Cópia do inquérito da Polícia Federal sobre suposta corrupção nos Correios, entregue na última sexta-feira à CPI, inclui o depoimento de um empresário que aponta a participação do ex-araponga do SNI José Fortuna Santos Neves na intermediação de audiências entre empresários e a Diretoria de Tecnologia dos Correios, controlada pelo PT.
A PF entregou à CPI cerca de 400 páginas, mas nenhum relatório conclusivo do delegado que conduz o inquérito, Luis Flávio Zampronha. Em depoimento à PF no dia 10, o empresário Clauzer Esteves Dziedziensky, 37, disse que foi recebido pela Diretoria de Tecnologia depois da intermediação de Fortuna.
Dziedziensky estava interessado em “oferecer à ECT [Empresa de Correios e Telégrafos] um produto de gerenciamento dos links das agências da ECT”. “Sem intervenção de Fortuna Neves, [o empresário] acredita ser impossível chegar ao Diretor de Tecnologia da ECT”, declarou Dziedziensky.
Não fica claro, no depoimento e nos documentos enviados à CPI, se o empresário obteve sucesso no negócio oferecido aos Correios. O empresário tem estreito relacionamento com Fortuna. Eles se tornaram sócios no fim de 2004 -após Fortuna ter marcado a audiência nos Correios- na empresa de consultoria Atrium, registrada em nome de um filho de Fortuna, e dividiu com ele o escritório da empresa, primeiro no Brasília Shopping, depois no edifício Varig, ambos em Brasília.
Araponga do SNI até meados da década de 80 e hoje capitão aposentado da PM de Minas Gerais, Fortuna teve seu nome envolvido no escândalo dos Correios a partir de um discurso feito pelo deputado Roberto Jefferson na Câmara.
Ele atribuiu a Fortuna parte da responsabilidade pela gravação do vídeo que flagrou suposta propina nos Correios e deflagrou uma investigação contra o PTB.
Em seu discurso e em declarações posteriores à imprensa, Jefferson afirmava que o PT estaria sendo poupado nas investigações sobre os Correios.
A Diretoria de Tecnologia dos Correios era ocupada, no início do escândalo, pelo servidor de carreira Eduardo Medeiros de Morais, uma indicação do PT.
Com os outros seis diretores, ele foi destituído do cargo após Jefferson ter ampliado suas denúncias contra o PT e o governo. Medeiros continua na empresa, como “administrador postal”.
À PF, Dziedziensky disse que conheceu Fortuna pela indicação de outro representante comercial. “[A pessoa] indicou Fortuna como uma pessoa hábil a negociar um contato junto à Diretoria da ECT”, disse. O sócio oficial de Dziedziensky e filho de Fortuna, Marcelo Campos Neves, 33, revelou que a Atrium representa diversas empresas que têm interesses ou negócios nos Correios, como a Siemens, a Intermec, Packeteer e Mandic.
Marcelo contou ter um estreito relacionamento com o PTB. Ocupou um cargo na segunda secretaria da Câmara, então dirigida por Leopoldo Bessone (MG). Depois foi trabalhar com Nelson Trad (ex-PTB-MS) e dali seguiu para o gabinete de Nilton Capixaba (PTB-RO) -isso antes de trabalhar com Severino Cavalcanti.
Outro lado: ECT não comenta suposto elo entre diretor e Fortuna
A assessoria de comunicação dos Correios informou ontem que o ex-diretor de Tecnologia da empresa, Eduardo Medeiros, disse que não se manifestará à imprensa sobre as investigações em andamento.
A assessoria afirmou que não comentaria as declarações prestadas à Polícia Federal pelo empresário Clauzer Esteves Dziedziensky, que apontou suposta intermediação do ex-araponga do SNI José Fortuna Neves para marcar audiências naquela diretoria.
Medeiros foi procurado por telefone, mas não foi localizado. Ele é servidor dos Correios há 25 anos.
Em seu depoimento prestado à PF no último dia 16, Fortuna afirmou que não teve nenhum envolvimento com a gravação de vídeo que flagrou o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho supostamente recebendo propina.
O ex-araponga afirma que não conhece o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) nem Arlindo Gerardo Molina Gonçalves. Procurado ontem à noite, o advogado de Fortuna não foi localizado.
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