Riomar Trindade
Da equipe do Correio
Celso Junior/AE |
Alencar: “A força da PF está mantida. É preciso que as coisas que desrespeitam a lei tenham fim. Sem a lei não tem salvação” |
Ele aproveitou para elogiar a Operação Xeque-Mate, apesar do indiciamento de seu irmão. “Eu penso que a Polícia Federal está cumprindo papel extraordinário no Brasil. E vai continuar investigando todas as pessoas que tiverem uma determinação judicial, em função da quebra de sigilo telefônico. Precisamos garantir é que haja justiça, seriedade e apuração”, afirmou.
Em outro momento da entrevista, Lula voltou a defender a ação policial. “Eu agradeço a Deus o Brasil ter uma Polícia Federal com a competência da nossa. Eu sei que às vezes incomoda, tem gente que fica chateado, gente que fica molestado, mas esse é o papel da polícia. Quem andar corretamente, não tem chance de ser investigado. Quem pisar na bola, vai ser investigado.” O presidente também disse ser necessário uma discussão ampla sobre bingos no Congresso.
Ele informou que ainda não conversou com Vavá. Como ontem partiu da Índia para a Alemanha, o presidente deverá manter contato com o irmão apenas hoje. Lula disse que havia conversado sobre o assunto com o ministro da Justiça, Tarso Genro. “O Tarso só disse que tinha feito a operação, que ia ter investigação, que tinha investigado a casa do meu irmão. Eu acho que isso é normal”, destacou.
Ontem, o presidente disse não acreditar que a investigação da PF sobre seu irmão Vavá possa acirrar o clima político em Brasília. Para ele, a oposição tem o direito de fazer o que quiser porque ao presidente da República cabe “apenas garantir que haja investigação, a mais profunda possível”.
Morelli
Lula afirmou também que não apenas conhece Dario Morelli Filho, que ontem perdeu o cargo de assessor técnico de diretoria da Companhia de Saneamento de Diadema (SP), como é o padrinho do filho de Morelli, que foi detido durante a operação. Disse que não sabia da prisão dele, e que apenas havia sido informado por Tarso Genro de que Morelli constava da lista de suspeitos. “Se foi preso, ele será investigado, interrogado, e depois haverá um veredicto”, afirmou.
O presidente da República em exercício, José Alencar, defendeu Genival. “Sinceramente, conheço o Vavá. Não acredito que esteja envolvido com coisas desse tipo”, disse Alencar, referindo-se à máfia dos caça-níqueis. Alencar lembrou, no entanto, que a determinação de Lula é que todos os brasileiros sejam tratados de forma igual. “A força da Polícia Federal de investigar está mantida. É preciso que as coisas que desrespeitam a lei tenham fim. Sem a lei não tem salvação”, afirmou.
Na opinião de Tarso Genro, a ação da PF na casa de Vavá ocorreu dentro da lei. “No processo republicano não existe irmão, parente, graduação. Cumpre-se mandado e foi cumprido rigorosamente e dentro da lei. Isso é um cumprimento que prestigia o estado democrático de direito e prestigia o próprio presidente da República”, disse.
