Da Redação
Preso em agosto passado, o megatraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía depôs ontem na 6ª Vara Criminal Federal, em São Paulo, e fez uma proposta inusitada ao juiz Fausto de Sanctis: devolver parte da fortuna angariada com a venda de drogas em troca de benefícios. Abadía saiu frustrado da audiência, que durou cerca de três horas. O juiz não aceitou o acordo, que também incluía a delação de três criminosos ligados ao tráfico.
Os defensores do traficante, que responde inquérito por lavagem de dinheiro, ofereceram US$ 35 milhões à Justiça brasileira. A idéia era que Abadía levasse algumas vantagens no processo, como a extinção das acusações contra sua mulher, Yéssica Paola Roja Morales, contadora do grupo do ex-chefe do Cartel do Vale do Norte. Além de lavagem de dinheiro, ela é acusada de formação de quadrilha.
Abadía também pretendia que a Justiça Federal facilitasse sua extradição para os Estados Unidos, sem precisar cumprir pena no Brasil. No país norte-americano, o traficante responde a vários crimes, como assassinato de policiais e corrupção. Lá, acredita, haveria mais facilidade de negociar a redução da pena, em troca de dinheiro e informações sobre o tráfico de drogas. Até a extradição, ele pretendia ser transferido para a Penitenciária de Itaí, a 301km de São Paulo. Atualmente, ele está preso no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande (MS).
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público, a procuradora Thamea Danelon Valiengo, que analisou o pedido de acordo, não se opôs às sugestões da defesa. Ela teria, inclusive, lamentado a decisão do juiz, alegando que o dinheiro oferecido por Abadía poderia ter destino social e que os pedidos feitos por ele não ofereceriam prejuízo.
Delação premiada
Em outubro passado, o juiz Sanctis já havia indeferido um acordo de delação premiada proposto pelos advogados de Abadía. A defesa alegou que o réu tinha colaborado com as investigações desde a fase inquisitiva, prestando esclarecimentos sobre os crimes praticados no Brasil. Para o juíz, porém, o acusado não admitiu integralmente a denúncia nem reconheceu que lavava dinheiro do narcotráfico no país.
Dono de uma fortuna calculada em US$ 1,8 bilhão, segundo o Departamento de Estado Americano, Abadía foi preso no dia 7 de agosto na Operação Farrapos, da Polícia Federal. Ele morava em um condomínio de luxo em Aldeia da Serra, na Grande São Paulo. Tinha uma vida tranqüila, segundo a PF, mas pouco falava com seus vizinhos e só andava de boné e óculos escuros quando passeava de bicicleta pelas ruas do local. No entanto, ele era um dos traficantes mais procurados pelos Estados Unidos, que pagariam uma recompensa de US$ 5 milhões pela sua captura, dinheiro que foi rejeitado pela Polícia Federal.
Avião
Ontem, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, recebeu o avião modelo P-31 Navajo que pertenceu a Abadía. A aeronave será usada no combate à violência no estado, principalmente na transferência de bandidos.
Beltrame conseguiu na Justiça a autorização para utilizar o avião, que estava no Aeroporto Santos Dummont. A aeronave, avaliada em R$ 400 mil, ficará com o governo fluminense pelo menos até o fim do processo contra o criminoso. O avião pode carregar até seis passageiros e dois tripulantes, atinge velocidade de 399 km/h e altitude de quase 5,5 km. O P-31 tem cerca de 10m de comprimento e 4m de altura. A autonomia de vôo é de cinco horas e 30 minutos.
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