Luís Antônio de Araújo Boudens, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), esteve na bancada do Pânico na Rádio e comentou a recente redução na equipe designada para a força-tarefa da Operação Lava Jato e a contingência de 44% do orçamento previsto para 2017. Este é o primeiro corte expressivo no efetivo das investigações e ocorre sob a administração de Michel Temer (PMDB).
“A Lava Jato está ameaçada. Uma hora ela vai acabar, tem um limite de operacionalidade. Essa desconfiguração do formato de força-tarefa imediatamente vai burocratizar a investigação. Hoje os relatórios produzidos vão direto para o Ministério Público, que analisa e oferece denúncia”, disse. “O maior crime que poderia ocorrer é colocar a Lava Jato na nossa estrutura atual, que não resolve nada (…). Vamos vê-la se afundar em burocracia”, completou.
Boudens explicou que quem determinou essa mudança foi a própria Superintendência da Polícia, mas que existe a suspeita de governistas ameaçados pelas investigações terem orquestrado os cortes. “Quem determinou essa mudança foi a própria gestão da polícia. Houve a ‘canetada’. O que estamos avaliando é se houve pressão externa”, afirmou.
Desmilitarização da PM e legalização das drogas: discussões necessárias
Durante sua participação na bancada, Boudens comentou também a alarmante situação das polícias brasileiras e revelou que defende uma ampla mudança na estrutura da segurança pública – incluindo as discussões da desmilitarização da Polícia Militar e da legalização das drogas.
“Temos várias investigações paradas na PF por causa do nosso modelo arcaico. Usamos o modelo que Portugal trouxe e nem Portugal usa mais! É isso que estamos discutindo, uma mudança nas estruturas policiais. Temos que discutir a desmilitarização, o Brasil tem medo da polícia. Temos que discutir a distorção salarial. A polícia que te atende não está na estrutura que vai investigar. Quando a pessoa é furtada ela nem liga, vai embora, não chama a polícia”, disse.
“Não preparamos nossas estruturas para a democracia de 1988. A legalização de drogas vai ter que ser discutida. Se liberasse hoje, o país viveria um caos. Teria que ter fiscalização da vigilância sanitária – que não fiscaliza direito nem a carne e o leite. Mas temos que questionar, sim. Existem bons argumentos para isso. Nós não temos posição única na polícia, mas acho que o país precisa pensar sobre tudo”, completou, citando ainda a discussão sobre legalização do porte de armas.
Falta de eficiência em prevenção e investigação
O convidado falou por fim sobre a descrença da população nas instituições policiais, que, segundo ele, vem mais uma vez da burocratização do processo investigativo. Quando o indivíduo é furtado, por exemplo, liga para o 190 e espera algum policial disponível aparecer. Em seguida, precisa fazer entrevista e preencher o BO. É encaminhado então para uma delegacia – para no local começar “tudo do zero”.
“Existe um conceito moderno de ‘polícia completa’. Em todo país moderno é assim. Não pode existir economia de estrutura. Temos um mundo de atividade na PF e precisamos de mais gente! Tem gente de uma área trabalhando em outra, não pode”, disse.
Para exemplificar, comparou a Polícia Federal brasileira ao FBI (Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) . Em nossa PF, há 12 mil federais ativos e 4 mil inativos. No FBI, por sua vez, apenas a área de investigação possui 32 mil profissionais.
“Existem grupos que estão na gestão e não querem mudar, eles se sentem ofendidos. No FBI também tem uma estrutura justa, você cresce de acordo com sua capacitação. Não é que nem aqui que você entra como delegado e já chefia um setor”, concluiu.
A polêmica da pausa na emissão dos passaportes, a fragilidade do Brasil no controle das suas fronteiras, a corrupção existente dentro da própria PF e os altos índices de suicídios de policiais também foram discutidos durante a tarde. Confira a íntegra no vídeo!
Fonte: Rádio Jovem Pan
Comments are closed.