Laudo antecipado pela perícia de Goiânia aponta que o pedreiro morreu por asfixia. Segundo a polícia, ele usou tiras de pano para se enforcar na cela onde estava preso desde o último dia 11
Diego Amorim
O laudo conclusivo do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia que será divulgado em até 15 dias indicará que Ademar de Jesus Silva morreu por asfixia provocada por enforcamento. A necrópsia do corpo do pedreiro de 40 anos que confessou ter matado seis adolescentes em Luziânia (GO) começou no fim da tarde de domingo, dia em que ele foi encontrado morto, e terminou ontem, perto das 12h. O médico-legista Paulo Afonso Mendes de Campos, que coordenou o trabalho, adiantou o resultado do exame ao Correio e disse não ter dúvidas de que Ademar se matou.
Campos contou que o corpo do pedreiro não apresenta lesões recentes, hematomas ou qualquer sinal de que tenha sido agredido ou mesmo imobilizado. Também não há cortes nem perfurações. “Os sinais são de um clássico enforcamento. Não tenho dúvida quanto à causa do óbito”, disse. O laudo final só será divulgado após o resultado dos exames de sangue e de alguns órgãos. “Vamos aguardar, mas meu laudo está pronto: ele morreu por asfixia provocada por enforcamento”, reforçou o legista.
De acordo com Campos, o sangue encontrado na camiseta branca que Ademar usava no dia em que foi encontrado morto é “normal” em casos de enforcamento. “Os vasos sanguíneos foram comprimidos, as mucosas ficaram inchadas e o sangue saiu pelo nariz e pela boca”, explicou. Ainda segundo o responsável pela necrópsia de Ademar, o tempo entre o momento em que ele teria se enforcado até a morte durou entre dois e quatro minutos. “Primeiro, perdeu a consciência, depois o corpo desabou e ele morreu”, detalhou.
Ademar foi encontrado sentado em um banco de concreto da cela, de não mais que 60cm de altura, onde estava preso desde o último dia 11. A posição, contou o legista, reforça o que costumam chamar de “enforcamento incompleto”. “Provavelmente, ele pulou do banco. Mas tem gente que suicida-se sem altura, até mesmo se amarrando no trinco de uma porta”, comentou. Campos disse que Ademar pesava entre 60kg e 70kg e tinha entre 1,65m e 1,70 de altura.
Exames detalhados do sangue e das vísceras do corpo de Ademar indicarão se ele ingeriu bebida alcoólica, medicamentos ou qualquer outro tipo de entorpecente antes de ter sido encontrado morto. “O laudo dirá se ele estava consciente momentos antes da morte”, explicou Rejane da Silva Sena Barcelos, gerente do Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues, da Superintendência de Polícia Tecnocientífica de Goiás.
“Bem-feito”
Peritos também indicarão se a tira usada por Ademar para se matar, conforme sustenta a polícia, é do mesmo material do forro do colchão de espuma que ficava na cela de 6m². A tira foi feita com três tranças. “O cordão é artesanal e foi muito bem-feito. Ele teve tempo e oportunidade para fazer isso”, comentou Rejane. A porta da cela do assassino dos garotos de Luziânia não apresenta sinais de arrombamento.
Presos de uma cela vizinha à de Ademar contaram que ouviram ele “rasgando pano” na noite do último sábado. O forro do colchão traz rasgos de ponta a ponta. A tira possuía cerca de 1,5m de comprimento. Precisou ser cortada em três partes para ser desenrolada do pescoço de Ademar. “A perícia também dirá se foi usado algum instrumento para cortar o pano”, completou a gerente do Instituto de Criminalística.
A tira não arrebentou com o provável enforcamento de Ademar. O perito Jair Alves da Silva não estranha. Ao mostrar à reportagem os pedaços da corda, ele esticou com força as pontas e defendeu que, da forma como feita, ela seria, sim, capaz de suportar o peso de um homem do porte de Ademar.
TENTATIVA ANTERIOR
» Na entrevista em que Ademar Jesus da Silva concedeu a jornalistas no dia em que foi apresentado pela polícia, no último dia 12, como assassino confesso dos adolescentes de Luziânia (GO), ele contou que já havia tentado se matar na cadeia, em Brasília, quando cumpriu pouco mais de quatro anos de pena por ter abusado sexualmente de duas crianças. Na ocasião, segundo a versão dele, usou uma camiseta.
NOTA DE ESCLARECIMENTO SINDIPOL/DF
Ao contrário de matérias públicadas anteriormente sobre o fato, o retrato falado que levou ao reconhecimento do maníaco de Luiziania foi feito por um Papiloscopista da Polícia Federal e não por peritos de GO. O policial entrevistou uma vítima que desconfiou da proposta do pedreiro, que fugiu para residência de um parente, próxima ao local dos crimes. Após a confecção do laudo chegou-se a foto do suspeito, com cavanhaque e cabelos grisalhos. Dois meses depois, foi apresentada uma foto de um indivíduo careca e sem cavanhaque, que foi trabalhada pelo papiloscopista e apresentada a vítima levando ao reconhecimento e posterior prisão do criminoso.
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