Fonte: SINPEF/MG
A Polícia Federal, nossa casa, vive o pior momento da sua história. Nos últimos 10 anos o governo federal desvalorizou maliciosamente a carreira dos agentes, escrivães e papiloscopistas, que hoje recebem a metade das demais carreiras típicas de estado. Não bastasse o sucateamento desses cargos, nos últimos anos ocorre um estrangulamento financeiro premeditado do órgão, sem verbas, sem investimentos, sem reconhecimento, como merecido castigo e necessário controle político de um órgão que incomoda por combater a corrupção e expor a podridão e safadeza daqueles que roubam do povo e são diretamente responsáveis por quem morre de fome ou nas filas de hospitais.
A greve surgiu então como meio legítimo de protesto e reivindicação. E a resposta governamental foi contraditória e imediata, com corte de ponto, falta de diálogo, uso malicioso da imprensa, e finalmente medidas judiciais que inviabilizaram por completo a continuidade da paralisação. E nesse período de pós-greve surgiu um movimento que relembra os atos históricos de desobediência civil, como último recurso de protesto, contra um Governo Federal que tem a cara-de-pau de usar a PF como marketing político, mas incentiva o seu sucateamento como forma disfarçada de controle.
Mas algo inusitado ocorre. O protesto dirigido para o Governo Federal está sendo absorvido por alguns poucos chefes da Polícia Federal, que agindo como opositores magoados num jogo imaginário de forças, não percebem que estão no meio do caminho, estão piorando um quadro que já era horrível, e deveriam simplesmente perceber que a desobediência calcada em Lei é uma forma de protesto pacífica, deve ser respeitada, e não deve ser interpretada de forma pessoal.
A greve falou do elefante-branco, focando o desperdício de recurso público, pois todos os policiais sabem que a PF hoje não dá conta de suas tarefas por falta de modernização e investimentos. Cada servidor sabe que grande parte de suas tarefas são inócuas, pois envolvem o trâmite de investigações que serão arquivadas ou envolvem outras formas de extinções de punibilidade. A desmotivação não é um privilégio daqueles que ganham menos, quando percebemos ótimos profissionais se acomodando em plantões.
A greve também falou de carregar o piano, pois a maioria dos policiais que atua nas investigações se sente desvalorizada e discriminada dentro do órgão. Algo irrefutável. Mas alguns servidores de outros cargos, aparentemente dentro de bolhas ou alheios aos sentimentos do próximo, sentiram-se ofendidos e agora, no pós-greve, através do exercício de cargos de chefia, reforçam demonstrações de poder através de remoções sem interesse público e restrições dos mais diversos direitos, como forma de autoafirmação e vingança por se sentirem ofendidos pelo movimento grevista, fazendo questão de externar sua intenção desprezível para seus subordinados.
Desde o início do movimento paredista o SINPEF/MG mantém um ótimo diálogo com o superintendente regional em Minas Gerais, delegado Sérgio Barbosa Menezes. Mas infelizmente servidores continuam a ser assediados, transferidos, desacatados, preteridos, escalados, e explicitamente recebem de chefes o recado de que estão sofrendo retaliações por conta da greve. Da mesma forma que é impossível um sindicato controlar todos os sindicalizados, sabemos das dificuldades de gerir um órgão que é repleto de servidores com sérios problemas psicológicos e psiquiátricos, muitos deles em funções de comando.
A lista de reclamações dos sindicalizados tem sido documentada há muito tempo junto ao setor jurídico, mas ciente de que é uma tarefa difícil o controle emocional de tantos servidores num momento de crise, e certo de que existe um sentimento comum de humanização do ambiente de trabalho, o SINPEF/MG tem orientado seus sindicalizados sobre a agenda junto à gestão regional no sentido de buscar soluções para a qualidade de vida no trabalho. Como não parabenizar os investimentos em Assistência Social ou priorização de áreas de convivência? Sim, é um voto de confiança.
Porém, nesta última semana ocorreu um ERRO CRASSO no planejamento de uma operação, e o servidor responsável pela coordenação da missão policial se esqueceu de antecipar junto ao Ministério da Justiça a autorização para o pagamento das diárias. Neste caso, a responsabilidade pela falta de pagamento antecipado das diárias é EXCLUSIVA daquele que NÃO CUMPRIU A LEI, e conseguiu desestabilizar a relação entre o sindicato e a gestão regional. Certamente aqueles que nas últimas semanas semeiam a discórdia comemoram.
O SINPEF/MG nunca deixará de apostar no diálogo. E também age de forma impessoal, pois representa aproximadamente 800 pais e mães de família que dedicam suas vidas à PF, e hoje vivenciam uma fase de superação, que colocará à prova a solidariedade em relação aos colegas que continuam a sofrer retaliações individualizadas por poucos chefes.
O SINPEF/MG agradece à iniciativa do superintendente regional em Minas Gerais, delegado Sérgio Barbosa Menezes, que se esforçou para que as diárias fossem pagas antecipadamente. Mas no dia da operação, de forma democrática, os servidores escalados para a missão se reuniram na sede do sindicato. E foi através do voto que tais servidores se solidarizaram àqueles que passam por dificuldades financeiras, e seriam obrigados a pagar antecipadamente as diárias do hotel, um absurdo, sob a ordem daquele mesmo coordenador que não cumpriu suas obrigações. Se não fosse a atitude do superintendente de tentar sanar o episódio, até hoje as diárias não estariam lançadas.
Certamente cada policial fez uma escolha de vida. Ninguém se sente realizado ou feliz por se negar a combater o crime, no respaldo de direitos geralmente colocados em segundo plano e culturalmente subrelevados. Quantos policiais já colocaram suas famílias em segundo plano, viraram noites, arcaram com despesas de serviço, para hoje serem tratados como lixo por um governo federal que quer ver a PF no esgoto. É preciso entender que o protesto é necessário, independente do cargo, e o último e único recurso é mostrar que os policiais estão desmotivados por causa do descaso do Governo Federal.
Quem é o destinatário final deste movimento? O Governo Federal. Sem dúvida todos os policiais federais devem apoiar o atual movimento, pois a queda nas estatísticas vai mostrar para a sociedade que é preciso valorizar os policiais federais. Atritos entre cargos vão existir? É lógico que sim, pois existem até dentro dos cargos, faz parte da natureza humana. Cabe a quem tem o poder de decisão agir de forma impessoal, sobretudo legal, com inteligência emocional para perceber que o contexto é muito complexo, pois, no final das contas, estamos todos dentro do mesmo barco. E afinal, “os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades” (Epicuro).
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