No Congresso, cautela até na oposição Da Redação
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que cabe ao irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Genival Inácio da Silva, o Vavá, responder por eventuais irregularidades que cometer. “Se Vavá tem problema, ele responde pelo problema. Ele é um cidadão”, afirmou o presidente da Câmara. Chinaglia considerou que o fato de um irmão do presidente da República ter sido envolvido na operação da PF atrai a mídia e a oposição ao governo de Lula. “Não conheço o fato, mas é previsível que haja disputa política em torno do tema. É um atrativo para a imprensa e para a oposição”, afirmou. Ele defendeu, no entanto, respeito com a figura do presidente da República. “Quando, na crise passada, deputados e senadores agiram de forma desrespeitosa, a resposta veio nas urnas. Sou contra generalizações indevidas. Não acho prudente generalizar nenhuma situação, principalmente quando se trata da família do presidente”, disse. Apesar do receio de Chinaglia, alguns dos principais líderes da oposição adotaram cautela sobre o envolvimento de Vavá. A motivação para a calma pouco usual é política. Os partidos adversários do governo querem evitar que o fato seja usado por Lula como um trunfo. “O PSDB está vendo isso tudo com muito cuidado, pois o Lula pode querer usar a investigação do irmão para se vangloriar e dizer que, na sua administração, a PF é isenta. Nós não temos informação suficiente sobre o envolvimento do Vavá que nos permita acusá-lo”, disse o líder tucano na Câmara, Antônio Carlos Pannunzio (SP). “Habilidade” “De repente, o presidente fatura ao dizer que no governo dele até o próprio irmão é investigado”, ponderou o líder do Democratas (ex-PFL), deputado Onyx Lorenzoni (RS). “Lula é muito hábil na arte de enrolar. Neste caso familiar, ele diz acreditar na inocência do irmão, mas também sai em defesa da investigação. Só que há muitas perguntas que devem ser respondidas, que não podem passar em branco. Isso não pode ser abafado, como o presidente fez em outras situações”, defendeu Lorenzoni. No mesmo tom, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) destacou: “Tem que fazer uma investigação séria sem criar uma situação oportunista de crucificar previamente o presidente”. Já o senador Jefferson Péres (PDT-AM) preferiu parabenizar a PF. “Isso deixa claro que a PF não vai poupar ninguém, nem mesmo os mais próximos ao presidente da República. Nota 10 para a PF, apesar de eventuais excessos.” Ele também defendeu Lula ao destacar que “se prenderem meu pai, eu tenho alguma coisa a ver com isso? Na minha opinião, esse caso do irmão não atinge o Lula, a não ser que o irmão dele tenha sido favorecido (pelo Executivo). Aí, mudaria de figura”, disse. O vice-líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) também saiu em defesa da Operação Xeque-Mate. Para ele, a investigação sobre Vavá mostra que a PF está agindo de forma isenta, sem favorecer nenhum partido. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, afirmou que a Operação Xeque-Mate foi “muito bom para a democracia; é bom saber que o irmão da mais alta autoridade da República teve sua casa vistoriada por ordem judicial”, disse. Para Britto, o fato demonstra ainda que não está havendo interferência do presidente nas investigações da PF. |
Repercussão “Eu conheço meu irmão há 61 anos, sou capaz de duvidar que meu irmão tenha algum problema” Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República “No processo republicano não existe irmão, parente, graduação. Cumpre-se mandado” Tarso Genro, ministro da Justiça “Se Vavá tem problema, ele responde pelo problema. Ele é um cidadão” Deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara “O PSDB está vendo isso tudo com muito cuidado, pois o Lula pode querer usar a investigação do irmão para se vangloriar e dizer que, na sua administração, a PF é isenta” Deputado Antônio Carlos Pannunzio (SP),líder do PSDB “Há muitas perguntas que devem ser respondidas, que não podem passar em branco. Isso não pode ser abafado” Deputado Onyx Lorenzoni (RS), líder do Democratas (ex-PFL) “Esse caso do irmão não atinge o Lula, a não ser que o irmão dele tenha sido favorecido (pelo Executivo). Aí, mudaria de figura” Senador Jefferson Péres (PDT-AM) “É muito bom para a democracia; é bom saber que o irmão da mais alta autoridade da República teve sua casa vistoriada por ordem judicial” Cezar Britto, presidente da OAB |
Revolta de Frei Chico Luiz Carlos Azedo Da equipe do Correio Outro irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o sindicalista José Ferreira da Silva, o Frei Chico, criticou ontem a ação da Polícia Federal na casa do irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá, indiciado pela Polícia Federal por tráfico de influência e exploração de prestígio. “A polícia chegou às seis horas da manhã e saiu depois do meio-dia, não deixou ninguém da família tomar café, nem banho. Revistou até as gavetas de roupa íntima de minha sobrinha e obrigou os vizinhos a servirem de testemunha”, disse. “Se o Lula sabia da ação da Polícia Federal, ficou na dele”, arrematou. Frei Chico foi o responsável pelo ingresso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP), mas teve a carreira de dirigente sindical interrompida porque foi preso em 1975, durante a repressão aos militantes do Partido Comunista Brasileiro em São Paulo. Está revoltado com ação da Polícia Federal: “Não sou contra as investigações, mas não concordo com esses métodos, que atingem toda a família”. Ele admitiu que o irmão conhecia dois dos detidos, mas negou envolvimento de Vavá com atividades ilegais. “Todo dia nós somos procurados por gente pedindo favores, pessoalmente ou por telefone. Uma gravação de um pedido desses não é motivo para tanta violência. Bastava chamar o Vavá na delegacia para prestar depoimento.” |
Comments are closed.