Fonte: Agência Fenapef
Devido ao temor de se divulgar episódios relacionados ao suicídio, sob o risco de se incentivar ainda mais este tipo de comportamento, hoje os policiais federais são reféns de um problema que não é enfrentado. Afinal, a atual gestão do diretor-geral já acumula 18 tragédias semelhantes, e nada é feito para iniciar uma real campanha de valorização da vida do policial.
É hora de enfrentar as tragédias com coragem e mudar a história!
MAIS UMA TRAGÉDIA NA PF
Nesta última terça-feira, 28, um agente de polícia federal tentou ceifar a própria vida em Belo Horizonte, dentro da Delegacia de Migração, setor que fornece os passaportes e atende aos estrangeiros, localizado no Shopping Anchieta, na zona sul da capital.
O servidor teve o suporte quase imediato de colegas, e foi socorrido a tempo pelo SAMU, que se encontrava próximo e deu prévias orientações pelo telefone, como manter a cabeça mais elevada do que o corpo, para evitar a asfixia pelo sangue.
Apesar do quadro ainda grave, atualmente este guerreiro não corre risco de morte e se encontra no CTI do pronto-socorro João XXIII, no centro. E o prognóstico ainda é uma série de cirurgias, que vão precisar reconstituir algumas estruturas da face.
Por ser muito querido pelos colegas, e considerado um profissional extremamente honesto, dedicado e exemplar pai de família, a movimentação foi intensa no hospital, em solidariedade aos familiares que passam por um momento de provação e receberam de todos os policiais federais presentes o compromisso de apoio para quaisquer necessidades.
É hora de mostrar a verdade, para combatermos as causas da omissão e inércia desta gestão nas questões psicológicas que afetam os policiais federais, e principalmente estender a mão para os demais colegas que hoje enfrentam problemas psíquicos e precisam de um apoio amigo. Afinal, a administração, as chefias, os colegas e os familiares devem estar preparados para darmos um basta em tais episódios. Chega!
MOMENTO EMBLEMÁTICO I
Ao contrário do que foi inicialmente veiculado na imprensa, esse dedicado policial estava armado com duas pistolas e quatro carregadores, e não houve nenhum acidente. E durante o socorro, impactou a visão da camiseta preta com os dizeres “CRISE NA PF”, que não conseguiram ser encobertas pelo sangue derramado.
Um dia antes do ocorrido, na última segunda-feira, ele foi absolvido em um Processo Administrativo Disciplinar, e na manhã da terça enviou uma mensagem a alguns familiares, dizendo que os amava e que se desculpava pelo que ia fazer.
Após a tentativa de suicídio, caído no chão, o policial foi prontamente socorrido por outros dois agentes federais. E ainda consciente, ele tentou dar mais um disparo com a outra arma, que foi retirada por um dos socorristas.
HISTÓRICO RECENTE
Este policial federal é elogiado pelos colegas por conta de sua dedicação, e nos últimos 15 anos, pela capacidade demonstrada na análise de crimes previdenciários complexos. Porém, um episódio com indícios de assédio moral marcou sua trajetória profissional.
Em 2013, este servidor participou de uma equipe de agentes federais da Deleprev/SR/MG que desenvolveu métodos inovadores de investigação e conseguiu desvendar o modus operandi utilizado por uma quadrilha especializada em crimes previdenciários.
Com prejuízos milionários e repercussões em outros estados, o relatório produzido pelos agentes federais foi entregue ao delegado que deveria, a partir das provas produzidas, formalizar os pedidos de prisão e possibilitar os encaminhamentos necessários para novas investigações.
Porém, algo inesperado ocorreu. Houve um pedido de prisão equivocado e as conclusões da equipe de investigação não foram instrumentalizadas, como se o relatório sequer tivesse sido lido corretamente.
Indignado, o policial federal se comunicou diretamente com o juiz com quem já havia se relacionado em investigações passadas sobre crimes previdenciários, pois era evidente o prejuízo para o INSS a não abertura de novas investigações, com indícios já levantados.
