A fila de doleiros na porta da CPI dos Correios vai aumentar. A comissão dispõe de uma lista de pessoas que pode ajudar a desvendar o esquema da remessa de dinheiro ao exterior no qual o PT teria embarcado para lavagem de caixa 2. Aparecem nela nomes de nove doleiros, acusados de transferir milhões de dólares a empresas instaladas em paraísos fiscais. Existe um elo entre essas contas: a Lonton, uma subconta da Beacon Hill, de Nova York, suspeita de ter sido usada no braço internacional do esquema operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A relação dos doleiros foi preparada e encaminhada à CPI dos Correios pelo Ministério Público Federal no início do mês passado. Constam da lista dois personagens já conhecidos nas investigações sobre a existência do suposto mensalão: Haroldo Bicalho e Silva e Paulo Roberto Grapiúna. Os dois doleiros de Belo Horizonte (MG) são suspeitos de movimentar valores no exterior para Marcos Valério.
Camilo Lelis de Assunção e Carlos Maurício Inácio de Souza, ligados à empresa Monte Vista, também de Belo Horizonte, aparecem na listagem do MP. Outro nome é o do uruguaio Rodolfo Diego Imbriani Atanásio, suspeito de remeter dólares de brasileiros a paraísos fiscais. A relação traz também Hélio Renato Laniado (leia matéria ao lado) e Elliot Eskinazi, ambos de São Paulo e ligados a várias contas no exterior que teriam movimentado ilegalmente cerca de US$ 7 milhões. Fecham a lista dois empresários também da capital paulista: Walter Lasserre Limando e Sandor Paes de Figueiredo.
Conforme mostrou o Correio Braziliense na edição de ontem, Sandor Figueiredo é suspeito de ter compartilhado vários negócios com Antônio Oliveira Claramunt — o Toninho Bacelona que deverá prestar depoimento à CPI dos Correios na próxima semana. Dono da Suntur Câmbio e Turismo Ltda., que até 2003 atuava nas cidades de São Paulo e São José dos Campos, Sandor Figueiredo operaria por uma série de empresas instaladas em paraísos fiscais.
Duas delas — a Deal Financial Corporation e a Radial Enterprise —coincidem com a mesma rota feita pelo dinheiro do publicitário Duda Mendonça no exterior antes de chegar ao BankBoston em Miami, nos Estados Unidos. Duda afirmou ter aberto a Dusseldorf nas Bahamas, no Caribe, para receber dinheiro do PT referente a prestação de serviços durante a campanha de 2002.
Vínculos
“Os doleiros listados no documento têm vínculos muito próximos, principalmente na Lonton, a conta no Beacon Hill, e podem colaborar com informações sobre o esquema”, comentou o procurador da República no Paraná Vladimir Aras, um dos responsáveis pelo envio da lista à CPI dos Correios no início do mês passado.
Aras é representante do MPF na força-tarefa do caso Banestado, feita em parceria com a Polícia Federal para apurar remessas ilegais ao exterior. Mais de 60 pessoas foram presas desde o início das investigações. Alguns dos doleiros que aparecem na relação enviada à CPI chegaram a ser presas durante a operação Farol da Colina — desencadeada no final do ano passado para prender os operadores do Banestado.
