O delator da Operação Caixa de Pandora, Durval Barbosa, recusou ontem recomendação da Polícia Federal (PF) para ingresso no Programa de Proteção à Testemunha, do Ministério da Justiça. Não aceitou, assim, deixar a casa em Brasília, mudar para outra cidade e trocar de identidade, como forma de se resguardar de possível atentado à sua vida. A Secretaria de Segurança Pública do DF informou que, desde ontem, a Polícia Civil não está mais responsável pela escolta de Durval. Criou-se, assim, um impasse, uma vez que a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, responsável pelo Inquérito nº 650 em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre as denúncias do Mensalão do DEM, defende a manutenção da segurança do colaborador das investigações.
Em petição encaminhada ao ministro Arnaldo Esteves Lima, relator do processo no STJ, a subprocuradora reiterou pedido de proteção que havia feito em março do ano passado. Raquel Dodge avalia que Durval corre risco de morte em virtude das denúncias que fez envolvendo políticos e empresários e pelo conhecimento que dispõe sobre o esquema de corrupção desbaratado pela Caixa de Pandora. Ao se negar a abandonar a vida atual, Durval alegou que tem residência fixa em Brasília, aposentadoria como delegado da Polícia Civil e está num embate judicial com a ex-mulher Fabiani Barbosa, pela guarda de dois filhos, com 3 e 6 anos. Ele também sustenta que vem prestando depoimentos no DF em vários órgãos de investigação e deverá participar como testemunha-chave da fase de instrução criminal nos processos relacionados a desvios de recursos do GDF.
Para a Polícia Federal, no entanto, não há como manter uma escolta aos moldes do que vinha ocorrendo nos últimos meses. Desde o ano passado, Durval era protegido por 16 policiais civis da Divisão de Operações Especiais (DOE), que se dividiam em turnos. A guarda pessoal acompanhava o ex-secretário de Relações Institucionais do DF em todos os compromissos externos e fazia a proteção na porta da casa dele, localizada num condomínio na região do Jardim Botânico. Durval alegou também que não pode se afastar da capital porque a mulher dele, Kelly Melchior, está grávida de gêmeos e quer fazer o pré-natal com médicos de Brasília.
Ameaça
A assessoria da Secretaria de Segurança Pública do DF afirma que a transferência para a PF ocorreu oficialmente na tarde de ontem. De acordo com pessoas próximas a Durval, ele está sem proteção desde a última sexta-feira. Na semana passada, o delator da Caixa de Pandora teria recebido uma carta com um plano para matá-lo, segundo relato de Durval aos advogados. O planejamento teria sido frustrado pela denúncia feita por um dos envolvidos no grupo contratado para o serviço. Não se sabe de quem teria partido o pedido de assassinar o ex-secretário de Relações Institucionais do DF. Não é a primeira vez que isso acontece. No ano passado, policiais civis também descobriram um plano semelhante em andamento.
Envolvido em vários crimes, Durval acumulou inimigos, principalmente depois que decidiu contar detalhes sobre o esquema de corrupção que montou com contratos de informática. Segundo o Ministério Público, ele tem colaborado e tem sido coerente nos depoimentos sobre o crime organizado.
O testemunho dele já produziu duas denúncias no STJ, 23 no Tribunal de Justiça do DF e três no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, além de 10 ações de improbidade administrativa propostas pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc) do Ministério Público do DF que já resultaram no bloqueio dos bens do próprio Durval e de 10 políticos.
Mesmo com os benefícios da delação premiada, Durval já foi condenado a 15 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e dispensa ilegal de licitação.
A Justiça bloqueou bens que pertenciam ao esquema de corrupção liderado por Durval, como um empreendimento imobiliário em Águas Claras com 200 apartamentos e 80 lojas; um helicóptero; um avião; uma lancha; vários terrenos; R$ 4 milhões em espécie e R$ 43 milhões em contas correntes.
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