Advogado do publicitário diz que conversas foram interpretadas fora de contexto e que não iria comentar as deduções da polícia
Interceptações telefônicas feitas durante a Operação Avalanche, que prendeu o publicitário Marcos Valério há uma semana, confirmam, segundo a Polícia Federal, a participação dele numa intensa negociação que tinha como objetivo a abertura de um inquérito falso que prejudicasse dois fiscais da Fazenda paulista.
Marcos Valério, que é réu no mensalão, foi preso ao lado de outras oito pessoas, entre advogados e policiais, sob a suspeita de ter forjado um inquérito contra dois fiscais que multaram a Cervejaria Petrópolis em R$ 104 milhões. Para a PF, o publicitário foi contratado pela empresa para criar fatos que desmoralizassem os agentes.
Marcos Valério nega e diz que foi contratado pela cervejaria para ajudá-la a encontrar um terreno
Para a PF, Marcos Valério “encomendou” o inquérito, auxiliado pelo advogado Pereira e pela sócia dele, Eloá Velloso.
“Dinamite”
Segundo a transcrição das conversas interceptadas, as quais a Folha teve acesso, Marcos Valério e Pereira falam, em 13 de junho, sobre os “convites” que “estavam para sair”.
“Agora é dinamite!”, diz o advogado. Horas depois, Pereira telefona para um dos policiais e cobra o “convite pra festa”. Para a polícia, não há dúvidas de que a palavra “convite” significa a intimação dos dois fiscais.
O “convite” não sai e as conversas revelam nervosismo. “Essa portaria não marcou interrogatório porra nenhuma”, afirma o advogado à sócia no dia 3 de julho, referindo-se ao documento de abertura do inquérito contra os agentes fiscais, que não fixou a data em que seriam ouvidos.
Na mesma conversa, a advogada lê a íntegra da portaria -documento que seria restrito à PF. “Marcos não gostou, não?”, ela pergunta.
Em 17 de julho, Eloá liga para Pereira e diz: “Foi marcado para o dia 29 de julho. Um às 15h e o outro às 15h30.” Os interrogatórios dos fiscais efetivamente foram feitos nesse dia.
Abatidos
“Os passarinhos, como é que eles ficaram? Muito abatidos?”, pergunta Pereira a um dos policiais dias depois de os dois fiscais da Fazenda terem sido ouvidos no falso inquérito.
Após o interrogatório dos agentes que multaram a cervejaria, o tema das conversas entre os investigados muda. Passam a discutir como conseguir a divulgação do inquérito na imprensa. “Se a notícia não sair, eles não receberão”, afirma um dos policiais.
Os advogados voltam a se falar, agora sobre um novo problema. Um jornalista que recebeu cópia do inquérito viu que uma empresa atribuída a um dos fiscais na Argentina pertence, na verdade, a um homônimo. “Fala com ele que isso é um detalhe”, diz Pereira.
Após a interceptação de um diálogo entre Marcos Valério e Pereira, em agosto, a polícia conseguiu apreender R$ 1 milhão em dinheiro que estava com o advogado e seria distribuído entre os policiais.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse ontem que “frases interpretadas fora do contexto sempre são infelizes”. “Eu não vou comentar dedução da Polícia Federal”. Para ele, não há nenhum diálogo que comprometa seu cliente pois, simplesmente, ele não participou do inquérito dos fiscais.
Comments are closed.