O PT admitiu ontem que o depósito de R$ 1 milhão em espécie para a Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, faz parte do esquema de caixa dois montado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares para saldar dívidas das campanhas nas eleições de 2004.
— Não é nada novo. É caixa dois. Tem a ver com as práticas informais da gestão anterior — disse o secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira.
No início da noite, o PT divulgou nota assinada por seu presidente, Ricardo Berzoini, e por Ferreira, que não usa o termo caixa dois, mas admite que os recursos não foram contabilizados. Segundo a nota, a dívida do PT com a Coteminas é de R$ 11 milhões e não R$ 12 milhões, como chegou a dizer o filho de Alencar, Josué Gomes da Silva, presidente da empresa.
“Não há registro, em nossa contabilidade, do pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas em maio deste ano ou de qualquer outro pagamento relativo ao abatimento da referida dívida”, diz a nota (leia íntegra ao lado ).
Ainda segundo a nota, o PT tentará renegociar a dívida. O partido fez uma proposta de parcelar em 48 vezes, recusada pela empresa. Anteontem, o próprio Delúbio confirmara, por meio de seu advogado, que fez diversos pagamentos à Coteminas. O ex-tesoureiro, no entanto, não especificou valores e datas dos repasses. Ferreira negou que tenha procurado Delúbio para tentar esclarecer o assunto:
— Desde quando é preciso falar com alguém para descobrir isso?
Segundo informações da CPI dos Correios e publicadas domingo pela “Folha de S. Paulo”, o depósito foi feito em dinheiro vivo em maio deste ano.
Filho de Alencar deve depor na PF
A Polícia Federal decidiu pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo fiscal e contábil da direção do PT e da Coteminas. Para a PF, a análise dos dados é importante para saber a origem do dinheiro que o PT usou para fazer o pagamento.
Depois do pedido de quebra de sigilo, a PF deverá chamar Josué para depor. A polícia quer saber as circunstâncias do pagamento de R$ 1 milhão. Ao longo das investigações, a polícia tentará descobrir se a suposta dívida de R$ 12 milhões do PT com a empresa de Alencar está devidamente registrada na contabilidade da Coteminas. O partido teria contraído a dívida na compra de camisetas.
A PF tentará ainda identificar se o pagamento foi feito mesmo por Solange Oliveira, ex-secretária de Delúbio. Para a polícia, essas informações são importantes para se chegar a origem do dinheiro. A polícia desconfia que o ex-tesoureiro do PT tenha usado recursos de caixa-dois para começar a quitar o débito do partido com a Coteminas. Mas não sabe se o dinheiro passou pelo valerioduto, como aconteceu com as supostas transferências do partido para parlamentares da base.
— Precisamos saber a origem desse dinheiro — afirmou um dos investigadores do caso.
Caso o STF autorize o acesso à contabilidade do PT e da Coteminas, peritos do Instituto Nacional de Criminalística deverão fazer uma análise dos papéis relativos ao pagamento de R$ 1 milhão. Numa segunda etapa, se houver necessidade, as investigações serão ampliadas para outras transações. A PF também já requereu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) uma cópia do documento em que o órgão, vinculado ao Ministério da Fazenda, informa oficialmente ao Ministério Público Federal a existência do negócio entre o PT e a Coteminas.
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