Ugo Braga
Da equipe do Correio
O Ministério Público Federal no Mato Grosso do Sul decidiu poupar Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na acusação de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. Em vez de denunciá-lo à Justiça pelos crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, mandou o caso à Subseção Judiciária de São Bernardo do Campo (SP). Na prática, Vavá continuará sendo investigado pela Polícia Federal, mas desta vez pela superintendência paulista da corporação, não mais pelo ramo sul-mato-grossense.
Vavá havia se tornado alvo da Operação Xeque-Mate da PF por ter sido flagrado em dezenas de conversas telefônicas com o ex-deputado paranaense Nilton Cezar Servo, acusado de chefiar uma das quadrilhas da máfia dos caça-níqueis. Nelas, o irmão do presidente promete influenciar órgãos públicos dos poderes Executivo e Judiciário em favor de Servo. E cobra por isso. “Ô, arruma dois pau pra eu (sic)”, pede, numa das escutas feitas com autorização da Justiça no telefone celular do suposto chefão. A PF já o tinha indiciado.
Em nota oficial, o Ministério Público forneceu breve explicação por não o ter denunciado. “(…) Não há nos autos elementos que indiquem a sua participação (de Vavá) em qualquer uma das quadrilhas denunciadas. Tem-se, ainda, que não há informações suficientes nos autos sobre quem seriam os possíveis beneficiários do ‘lobby’ que teria sido feito por Genival Inácio da Silva, nem foram esclarecidas as circunstâncias e os fatos concretos a que se referiam os diálogos entabulados”.
O texto distribuído pelos procuradores joga luz sobre uma das muitas deficiências do inquérito concluído pelo delegado Alexandre Custódio, da Polícia Federal. Ele interceptou 16 diálogos de Vavá, gravou a voz do primogênito dos Inácio da Silva em cristalinas negociações sobre obras do governo do irmão, sobre sentenças em processos do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e coisas afins. Mas não aprofundou um milímetro daquilo que lhe caiu na mesa a partir dos grampos.
Quem é?
Um dos beneficiários do lobby de Vavá, por exemplo, seria um empreiteiro amigo de Nilton Cezar Servo. Pelas escutas, dá apenas para identificar o prenome “Acássio”. Pois o delegado indiciou Vavá sem se dar ao trabalho de identificar exatamente quem é Acássio, de qual empresa se trata e qual obra pública seria de seu interesse. Diante da fragilidade da investigação policial, o MP não embarcou e pediu que a PF recolhesse indícios mais consistentes. Há outros fenômenos parecidos.
Dario Morelli Filho, amigo íntimo e compadre do presidente, havia sido indiciado por corrupção ativa, por ter, conforme deixam claro os grampos da PF, pago a dois policiais — um civil e um federal de São Paulo — para lhe fornecer informações sobre fiscalizações na cidade de Ilhabela, no litoral paulista. Lá, funciona a Deck Video Bingo, empresa registrada em nome de Renato Costacurta Prata, mas que os federais acreditam pertencer a uma sociedade oculta entre Servo e Morelli.
Alexandre Custódio, porém, assinou o indiciamento de Morelli por corrupção reproduzindo apenas o apelido e o prenome dos dois policiais — Beto e Douglas. Sequer telefonou nas delegacias civil e federal de São Sebastião (SP) para saber se havia alguém lotado lá que correspondesse a tais chamados. O MP também não embarcou na dele e não denunciou o compadre por corrupção, justamente o crime mais grave que lhe era imputado pela PF. Morelli acabou denunciado apenas por contrabando, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Escapará dos três ao longo do processo, se o juiz receber a denúncia.
O MP denunciou ao todo 39 pessoas envolvidas com a máfia dos caça-níqueis investigadas na Operação Xeque-Mate. Nilton Cezar Servo, que continua preso na Superintendência da PF em Mato Grosso do Sul, foi denunciado por contrabando, formação de quadrilha, corrupção ativa e falsidade ideológica.
Não há informações suficientes nos autos sobre quem seriam os possíveis beneficiários do lobby que teria sido feito por Genival Inácio da Silva |
Polícia goiana prende 100 A Polícia Civil de Goiás apreendeu ontem mil máquinas caça-níqueis e deteve aproximadamente 100 pessoas envolvidas com a exploração de jogos em todo o estado. A Operação Caça-Níquel começou pela manhã, e envolveu 3,4 mil policiais civis que percorreram 246 municípios. Somente em Luziânia, que faz parte do Entorno do Distrito Federal e está localizada a 40 quilômetros de Brasília, foram aprendidas 147 máquinas no centro e na periferia da cidade. As apreensões dos equipamentos e prisões de pessoas foram possíveis porque, na semana passada, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) cassou liminar que permitia a exploração dos caça-níqueis em bares, loterias, lanchonetes, drogarias e em salões de jogos. “Todas as pessoas que estavam explorando as máquinas de caça-níqueis foram autuadas e conduzidas a uma delegacia onde se lavrou a ocorrência”, disse o delegado Josuemar Oliveira. “Agora, numa segunda etapa, vamos identificar os proprietários desses equipamentos e também autuá-los”, anunciou. Após a autuação, todas as pessoas detidas foram liberadas. Porém, responderão a processo por exploração de jogos de azar. |
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