O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) aceitou ontem fazer uma acareação com o deputado José Dirceu (PT-SP) e com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. “A hora que o senhor marcar”, afirmou o deputado, em resposta a um questionamento do senador Jeferson Péres (PDT-AM).
O ex-presidente do PTB manteve a ofensiva no seu depoimento à CPI dos Correios. Comparou o suposto esquema de cooptação de parlamentares no governo Luiz Inácio Lula da Silva ao esquema de corrupção montado por PC Farias no governo Fernando Collor. “O PC é pinto perto do que estamos vendo. Marcos Valério é a versão moderna e macaqueada do PC”, comentou. Ele afirmou que o PT rasgou as bandeiras na ética e da moralidade, que defendeu ao longo que 25 anos de história. “O PT chafurdou no mesmo esquema de financiamento de campanha dos outros, se sujou como os outros”, comentou o deputado.
Questionado pelos integrantes da CPI, Jefferson afirmou que o “mensalão” teria influenciado na escolha do presidente da Câmara, no início do ano. “O mensalão influenciou porque desagregou a relação dos partidos da base com o partido do governo”, disse. O desentendimento teria ocorrido porque parte dos deputados teria trocado de partido em troca da mesada financiada pelo governo. Mas salientou que Severino Cavalcanti (PP-PE) também venceu a eleição porque o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), “era um candidato ruim. É um homem honrado, mas não dava bom-dia a ninguém”.
O ex-presidente do PTB confirmou que recebeu R$ 4 milhões do PT para financiar campanhas do partido em 2004, mas não quis informar o destino do dinheiro, “para não punir inocentes”. E fez um alerta: cerca de R$ 1,2 milhão seria dinheiro retirado no Banco Rural, mas a maior parte, cerca de R$ 2,8 milhões, teria como origem o Banco do Brasil. Lembrou que o Ministério Público já identificou saques de R$ 21 milhões, em dinheiro vivo, feitos por Valério no Banco Rural. Até agora, porém, não foram identificados saques no BB.
Segundo Jefferson, os acertos para a distribuição de cargos nas estatais e órgãos da administração direta eram feitos numa sala no quarto andar do Palácio do Planalto. As negociações eram feitas com o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e com o presidente do partido, José Genoino. Depois, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, “batia o martelo”. No momento mais tenso do depoimento, Jefferson trocou insultos com o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que procurou desqualificar o seu depoimento, lembrando que ele foi da troca de choque do governo Collor , que teria sido “o governo mais corrupto da história do país”. Na resposta, o ex-presidente do PTB lembrou que o PT do Rio Grande do Sul foi financiado por bicheiros. “O PTB não tem Carlinhos Cachoeiras nem Waldomiros”, disse Jefferson, para depois chamar Fontana de “mentiroso” e “corrupto”.
Financiamento público
Na abertura do seu depoimento, Jefferson defendeu pontos de uma reforma política e atacou o financiamento público de campanha. “É um escândalo”, disse o deputado. Ele afirmou que o financiamento vai custar R$ 1 bilhão por eleição, inicialmente, mas depois vai passar para R$ 2 bilhões e chegar a R$ 3 bilhões, porque quem aprova o Orçamento da União são os parlamentares, justamente quem será beneficiado pelo repasse de dinheiro público. Disse que o uso desses recursos em campanhas eleitorais vai fechar “vagas nas escolas” e tirar “prato de comida de pobre”.
Acrescentou que o financiamento público não vai eliminar o caixa dois. Ele afirmou que todos os partidos hoje usam esse esquema. Disse que uma campanha de deputado não custa menos do que R$ 1 milhão, mas a média das declarações à Justiça Eleitoral é de R$ 100 mil. “Virgem aqui, só o Psol (Partido Socialismo e Liberdade), mas também só até as próximas eleições”, ironizou. Também criticou a figura dos vices: “O vice é o coisa nenhuma, na expectativa de ser alguma coisa. É um conspirador, quer o lugar do titular”. Defendeu a redução da Câmara em pelo menos 80 cadeiras e o número de senadores.
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