Em entrevista ao Correio do Brasil, o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), delegado da Polícia Federal e ex-secretário de Segurança Pública do Rio, afirmou que tanto a queda registrada na produtividade policial – 20,2% menos prisões e redução de 33,56% na apreensão de armas e de 13,87% na de drogas – quanto o aumento das milícias no atual governo do Estado desmentem o sucesso atribuído à política de segurança em vigor.
– A redução da produtividade é decorrente da ausência de uma política de estímulo aos bons policiais, da descontinuidade do processo de afastamento dos maus policiais e da falta de planejamento no combate ao crime organizado – afirmou Marcelo Itagiba.
Segundo ele, o governo atual não traçou uma política de segurança pública e ainda interrompeu o trabalho que resultara nos recordes, batidos na gestão anterior, de 64 mil prisões e 45 mil apreensões de armas.
– Por não ter uma política definida, o governo deixa a população à mercê do aumento dos índices de criminalidade, como o roubo a ônibus, que cresceu 53,91%, e a transeuntes, que aumentou em 183,1%, em função da diminuição do número de policiais no patrulhamento ostensivo.
De acordo com Itagiba, o governo do Estado tenta afastar a atenção da população do aumento da criminalidade, criando as Unidades Pacificadoras de Polícia (UPPs).
– O aumento dos crimes fora da capital, conforme demonstram os índices do Instituto de Segurança Pública, são decorrentes da diminuição dos efetivos da Polícia Militar na Baixada e no interior, por conta da decisão equivocada do governo de concentrar grandes contingentes de policiais nas UPPs instaladas na capital, como se os demais cidadãos do Estado não necessitassem de segurança –, criticou Itagiba.
Operação Navalha na Carne
Itagiba também fez duras críticas ao que chamou de enfraquecimento do combate aos maus policiais, que na sua gestão levou o nome de Operação Navalha na Carne.
– Estimulei os bons policiais e joguei duro com a banda-podre. Na minha gestão foram presos 859 policiais e 307 foram excluídos de suas corporações; mais um recorde. Aliás, as investigações feitas, a partir de 2005, pela Polícia Federal contra o então chefe de Polícia Civil e que resultaram, agora em 2010, numa condenação por vários crimes, foi iniciada por iniciativa minha junto à PF –, relembrou Itagiba, ex-secretário de Segurança Pública, numa referência a Álvaro Lins, que recentemente recebeu pena de 28 anos de prisão por vários crimes.
Itagiba determinou investigação de Álvaro Lins
A determinação ocorreu em meados de 2005, quando Itagiba recebeu uma carta anônima apontando vínculo criminoso entre policiais supostamente ligados ao então chefe de Polícia Civil e as máfias de caça-níqueis.
– Ordenei que a Subsecretaria de Inteligência apurasse a procedência daquela denúncia. A investigação preliminar reuniu indícios do envolvimento dos policiais civis. Diante da necessidade de aprofundamento das apurações e, também, da possibilidade de surgirem indícios que levassem ao envolvimento do chefe da Polícia Civil, decidi que as informações preliminares fossem encaminhadas pela minha Subsecretaria de Inteligência à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro –, detalhou Itagiba.
De acordo com Itagiba, o encaminhamento à PF foi uma medida que teve o objetivo de fazer com que as investigações avançassem sem o risco de vazamento ou tentativas de obstrução, pois o investigado era o Chefe da Polícia Civil, ao qual todos os investigadores eram subordinados.
– Tomei esta decisão porque, além de deter a competência para abrir inquéritos destinados a desvendar crimes de âmbito federal, que, ao que tudo indicava, estariam embutidos naquela atividade criminosa dos caça níqueis, como contrabando de peças, sonegação fiscal e crimes contra a ordem tributária, a PF investigaria com isenção as denúncias contra policiais civis, o que, por óbvio, dificilmente aconteceria se a incumbência fosse dada à Corregedoria de Polícia Civil, subordinada ao gabinete do chefe de Polícia Civil, ao qual, naquele momento, eram considerados supostamente ligados os policiais identificados –, detalhou Itagiba.
Ele ainda acrescentou:
– A mão foi pesada com todos os maus policiais; do tira ao Chefe de Polícia Civil.
Milícias cresceram no governo Cabral
Ao mesmo tempo, no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, rememorou Itagiba, outras medidas continuaram a ser tomadas, inclusive com o objetivo de investigar, identificar e prender, também, policiais militares envolvidos com as máfias.
– Para isso, por determinação minha, foi aberto um inquérito na Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) que, após longo trabalho, conseguiu que a Justiça expedisse mandados de prisão, todos eles cumpridos, contra 17 policiais militares e 12 civis indiciados por envolvimento com as máfias de caça-níqueis.
Itagiba também criticou o aumento das milícias no atual governo
– Após a minha saída do cargo de secretário de Segurança, foi registrado aumento de áreas dominadas por milícias. De acordo com um relatório confidencial produzido pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança, encaminhado à CPI das Milícias e vazado à imprensa, aumentou no atual governo de 42 para 171 comunidades submetidas às quadrilhas de milicianos –, alfinetou o delegado da Polícia Federal.
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