Fonte: O Globo
SÃO PAULO. Cerca de 60 manifestantes realizaram no início da noite desta quarta-feira um “panelaço” em frente à casa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em São Paulo.
Os manifestantes protestaram contra o fato do ministro ter recebido em audiência que não constava de sua agenda advogados da Odebrecht que desejavam reclamar da conduta da Polícia Federal, comandada por Cardozo, durante a Operação Lava-Jato. Para os manifestantes, a ação poderia atrapalhar a continuidade das investigações sobre corrupção na Petrobras.
Segundo a assessoria do ministro, nem ele nem seus familiares estavam em casa na hora do protesto.
– A nossa bandeira jamais será vermelha – gritavam os manifestantes na calçada, sob barulho de buzinas, panelas e um tambor, mas sem fechar o trânsito.
O ato foi convocado pela página no facebook e por mensagens de whatsapp enviadas pelo movimento “Vem pra rua, Brasil”, ligado a partidos de oposição ao governo federal e autointitulado “supra-partidário”. A agenda do grupo é ampla e incluiu temas como a luta por “ética na política”, “mais eficiência e transparência no gasto público” e a “redução da carga tributária e da burocracia”.
Nesta quarta-feira os manifestantes carregavam cartazes chamando Cardozo de “traidor” e de “ministro da injustiça”. O grupo também queimou uma máscara de Carnaval com o rosto da presidente Dilma Rousseff.
Durante a semana, Cardozo admitiu ter recebido os advogados em seu gabinete e negou ter cometido qualquer ilegalidade. Ele alegou ter havido problemas técnicos na atualização de sua agenda oficial, para explicar a omissão do registro do encontro no site do ministério.
O ministro disse ter recebido duas representações sobre a atuação da PF na operação, mas não quis revelar o teor dos documentos.
Nesta semana, por meio de sua conta no Twitter, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) criticou Cardozo por ter recebido os advogados e insinuou que o objetivo do encontro seria “corromper a polícia”.
“Os que recorrem à política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça. Buscam corrompê-la”, escreveu Barbosa.
O juiz da Operação Lava-Jato, Sérgio Moro, também criticou os encontros de Cardozo com os advogados, em despacho divulgado nesta quarta-feira. Para ele, a prisão de executivos “deve ser discutida nos autos” e não há empecilho para que ele mesmo receba os advogados constituídos para defender as empresas.
“Intolerável, porém, que emissários dos dirigentes presos e das empreiteiras pretendam discutir o processo judicial e as decisões judiciais com autoridades políticas. Mais estranho ainda é que participem desses encontros, a fiar-se nas notícias, políticos e advogados sem procuração nos autos das ações penais”, escreveu Moro.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota em solidariedade a Cardozo, alegando que o diálogo com o ministro seria uma “prerrogativa dos advogados” para “o exercício do amplo direito de defesa”.
“Não é admissível criminalizar o exercício da profissão”, escreveu a diretoria da OAB.
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