A realidade de quem deve defender a sociedade mas está doente, precisando de ajuda
Setembro é o mês de conscientização e prevenção ao suicídio, um tema muito delicado, que por muito tempo, aliás por décadas, foi jogado para debaixo do tapete. E, infelizmente, vem batendo na porta de cada vez mais famílias de policiais. Obviamente, o suicídio que é tema tão extremo, não tem apenas uma motivação. Mas o que liga a maioria desses casos de suicídios nas nossas polícias? Por que o número é proporcionalmente muito maior do que na nossa sociedade? É fato que os policiais são expostos a um alto nível de violência cotidiana. E também a níveis de estresse bem maiores que o de grande parte da população. Mas não podemos deixar de observar que o ambiente de trabalho interno, com uma padronização organizacional de desvios do que seriam os princípios de hierarquia e disciplina, atrelados a um “psicoterror” incidem na ideação e tentativa de suicídio.
Na Polícia Federal foi aplicada uma pesquisa que começa a descortinar essa pressão. Ela apontou que 48% (n=143) dos policiais apresentaram desamino quanto ao futuro, que é um dos indicadores do potencial suicida. Desses, 47 expressaram que já tiveram ideia de se matar, mas não as executariam e 2 policiais deixaram explicito o sentimento de que gostariam de se matar. A pesquisa também detectou que 49% dos policiais federais manifestaram sintomas de depressão. Os resultados encontrados na pesquisa sugerem um sinal de alerta no número de ocorrências de suicídio que é alto dentro da Polícia Federal. As pesquisadoras afirmam também, que dentro dessa perspectiva que “em todas as pesquisas sobre consequências do assédio moral no ambiente de trabalho, a violência psicológica funciona como um propulsor de doenças psicofísicas, sendo o suicídio uma das consequências mais trágicas do processo de agressão, não descartando a possibilidade da existência de possíveis homicídios”.
POSSÍVEIS CAUSAS DO ADOECIMENTO PSICOLÓGICO APONTADAS
“Os resultados apresentam um alto índice no sentimento de desvalorização pessoal e profissional 83%, seguido do sentimento de indignação 74%. Deve ser dada especial atenção nos percentuais registrados na emoção raiva 46%, no sentimento de inutilidade 39% e na emoção medo 18%, quando correlacionados aos resultados do inventário de depressão 49%, escala de desesperança 58%, pessimismo 48%, agregando aos resultados, 65% dos pesquisados que já foram afastados do trabalho, por motivos médicos 52%, psiquiátrico 23% e médico e psiquiátrico 20%. Registra-se ainda nesse contexto, 21% com ideação suicida, quatro (4) sujeitos assinalaram já ter tentado suicídio, outros quatro (4) sinalizaram o desejo de cometer homicídio e durante o processo de preenchimento do protocolo… Todos os resultados apontam para a existência de assédio moral e terror psicológico dentro da instituição”.
Recente pesquisa do NISP – Novas Ideias e Segurança Pública – https://www.nispbr.org/ demonstra que a realidade da Polícia Federal é também refletida nas demais corporações policiais:
Você já teve vontade repentina de cometer algum ato extremo (disparar arma fora de situação de combate, agressão ou suicídio?): 60,4% responderam que sim.
Você acredita que a estrutura da carreira policial de sua instituição e sua relação com superiores é prejudicial para sua saúde mental? 75,9% responderam que sim.
ANÁLISE COMPARADA INTERNACIONAL
É importante trazermos a análise da lavra dos professores Wagner Soares de Lima da UFPE e Patricia
Soares de Lima da UFAL (confira no gráfico):
É crucial deixar claro que, se queremos uma segurança pública eficiente, esta tem que estar minimamente estruturada e seus integrantes sadios e motivados. Uma estrutura que contribui, direta ou indiretamente, para suicídios e fomento ao assédio institucional, não tem condições de fornecer a segurança pública que a população brasileira quer e merece. O problema está aí. Claro. Estudado. Classificado. Cabe aplicarmos as soluções para cuidarmos dos homens e mulheres que exercem a profissão policial. Para que eles possam exercê-la, porque já é deveras estressante e de risco, sem importunação interna, nas dependências do seu órgão.
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