publicidade. Para o tucano, o empresário movimentou, entre 2003 e meados deste ano, quase R$ 150 milhões em contratos. Considerando que a bonificação por volume de 10% a 20% — a CPI acredita que este rendimento também pode ter sido utilizado para abastecer o mensalão. Em alguns casos, segundo Fruet, os descontos obtidos por Valério deveriam ser devolvidos às estatais, como previa o contrato. O deputado Eduardo Paes ( PSDB-RJ) disse que existem interesses de membros da comissão em ouvir o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. “Queremos saber por que existe tanta dificuldade para se obter informações no Ministério da Justiça”, reclamou Paes.
SUSPEITAS DO PF
A Polícia Federal suspeita que o relatório sobre suposta manobra do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica (DRCI) do Ministério da Justiça para dificultar investigação sobre as contas do publicitário Duda Mendonça no exterior tenha vazado no consulado brasileiro de Nova York. O documento foi enviado ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, por um dos delegados que viajou aos Estados Unidos. Foi no consulado que o delegado redigiu o ofício e o transmitiu para Lacerda. O autor teria deixado cópia no computador. O teor do documento vazou para imprensa e acirrou o mal-estar entre a PF e o DRCI. Policiais federais se queixam da intermediação do órgão para ter acesso às informações.
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