REMOÇÃO E HUMILHAÇÃO
Esta atitude do policial federal foi vista como uma insubordinação ao sistema de “chefias de terno” hoje existente na Polícia Federal, onde ocorre a apropriação intelectual do trabalho desenvolvido por investigadores subordinados, e existe uma crise sistêmica de autoridade, pois as chefias não são líderes, e os mecanismos de interação funcional dependem de um sistema de emissão de ordens de missão policial.
Portanto, como forma de retaliação ao seu comportamento de buscar a verdade e a justiça, foi aberto um processo administrativo disciplinar para investigar sua conduta, e este policial federal especializado, dedicado e honesto foi removido para um setor burocrático, numa unidade externa à superintendência regional, para atender estrangeiros.
Segundo relatos dos familiares no pronto-socorro, este aguerrido policial federal sofria com essa desmoralização profissional, com essa injustiça, e disseram “a PF é a vida dele”.
E certamente, a poucos meses de aposentar, como encarar essa “violência institucional” depois de anos e anos de dedicação, muitas vezes colocando o ofício policial antes da família.
CONVOCAÇÃO DA FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS FEDERAIS
A função policial, por natureza, é estressante, e as estatísticas comprovam a alta incidência de distúrbios psíquicos nos organismos policiais. Porém, esta peculiaridade da função policial exige que a gestão dos órgãos policiais invista num ambiente de trabalho humanizado, que promova uma estrutura que harmonize e previna os conflitos e, principalmente, impeça o assédio moral, ou seja, a desmoralização profissional do servidor.
A Federação Nacional dos Policiais Federais, nesse momento crítico, define como diretrizes fundamentais e emergenciais, para uma agenda positiva junto à gestão e todos os profissionais vinculados:
1 – Sugerimos a realização de atos públicos pacíficos de confraternização que marcarão o início da campanha de valorização da vida do policial federal. Sugerimos a presença de personalidades religiosas/espirituais para cultos ecumênicos.
2 – O assédio moral deve ser combatido em todos os níveis. Não há mais espaço para se tolerar a desmoralização profissional, como forma de assédio moral e humilhação, mecanismo de retaliação, em sentido contrário aos direitos e garantias fundamentais previstas na nossa Constituição Federal.
3 – Todo servidor deve compartilhar a responsabilidade de amparar e estender a mão ao colega que apresentar indícios de depressão ou outros distúrbios psíquicos, incluídos os chefes e gestores, que devem evitar as redistribuições, remoções, jornadas irregulares ou viagens para locais inóspitos como forma de retaliação covarde e ilegal. O gestor deve conhecer seus subordinados, saber suas áreas de interesse e se esforçar para lotar o servidor nas áreas de maior afinidade, justamente para ele produzir mais para nossa sociedade.
4 – Em todas as superintendências regionais e no edifício-sede, deve ser iniciada uma agenda franca junto à gestão da Polícia Federal, como forma de humanização dos ambientes de trabalho, com propostas de modernização da estrutura e protocolos funcionais, para combater a polarização das chefias somente em delegados e a politização constante das questões administrativas (criar chefias para todos os cargos, otimizar os núcleos operacionais e de análise, permitir a capacitação gerencial de todos, respeitar o trabalho exercido por todos com a devida formalização, nomenclatura própria e juntada aos procedimentos, etc).
5 – E, emergencialmente, devem ser envidados esforços para que a Portaria Interministerial 02/2010 – MJ-SDH, e a Instrução Normativa que há anos criaram o sistema de atendimento biopsicossocial sejam cumpridas. Também não há mais espaço em nosso nível de inteligência e necessidade para a desculpa de que “o pedido de concurso público não foi atendido”. Afinal, a citada IN prevê a presença de estruturas multidisciplinares de atendimento em todas as superintendências regionais.
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