Marcelo Auler
RIO – O policial civil do Rio de Janeiro, Marco Antônio Bretas, acusado pela Procuradoria Geral da República de ser um dos responsáveis pelo repasse de propinas que a máfia dos jogos pagava a policiais civis, militares e federais, recusou-se a prestar depoimento na tarde desta quinta-feira, 31. Bretas e mais três funcionários públicos denunciados no processo da Operação Hurricane (Furacão, em inglês) foram interrogados pela juíza Ana Paula Viera de Carvalho, da 6ª Vara Federal. Documentos encontrados pela Polícia Federal nas buscas e apreensões realizadas em 13 de abril mostraram, como relatou a juíza em um despacho seu, que a máfia dos jogos, pagava mensalmente às três polícias R$ 1.138.000. Segundo a denúncia, a máfia é comandada pelos bicheiros Antônio Petrus Kalil, o Turcão, Aniz Abrahão David, o Anísio da Beija Flor, e Ailton Guimarães Junior, o Capitão Guimarães. O pagamento mensal apareceu em um documento encontrado na casa de Luciano Andrade do Nascimento, o Boca, homem de confiança de Júlio Cérsar Guimarães Sobreira, o sobrinho do Capitão Guimarães, apontado como responsável pelo pagamento de propinas. Em uma das casas de Júlio a polícia recolheu R$ 1.931.099,00 em espécie. Marcos Bretas trabalhava com Júlio, servindo de intermediário entre ele e os policiais, como consta da denúncia. Segundo o relatório do delegado federal Élzio Vicente da Silva, responsável pela investigação, a folha de papel encontrada na casa de Boca revela os “gastos fixos que são destinados a Polícia Civil (R$ 848.600,00) Polícia Militar (R$ 51.500,00), Polícia Federal (R$ 240.000,00), Políticos (R$ 23.000,00), Escritório (R$ 45.000,00), Folha de Pagamento de Funcionários (R$ 61.300,00)”. Há ainda referências a “Prefeit. ( – R$ 60.000,00) e Publi. (R$ 9.000,00)” que o delegado questiona se seriam Prefeitura e Publicidade. Uma outra descoberta da polícia é que a máfia trabalhava com um código próprio para se referir às proprinas pagas a determinadas delegacias. Usavam as letras da palavra “Mosqueiral”, em que cada uma delas correspondia a um número de 1 a zero. Na relação, DH apareceu com a letra “e”, DRE “u” e DAS “us”. Na Polícia DH é Delegacia de Homicídio, DRE, Delegacia de Repressão a Entorpecentes e DAS, Delegacia Anti-seqüestro. Na tabela, a letra “e” corresponde a 6, a letra “u” ao número 5 e o “s” a 3. Estes valores, segundo estudo feito pelos policiais, multiplicados por mil reais corresponderiam ao dinheiro pago. O interrogatório de ontem seria dos policiais denunciados que, por serem funcionários públicos têm, direito à defesda prévia antes do juiz se pronunciar sobre a denúncia. Somente no dia 24 de maio a juíza Ana Paula recebeu a denúncia contra os delegados federais Carlos Pereira da Silve e Susie Pinheiro de Mattos, o agente da Polícia Militar Francisco Martins e o policial civil Marco0s Bretas. Os quatro, que estavam em Brasília, vieram ontem para o Rio. Até o início da noite os depoimentos dos três que falaram não tinham sido liberados. O advogado de Pereira, Pedro Teixeira, denunciou que seu cliente apanhou de policiais civis dentro do presídio da Papuda em Brasília e garantiu que não há provas que os incrimines. “Ele está sofrendo uma antecipação de pena”, garantiu.
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