Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Estado da Bahia (Sindipol/BA), Rejane Peres Teixeira, foi “homenageada” com a instauração de um procedimento administrativo disciplinar (PAD), por ordem do superintendente regional da PF naquele estado, o delegado José Maria Fonseca.
A presidente do Sindipol/BA é a única mulher que ocupa cargo de presidente e uma das poucas representantes do sexo feminino nas diretorias dos 27 sindicatos estaduais de policiais federais e também desta Federação, para assumir nossa mea culpa. Contra ela pairam as acusações de descumprir uma ordem de missão policial e também de faltar ao serviço.
Certamente, não é a primeira vez que a presidente do Sindipol/BA incomoda o dirigente de plantão. Nem será a última. Independência, firmeza, coragem, transparência, postura crítica e defesa de interesses públicos e coletivos, quase sempre, não combinam com sentimentos de insegurança, idiossincrasias, vaidades, melindres e caprichos pessoais daqueles que, por vezes, se acham detentores de poderes ilimitados. Nem com a subserviência e o silêncio, sempre convenientes, assim como os salamaleques de súditos que os cercam.
No despotismo e na tirania desses dirigentes, sob a máscara do rigor disciplinar, revelam-se arroubos autoritários, que ainda persistem como herança cultural na instituição. Sabe-se que, durante a ditadura militar, a Polícia Federal funcionou como braço operacional do regime, colaborando com a censura, perseguição, tortura e prisão de líderes sindicais, políticos e estudantis e até de artistas, que durante o período da repressão política foram tratados como “subversivos”. O atual desrespeito aos sindicalistas da própria casa talvez tenha raízes nessas passagens, de tristes lembranças.
Além de antidemocrática e inconstitucional, a tentativa de enquadrar disciplinarmente, intimidar, censurar ou restringir a atuação de legítimos representantes dos servidores, ignorando-se o exercício de suas atividades sindicais, é a atitude arbitrária e covarde. Mas não é privilégio do chefe da PF baiana e tem sido prática freqüente de outros delegados dirigentes da Polícia Federal.
Atos dissimulados que atentam contra a liberdade sindical são mais infames que a perseguição declarada e assumida pelos ditadores. Lutar contra o inimigo conhecido, com certeza, é mais fácil que encarar adversários invisíveis.
É certo que o preconceito contra os sindicalistas na PF não é uma questão de gênero e não atinge apenas a presidente do Sindipol/BA. Mas não é absurdo cogitar que o machismo que ainda se vê no tratamento cotidiano dispensado por alguns chefes a subordinadas também se estenda à postura contra a sindicalista Rejane.
Por mera coincidência, é emblemático que na semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, um século após as primeiras manifestações de trabalhadoras de várias partes do mundo, que ousaram protestar por melhores condições de trabalho, contra a discriminação e a violência, ainda hoje, dirigentes da Polícia Federal se sintam à vontade para perseguir uma policial e sindicalista.
As mulheres (e também os homens) que não têm medo de lutar por conquistas e direitos e nem se curvam diante de arbitrariedades, com certeza, estão orgulhosos de serem representados por uma colega da estirpe e da coragem da presidente do Sindipol/BA. A ela, a nossa singela homenagem.
E para lembrar Martin Luther King, conhecido “subversivo”, ativista dos direitos civis e da liberdade: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.”
Fonte: Agência Fenapef
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