A ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico confirmou ontem, em depoimento de cerca de seis horas à CPI dos Correios, que a empresa pagava em média US$ 250 mil por mês à multinacional de investigações Kroll enquanto durou o contrato -cerca de 30 meses- para investigar a concorrente Telecom Italia .
A Polícia Federal tem comprovantes de que a BrT efetuou pagamentos à Kroll no valor total que chegaria a R$ 30 milhões. Cico negou, no entanto, que as apurações tenham envolvido políticos brasileiros. Confirmou apenas ter recebido informações de que o então presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb estaria no mesmo hotel que representantes da Telecom Italia, em Portugal.
Reportagem da Folha de 2004 mostrou que a investigação teria atingido funcionários do primeiro escalão do governo Lula, como o então ministro Luiz Gushiken e Casseb antes e depois do cargo.
A PF está investigando o caso e, em abril, indiciou Cico e o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, sob a acusação de formação de quadrilha, revelação de segredo e corrupção ativa.
A executiva também negou que tenha tentado evitar o acesso da nova administração da BrT ao contrato com a multinacional, como mostrou reportagem da Folha ontem. Em e-mail do presidente da Kroll, Simon Freakley, para Cico, em 3 de outubro, a empresa diz não poder atender a pedido da executiva de não enviar informações aos novos gestores da BrT, caso solicitem.
Cico afirmou que apenas mandou uma carta “pedindo discrição na divulgação de documentos”, por sugestão de seus advogados. “Se a direção da Brasil Telecom entrar em contato com meus advogados, podemos esclarecer rapidamente o assunto.”
Agências publicitárias
Sobre os contratos da BrT com as agências DNA e SMPB, de Marcos Valério, Cico disse que foram por serviços específicos prestados, que somaram R$ 4,479 milhões entre 2003 e 2005.
Afirmou, no entanto, não ter havido interferência política ou de Dantas no caso. Ela deixou a BrT após o Opportunity ter sido destituído do controle da empresa depois de uma briga de oito meses na Justiça com seus sócios Citigroup e fundos de pensão. De acordo com Cico, o Citigroup sabia do contrato com a Kroll.
No depoimento, ela também criticou a Anatel, dizendo que o órgão “várias vezes agiu em favor de empresa privada contra interesses da concessionária”. A Anatel informou que não se pronunciaria sobre as declarações.
Cico reclamou ainda do que considerou demora do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em conceder um empréstimo de R$ 1,27 bilhão à empresa, mas negou que tenha procurado o governo para tentar influência política no caso. “A não-liberação em tempo rápido criou muita estranheza”, disse, lembrando que a espera foi de mais de 700 dias.
Ao ser questionada sobre a negociação da BrT com a Gamecorp -empresa que tem Fábio, um dos filhos do presidente Lula, como sócio-, Cico confirmou que houve interesse inicial. Segundo ela, a BrT decidiu suspender a negociação porque “não a julgava interessante comercialmente”.
Agenda
Integrantes da CPI se reúnem hoje às 11h30 com o procurador-geral da República para pedir o bloqueio dos bens da Skymaster, que estaria enviando dinheiro para o exterior após o início das apurações. A CPI pediu ao Banco Central dados sobre operações de câmbio da empresa. O relatório parcial será apresentado na terça.
Ex-funcionária do então tesoureiro do PT Delúbio Soares, Solange Pereira não compareceu ontem para depor na CPI. A PF não soube dizer se ela recebeu a notificação. A CPI investiga se Solange pagou empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT a Lula. Ela sacou R$ 100 mil, em 29 de março de 2004, de uma das contas de Valério. No dia seguinte foi quitada a última parcela da dívida, no valor de R$ 5,4 mil.
Em versão contestada pela CPI, o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, disse ter pago a dívida.
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