Fonte: O Globo
Região vai ganhar duas UPPs. Complexo da Maré fica para o primeiro trimestre de 2014
Leonardo Barros, Emanuel Alencar e Simone Candida
Numa ação pacífica que durou 50 minutos, sem que um único tiro fosse disparado, as forças de segurança ocuparam na manhã de ontem 12 favelas do Complexo do Lins de Vasconcelos e o Morro Camarista Méier, na Zona Norte. A região, que vinha sofrendo nos últimos meses com cracolândias e com a ação de bandidos refrigiados de áreas pacificadas, receberá, em um mês, duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) — a 35º e a 36º do programa, que completa cinco anos em dezembro. O governador Sérgio Cabral anunciou que o Complexo da Mare será pacificado no primeiro trimestre do ano que vem.
Uma das sedes será instalada em um contêiner, numa praça do Morro da Cachoeirinha, onde bandeiras do Brasil e do Estado do Rio foram hasteadas ontem. A outra ficará num prédio já ocupado por um destacamento do 3e BPM (Méier), no Camarista Méier. Promessa de mais tranquilidade para 150 mil moradores dos bairros do entorno. Com essas novas UPPs, o número de beneficiados pelo programa chegará a 1,65 milhão de pessoas.
— Apenas nestas favelas, são 15 mil pessoas diretamente beneficiadas. Também estamos garantindo mais segurança aos usuários da Grajaú-Jacarepaguá, que constantemente era fechada por causa dos tiroteios, É mais um passo tia direção da paz — comemorou o governador.
A ocupação contou com 1.141 agentes das polícias militar e civil, da Marinha, do Exército e da Polícia Rodoviária Federal. A última resistência dos traficantes do Lins ocorreu na terça-feira passada, quando houve confronto com a PM. Apenas um homem foi preso: havia drogas em sua casa. Em toda a operação, a PM apreendeu duas pistolas, um luneta de fuzil, carregadores, munição, duas prensas de drogas e 118 frascos de loló, além de crack e maconha, em quantidades não informadas. A Guarda MuniciPal conseguiu recuperar um veículo roubado
na Grajaú-Jacarepaguá. SM A operação começou a ser preparada em 20
de setembro. Dessa data até ontem, a polícia prendeu 197 pessoas e apreendeu 80 menores de idade. Também foram recolhidas 74 armas (incluindo 14 fuzis), 14 granadas e 75 rádios de comunicação.
A única ocorrência ficou por conta de um blindado da Marinha que, após problema mecânico, derrubou um abrigo de ônibus, ferindo um policial. Ele foi atendido no Hospital Naval Marcílio Dias.
Após a ocupação do Complexo do Lins, a PM intensificou as ações no Morro da Covanca, em Jacarepaguá Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o 18« BPM já ocupa aquela favela há dez dias para evitar que os bandidos do Lins se mudem para lá. Ele não quis adiantar qual é a próxima UPP a ser implantada.
O secretário afirmou que, com a ação de ontem, a polícia inaugurou um “elemento novo”: a presença de 75 PMs da UPP que começaram a fazer abordagens na região antes da ocupação e continuarão por lá.
— São policiais que passaram por duas semanas de treinamento, no sentido de irem aos poucos se apresentando para aquela comunidade, fazendo identificações e, se possível, algumas buscas — explicou Beltrame.
No domingo de sol, a violência ficou nas picha-ções em muros que criticavam a polícia de pacificação — prontamente apagadas por funcionários da Comlurb. Crianças se divertiram com os cavalos do Regimento de Polícia Montada (RPMont).
— A população vinha pedindo a UPP. Contamos com a colaboração dos moradores para que denunciem esconderijos do tráfico e depósitos de drogas nas comunidades — pediu o tenente-coronel Cláudio Costa, porta-voz da PM.
Moradores, porém, adotaram a discrição para falar da ocupação. Poucos se identificavam, explicando que era por prudência.
— Espero que, com a pacificação, melhorem a coleta de lixo e o saneamento. Desculpe, mas não posso me identificar. Eles (traficantes) mandaram um recado claro. Não é má educação, você entende, não é? — disse uma moradora da Cachoeirinha.
PM É MORTO NA CIDADE DE DEUS
À noite, na Cidade de Deus, favela pacificada desde 2009, o soldado Brazuna foi morto a tiros quando sua equipe fazia um patrulhamento para checar uma denúncia sobre um carro roubado. Os policiais estavam detendo dois homens quando um bandido numa moto atirou. Brazuna, há cinco anos na PM, usava colete à prova de balas.
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