A pedido da Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal realizou ontem busca e apreensão de documentos em endereços residenciais e comerciais do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes da Silveira. Seis locais nas cidades de Salvador e São Paulo foram vasculhados. A operação faz parte da investigação da PF que apura a existência do mensalão e do caixa 2 operado pelo Partido dos Trabalhadores e pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Envolvido no suposto esquema de corrupção no governo Lula, Duda Mendonça confessou à CPI dos Correios ter recebido cerca de R$ 10,5 milhões do PT na conta da Dusseldorf — a empresa off shore instalada por ele no paraíso fiscal das Bahamas (Caribe) e que mantém conta no BankBoston, em Miami (Estados Unidos). Pelo menos sete empresas, algumas também com sede em paraísos fiscais, são investigadas pela PF por terem feito os depósitos na conta da Dusseldorf.
Em São Paulo, policiais recolheram documentos, agendas e computadores na sede da Duda Publicidade, no edifício Eagle Point, no bairro de Alphaville. No mesmo prédio, dois andares abaixo, a PF esteve no escritório do Centro de Estratégias Políticas (CEP). Na capital paulista foi também vasculhada a casa de Zilmar, no Morumbi. Na Bahia, policiais estiveram em Camaçari, onde Duda tem chácara, e, em Salvador, num escritório no Farol da Barra e na casa do publicitário.
O material recolhido será trazido para Brasília e será analisado pelos delegados encarregados da investigação e pelos peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC). Também devem ajudar nas investigações os documentos recolhidos pela PF em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro na sexta-feira passada, a pedido da força-tarefa do caso Banestado. Foram visitados endereços de pessoas e empresas suspeitas de envolvimento com as offshores Trade Link Bank, supostamente ligada ao Banco Rural, a Deal Financial Corporation e a Radial Enterprise.
As três empresas aparecem no esquema de transferências ilegais de dinheiro ao exterior no caso Banestado, mas também estão na rota dos R$ 10,5 milhões recebidos por Duda em Miami. Pelo Trade Link Bank, acusado de ter movimentado numa única conta em Nova York cerca de US$ 700 milhões, a Dusseldorf teria recebido mais de US$ 800 mil. A Deal Financial enviou US$ 116 mil, e a Radial Enterprise, US$ 98 mil. Remessas para Duda também foram enviadas por meio do Rural Europa e do Rural International Bank, empresas do Grupo Rural no exterior.
Quebra de sigilo
Além dessas três off shores, a PF apura as ações de outras quatro, que também teriam injetado dinheiro na conta da Dusseldorf. No início do mês passado, a polícia pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo bancário de todas elas, mas não recebeu o aval da Justiça. Os responsáveis pelo caso estudam agora uma estratégia com o Departamento de Recuperação de Ativos (DRCI), do Ministério da Justiça, para coletar os dados no exterior.
Hoje, às 15h, a PF, o Ministério Público e o DRCI têm reunião para definir os termos do pedido de informações bancárias das contas de Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar da Silveira, a ser remetido aos Estados Unidos até sexta-feira. O Brasil mantém acordo de cooperação com os EUA para o fornecimento desses dados quando há suspeita de que a origem do dinheiro é ilícita.
Em outra frente para tentar esclarecer as remessas de dinheiro ao exterior para pagar o publicitário baiano, o empresário Marcos Valério foi convocado para um segundo depoimento ontem na PF — o primeiro ocorreu em 26 de junho. Até às 23h, o interrogatório não havia terminado. Na chegada, às 14h, Valério disse não ter revelações a fazer. “Não tenho novas revelações”, afirmou. Ele também seria interrogado sobre as corretoras Bônus-Banval e Guaranhuns, suspeitas de participação no caixa 2 operado pelo PT.
“Há diretores envolvidos” Lúcio Vaz Da equipe do Correio A próxima reunião administrativa da CPI dos Correios vai analisar os relatórios dos cinco primeiros contratos da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Diretores da estatal e empresários apontados como coniventes ou autores das fraudes serão responsabilizados administrativa e criminalmente, adiantou ontem o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele acrescentou, sem citar nomes, que, “com certeza, há diretores envolvidos nas irregularidades”. Os nomes serão enviados ao Ministério Público da União. A reunião administrativa deve ser realizada na quinta-feira da próxima semana. O feriado de 7 de setembro desmobilizou as CPIs que investigam denúncias de corrupção no governo federal. Hoje, os presidentes e relatores das CPIs dos Correios, Mensalão e dos Bingos terão uma reunião para preparar a pauta da próxima semana. Ontem, Serraglio foi ao Ministério Público Federal para entregar cópias dos dados obtidos com a quebra do sigilo telefônico de empresas do publicitário Marcos Valério, do ex-ministro José Dirceu, dos ex-dirigentes do PT Delúbio Soares e Sílvio Pereira e mais de 20 outras pessoas. A CPI está começando a fazer o cruzamento dos dados, que reúnem cerca de um milhão de ligações. O relator da CPI dos Correios informou ontem que serão apresentados relatórios parciais sobre os contratos, focalizando aspectos mais relevantes, como os aditivos e os ajustes de reequilíbrio. Segundo ele, cláusulas de reequilíbrio econômico só são admitidas quando surge um fato novo e relevante após a assinatura do contrato. Ao todo, estão em análise 38 contratos. Serraglio disse que o Tribunal de Contas da União (TCU) vai prosseguir a investigação, aprofundando a análise de cada contrato. “Nós pegamos o cerne de cada um”, explicou. No primeiro grupo estão contratos feitos com as empresas Skymaster e Novadata. O relator disse que a comissão votará um relatório sobre o funcionamento do esquema financeiro do empresdário Marcos Valério nas eleições para o governo de Minas Gerais em 1998. E pedirá explicações por escrito a todos os parlamentares que teriam recebido recursos de Valério. |
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