De Maluf para Duda Da Redação O doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, declarou em depoimento ao Ministério Público e à Polícia Federal que, por ordem de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, transferiu em 1998 US$ 5 milhões para o publicitário Duda Mendonça em uma conta no Citibank de Nova York. Alves afirmou que, segundo Flávio Maluf, o dinheiro se destinava à campanha eleitoral de seu pai, que na época disputava com o tucano Mário Covas o governo de São Paulo. Maluf nega. Segundo Alves, o dinheiro teria sido transferido em parcelas de cerca de US$ 840 mil cada, entre junho e outubro de 1998. O ponto de partida seria a conta Chanani, no banco Safra de Nova York, com destino à conta da Heritage Finance Trust, no Citibank também de Nova York, “com favorecimento final ao publicitário Duda Mendonça”. Constam da base de dados do Safra de Nova York, que teve o sigilo parcial de algumas operações quebrado e enviado à CPI do Banestado, pelo menos duas remessas de US$ 840 mil, oriundas da Chanani e com o perfil semelhante ao descrito pelo doleiro. Ocorreram em 15 de julho e 5 de agosto de 1998. A Heritage movimentou, por meio dos bancos MTB, Safra, Merchants e Banestado, e pela offshore Beacon Hill, cerca de US$ 31 milhões entre 1997 e 2003. O caminho das operações associadas a Duda e Zilmar Fernandes passa por duas contas no BankBoston que pertenceriam ao publicitário e à sua sócia. Semana passada, a PF pediu ao STF a quebra do sigilo das contas que seriam de Duda e Zilmar no BankBoston. Ontem o advogado de Duda esteve na PF para conversar com os delegados responsáveis pela investigação que apura a existência do mensalão. Antônio Maruz afirmou que seu cliente está disposto a colaborar e pretende apresentar espontaneamente seu sigilo bancário e da sócia Zilmar. Admitiu também a repatriação do dinheiro que Duda recebeu no exterior de Marcos Valério, por meio da Dusseldorf. |
Laniado preso em Praga Um dos noves doleiros relacionados na lista do Ministério Público Federal enviada à CPI dos Correios foi preso ontem no aeroporto internacional de Praga, na República Tcheca. Hélio Renato Laniado estava foragido desde 4 de abril, quando teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal de Curitiba. Laniado é acusado por crime de evasão de divisas no caso Banestado. A estimativa é que ele tenha remetido irregularmente ao exterior cerca de US$ 1,2 bilhão. O empresário de São Paulo foi encontrado com o apoio de serviços secretos estrangeiros e com o monitoramento da Polícia Federal e da Interpol/Brasil. Foram acionadas as representações da Interpol em Israel, Holanda, Portugal e também na República Tcheca. Laniado deverá ser extraditado para o Brasil. O Ministério da Justiça ajudará nas negociações para a extradição. Segundo o Ministério Público Federal, entre 1995 e 2002, Laniado — junto com Eliott Eskinazi, Renato Bento Maudonet Junior e Dany Lederman, também denunciados — movimentou dinheiro nas contas Watson, Braza, Best, Wipper, Taos e Durant, nos bancos Banestado de Nova York e Merchants Bank/NY. Em duas dessas contas, foram bloqueados pelos EUA mais de US$ 3,5 milhões. O doleiro utilizava empresas em paraísos fiscais no Caribe e no Uruguai para a transação financeira — o mesmo esquema que o publicitário Duda Mendonça confessou ter recorrido para receber dinheiro do PT. (MR) |
Assessor de Ciro não convence A Polícia Federal convocará os representantes da New Trade, empresa do publicitário Einhart Jácome da Paz, para que expliquem e apresentem comprovantes do dinheiro recebido pela agência com sede em São Paulo das contas de Marcos Valério. A New Trade prestou serviços de publicidade no primeiro turno das eleições de 2002 para o candidato Ciro Gomes, então do PPS. No segundo turno, participou da campanha do presidente Lula. O ex-secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Márcio Lacerda esteve ontem na PF para esclarecer a movimentação financeira envolvendo a New Trade e Marcos Valério, mas não convenceu. Lacerda aparece na lista do empresário mineiro como sacador de R$ 450 mil. Ele disse que não fez qualquer saque, mas apenas acompanhou Einhart numa viagem a Belo Horizonte, quando o apresentou a Marcos Valério, que iria, por orientação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, pagá-lo pelo serviços de publicidade. O advogado Pedro Fonseca, sócio do ex-procurador-geral da República Aristedes Junqueira, esteve também na PF. Os nomes dos dois aparecem na lista de Marcos Valério. Fonseca admitiu ter sacado a soma de R$ 450 mil, que, segundo ele, referia-se a pagamento de serviços de assessoria jurídica prestados por seu escritório ao PT na campanha de 2002. (MR) |
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