Fonte: Jornal do Comércio
É triste a constatação. Mesmo se sabendo que a corrupção existe em todas as partes do mundo, a que nos machuca a consciência e que atormenta a vida nacional é aquela que ocorre no Brasil. Infelizmente, para Porto Alegre e o Rio Grande do Sul, tivemos escândalos envolvendo até secretários, o que conspurca a imagem do Estado e da Capital, com a corrupção no licenciamento ambiental. Quanto mais se burocratiza uma área pública visando a acabar com desvios de conduta, aí mesmo parece que ela, a corrupção, enraíza-se e fica mais fácil. Isso desanima a autoestima coletiva. Parece, então, que a corrupção está na cultura brasileira. Nesta segunda-feira, a Polícia Federal realizou uma operação para prender suspeitos de integrar uma quadrilha que desviava dinheiro público a partir de fraudes em licitações em 10 estados e no Distrito Federal. A Operação Esopo cumpriu, ao todo, 101 mandados judiciais, sendo 25 de prisão temporária, 12 de condução coercitiva, que obriga a pessoa a ir à delegacia e prestar depoimento, além de 44 mandados de busca e apreensão e 20 de sequestro de bens móveis e imóveis.
Não temos estruturas corruptas, mas, sim, pessoas corruptas. E isso existe em qualquer lugar. Nas famílias, na vizinhança do local em que moramos, em empresas de todos os ramos e até nas universidades. No entanto, há certos setores em que saber de malfeitos nos desanima e leva ao desalento, ficando alguns, como dizia Ruy Barbosa, com vergonha de serem honestos. É a sensação que fica quando se sabe que Justiça Federal em São Paulo condenou um auditor da Receita Federal a 11 anos e meio de prisão, em regime fechado, por formação de quadrilha e crime contra a ordem tributária. É a primeira sentença judicial no âmbito da Operação Paraíso Fiscal, força-tarefa da Polícia Federal, da Receita e da Procuradoria da República. Desencadeada em 2011, a Paraíso Fiscal revelou os métodos de organização criminosa formada por auditores que montaram amplo esquema de corrupção na delegacia do fisco em Osasco, na Grande São Paulo. A Receita avalia o caso como um marco no combate aos malfeitos em seus próprios quadros. A Procuradoria da República acusa auditores de causarem prejuízos estimados em R$ 2 bilhões aos cofres públicos entre 2001 e 2011, por meio da venda de fiscalizações. Em troca de propinas, os auditores anulavam autuações milionárias a empresas ou reduziam substancialmente os valores da sanção. Vigarice também das empresas envolvidas, ou seja, a corrupção tem duas pontas de malfeito: quem se vende e quem oferece propina. O auditor condenado é dono de pousadas no Morro de São Paulo, na Bahia, avaliadas em R$ 30 milhões. No forro da residência de outro auditor, a PF apreendeu R$ 2,5 milhões e US$ 2,5 milhões em dinheiro vivo.
Entende-se bem a sensação de impotência quando o cidadão vê se agigantarem tantas denúncias de corrupção ou de total falta de ética no trato da coisa pública. Porém, temos que começar a raciocinar sobre quem compõe, elege e mantém essas instituições que somos nós todos. Reclamar de certos políticos e, incoerentemente, votar neles nas próximas eleições é um desses descalabros da cidadania, a base de desmandos que são noticiados semanalmente. Começa aí o grande enredo da corrupção nacional.
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