Durante depoimento na CPI dos Grampos, ex-agente do SNI volta a negar envolvimento na interceptação telefônica contra Gilmar Mendes
Ambrósio (e) com Itagiba, durante depoimento na CPI dos Grampos: “Sinceramente, eu acho que não valeu a pena (participar da operação)”
O ex-agente do Serviço Nacional de Informação (SNI) Francisco do Nascimento Ambrósio negou ontem, na CPI dos Grampos, que tenha interceptado a conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, com o senador Demostenes Torres. No depoimento, Francisco Ambrósio repetiu o que disse em entrevista ao Correio, publicada dia 12, de que sua atuação na Operação Satiagraha se resumiu a selecionar documentos, como e-mails, para eventual análise de agentes envolvidos na ação, coordenada pelo delegado Protógenes Queiroz. “Sinceramente, eu acho que não valeu a pena (participar da operação)”, declarou.
No entanto, em um ato falho, o ex-agente do SNI falou espontaneamente que uma jornalista da Folha de S. Paulo, autora de uma reportagem de abril passado que antecipava detalhes da operação, não foi grampeada. A jornalista lhe procurou para saber se seu telefone havia sido interceptado em 3 de setembro último, depois que uma reportagem de IstoÉ o apontou como coordenador de uma equipe de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fizeram grampos na Satiagraha.
Logo após a declaração, o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) perguntou-lhe como poderia fazer tal afirmação, uma vez que sempre negou ter feito grampos. “No meu conhecimento, eu afirmo que não teve grampo”, reparou-se. Francisco Ambrósio revelou que, na véspera da publicação da reportagem da IstoÉ, encontrou-se com o diretor-geral adjunto da Abin, Milton Campana, o assessor especial Renato Porciúncula e o diretor de Contra-Informação, Paulo Maurício Fortunato. Segundo ele, os integrantes afastados da cúpula da Abin queriam saber detalhes da matéria. Da conversa, disse, ficou acertado que Porciúncula iria acompanhá-lo no depoimento que daria à Polícia Federal no inquérito que investiga o grampo contra autoridades. Porciúncula, porém, não apareceu. O espião negou que a cúpula da Abin tenha tentado direcionar seu depoimento à polícia.
Indicações
Também ouvido ontem, o sargento da Aeronáutica Idalberto de Araújo disse que foi ele quem apresentou Francisco Ambrósio a Protógenes Queiroz. Idalberto, porém, declarou que não soube detalhes da operação policial nem participou dela. “A partir daí (da apresentação), eu não tomei nenhum tipo de conhecimento”, disse. O sargento destacou que jamais fez grampos. Idalberto também revelou, sem saber de detalhes, que indicou a Protógenes Queiroz um outro militar: o sargento da reserva fluminense chamado apenas de Rodopiano, contratado posteriormente a Francisco Ambrósio.
Para o presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), ficou claro, com os depoimentos, que não houve uma “participação formal dos quadros da Aeronáutica” na Operação Satiagraha. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) afirmou que os dois depoimentos em nada contribuíram para as investigações. “Não se pode ser cético e achar que uma pessoa que se aposentou há 10 anos do governo tenha apenas separado documentos.”
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